Eu sempre digo que para se gostar de literatura, deve-se ter um mínimo gosto por história mundial. Claro que nos livros as coisas são quase sempre inéditas e fora do usual, mas o ato de contar e criar histórias é muito mais antigo do que o próprio ato de ler. Então uma coisa que começou com a oratória de passar de gerações para gerações lendas e verdades sobre um povo, foi parar em páginas de livros - com histórias muito fantasiosas ou não.
E onde exatamente eu quero chegar com essa mini aula sobre história? Bem, é que para entender um pouco do que vamos falar hoje, que é sobre Khorasan, a cidade onde se passa a história de Renee Ahdieh, é importante compreender o papel fundamental que a história do povo árabe desempenha sobre esse lugar.
De acordo com o Wikipédia - que é uma péssima enciclopédia digital, mas a mais abrangente - Khorasan era uma região da antiga Pérsia. Olha só o que diz lá:
O Antigo ou Grande Coração (também Corasão e Coraçone; em persa: خراسان بزرگ or خراسان کهن, transliterado como Khorasan em muitas líguas europeias) é uma região histórica da Pérsia. Englobava partes dos atuais Irã, Afeganistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.
Os limites geográficos de Coração, cujo nome em persa Khorasan significa "terra do oeste" ou "terra do sol", sempre foram imprecisos. Na época do Império Sassânida, Coração foi uma das quatro províncias do império e incluía, entre outros, os distritos de Nishapur e Tus (hoje no Irã), Balkh e Herat (hoje no Afeganistão), Merv (no Turcomenistão), e Bucara (no Uzbequistão). Porém, no passado o nome chegou a ser usado para uma área maior no oeste da Pérsia (Irã), que se estendia do rio Oxus (Amu Dária) e Transoxiana ao norte até o Mar Cáspio a oeste, passando pelos desertos do centro do Irã e Bamiyan, no Hindu Kush. Geógrafos árabes estendiam seu território até a antiga Índia, talvez até o vale do rio Indo, no atual Paquistão.
De província sassânida, Coração passou a ser uma província árabe após a conquista da região pela dinastia omíada em 651-652. No século VIII, a região foi o centro de uma exitosa revolta contra os omíadas, liderada por Abu Muslim Khorasani, que foi um passo na conquista do poder do califado pela dinastia abássida. Nos séculos seguintes, Coração foi incorporada a vários reinos da Ásia Central como os safáridas, samânidas, gaznávidas, seljúcidas, corásmios, gúridas e timúridas.
Em 1881, definiram-se as fronteiras de Coração como província a leste do Irã moderno. Essa grande província foi, em 2004, subdividida em três: Coração do Norte, Coração do Sul e Razavi Coração.
Claro que a Pérsia já não é mais um lugar, e quando nos referimos a ela hoje em dia é mais a coisa de ter existido um Império Persa em algum momento entre 550 e 330 a.c. Um grande império com cidades majestosas e que era composto por gente temida por onde quer que fossem. Se você já assistiu 300 deve ter uma noção do que estou falando. Tá, eles não eram os mocinhos da história, mas na real, quem determina o lado mocinho é o lado que está narrando a guerra naquela momento. Como digo, tudo é uma questão de ponto de vista.
E antes, o que era um império conquistador e pomposo, deu lugar a um dos cantos mais temidos do mundo: A região do Irã. Ainda que esse pensamento seja, de modo geral, exagerado em muitos sentidos. Não é aquele mar de metralhadoras e gente morta. Aliás, Teerã, a capital, é muito mais organizada que a maioria das cidades de países de primeiro mundo.
O Império Persa antes de cair conquistou muitas cidades da Ásia, Europa Oriental e um pedaço da África. Infelizmente deu de cara com Alexandre, O Grande, quando quiserem tomar aqueles pedaços. E convenhamos, ninguém batia de frente com ele por ali. Graças a essa mistura de culturas, por conta dos diversos países conquistados, um bocado do que conhecemos hoje em dia tem a influência desses lugares. Por isso as vezes me confundo com o que é de origem árabe, ou indiana, por exemplo.
Com os anos, perda de domínios e diversas outras conquistas e "desconquistas", Khorasan deixou de ser o importante centro que era na época e deu vez a cidades menores, hoje apenas restando lugares pequenos e que aqui, no ocidente, muita gente passa despercebido do fato de existir, ainda que repartida geograficamente, o que garantiria um acesso maior as informações sobre os lugares que ainda existem.
Foi nesse lugar suntuoso, e porque não dizer esquecido, que a autora de A Fúria e a Aurora ambientou sua história, fazendo justiça a questões pequenas da cultura, como também as grandes. A parte do Califado foi bem importante na época, e é retratado de maneira bastante fiel ao que já estudei sobre o assunto. Na verdade, é um livro interessante para inserir os jovens na cultura Persa. Do livro podemos fazer diversos panoramas históricos, literários, geográficos...
História e literatura são ramos do mesmo galho. Duas coisas interligadas que coexistem em espaços próximos o suficiente para se confundirem em alguns momentos. Acho importante entender o contexto histórico de tudo o que se lê, sejam os livros mais antigos e que realmente contavam a história de um povo ou de uma época, ou de livros modernos, com menos da verdade, mas igualmente possíveis de serem analisados num contexto social do autor.