[Papo de Mãe Leitora] Ler antes de dormir? Só se o filho deixar


Essa semana cheguei em casa enfadada. Trabalho perto, mas o sol anda tão quente que o caminho de lá para cá passa a ser uma andada no deserto do Saara (sou exagerada mesmo). E essa temperatura está no Brasil em peso, então não tenho muito porque me explicar. Vocês sabem do que estou falando. Vai dizer que nunca sentiu como se tivesse passado a manhã na praia, sem a parte da cervejinha gelada, depois de um tempo andando no sol?  Aquele peso no corpo me mata! 

O fato é que todos os dias quando chego em casa minha rotina é a mesma: olhar se Rafa comeu, se tirou a farda. o que está fazendo e conferir o que tem na agenda da escola. Só depois consigo almoçar e ainda tiro um cochilo de meia hora, dependendo dos meus afazeres do dia, e quando acordo vou ajeitar o que precisa na casa. 

A noite o processo é: Dar banho nele, fazer a tarefa (o que é um martírio), ajeitar a janta, e então sento para ler alguma coisa. Isso perto de nove horas, quando apago a luz do quarto e o coloco para dormir. Ou tento, porque como dormimos no mesmo quarto, não fico completamente no escuro, já que também tenho minhas funções como blogueira e preciso cumprir minha meta de leitura do dia, que costuma ser 150 páginas. Coisa que só faço nesse horário, a não ser em finais de semana. E o fato de ter o mínimo de luz possível faz com que o sono do menino vá para qualquer lugar, menos o corpinho dele. 

É nessa hora que Rafael decide conversar. Passo o dia querendo saber como foi a manhã dele, mas é na hora que deito para dormir que ele fala sobre o amiguinho que brigou com ele, ou que foi para a cadeira do castigo porque não quis fazer a tarefa. Costuma ser nessa hora também que me diz a lista - enorme - do que ele quer para o natal, e quando ele estará disponível para me ajudar a escrever a carta do Papai Noel. 

Quando dou um basta na conversa e o mando dormir - pela quinta vez - ele chega ao lado da minha cama e diz que escutou um barulho embaixo da cama dele e que está com medo. Então cedo um espaço na minha cama minúscula, e faço carinho até ele ficar molinho. 

É nessa hora que pego o livro, e nisso já passa das onze. Pois justamente ele desperta, pede água e volta a conversar sobre o Minecraft que jogou naquela tarde. Sinceramente? Só tenho vontade de chorar de desespero. 

Então o que faço? Levanto, dou água, desisto de ler, apago a luz e volto o carinho até ele pegar no sono. Só então abro o livro, o que não dura nem meia hora poque costumo desmaiar em cima dele. Acordo no meio da madrugada cheia de dor no braço porque Rafa dormiu em cima, e com os óculos tortos na cara. Levanto, ponho ele de volta na cama, tiro os óculos e vou dormir. 

Claro que nem todos os dias é esse sufoco, mas a maioria deles é. Nos dias difíceis eu me esforço para transferir a meta de leitura para o dia seguinte, juntando duas. Nesses dias eu perco a meia hora de cochilo da tarde e roubo um tempo de trabalho das manhãs para ler. Tenho trabalho a fazer, e filho para criar. No fundo a gente faz o que pode com o que tem, e me acho uma guerreira por isso. 

Não é fácil ser mãe, não é fácil ser mãe solteira e não é fácil ser mãe solteira e blogueira. Duvido alguma de vocês que seja mãe não ter passado por algo parecido ao menos uma vez num mês. E nem me venham dizer que o problema dele é falta de limite. Acredite, ele tem limites, e costuma ser um menino que os segue de modo quase religioso. Mas a hora de dormir é um tormento para ele, e por consequência para mim também. Acredito que o fato de Rafa não ter um "cantinho todo seu", influencie muito na rotina da criança. Mas o que se pode fazer? Tem meses que não consigo nem pagar todas as minhas contas, quem dirá arrumar um canto para nós dois! 

Cada caso é um caso, e todos devem ser entendidos dentro das capacidades de cada mãe e de cada criança. Não é? Pois é! Vou fazendo o que dá, continuando a dormir com os óculos tortos no rosto.