A mente poética de Luiz Fernando Carvalho



Em 2001, quinze anos atrás, eu começava a me apaixonar pelo trabalho do diretor Luiz Fernando Carvalho depois de assistir ao seriado Os Maias, produzido pela Rede Globo. 



Mesmo naquela época, eu ainda uma adolescente, tinha plena consciência de que o que me encantou na série não foi só a história, mas a parte plástica dela. Ou seja, o visual. O uso excelente de luz em conjunto com um detalhista trabalho de direção de arte, que em alguns momentos me fazia pensar na frieza russa envolta em todo o livro de Anna Karenina.

Notem as roupas. Elas não tem aquele ar de Anna Karenina? Acho o figurino dessa série fantástico!
Os Maias, apesar de ser um romance português escrito por Eça de Queiroz, tinha aquele ar melancólico da tragédia, também presente no livro de Tolstoi, e que pessoalmente eu admirava bastante. Foi esse ar negro e belo que me prendeu na série do começo ao fim.


Com quinze anos, e ainda sem ter começado minha vida artística, eu não sabia parar para analisar detalhes sobre o todo da série. Nem me ligava em nome de diretor! Só sabia que todas as vezes em que a luz fria batia no rosto dramático de Simone Spoladore, eu suspirava, Achava aqueles enquadramentos lindos, e me encantei pelo mundo oriundo de Os Maias. 








Mas minha paixão eterna pelo trabalho do diretor veio em 2005, com Hoje é dia de Maria. Na época já tinha começado a fazer teatro - e dar aula de teatro - e tinha olhos mais clínicos para TV e Cinema. E é inegável que Hoje é dia de Maria é um show visual! E ainda melhor, um show visual com ar nordestino.





O chapéu usado com Santoro nesse papel identificada a personalidade do personagem.

Luz e cenários artificiais, e ainda assim belos para representar a seca nordestina. 

Arte em madeira. Típico trabalho nordestino usado como item participativo na série


Luiz Fernando simplesmente pegou as cores, texturas e sons do nordeste e transformou naquele trabalho fantástico. Claro que quando se trata de um trabalho dessa grandiosidade, o diretor é só uma das peças para compor a ideia geral. Contudo, exatamente como Tim Burton, Luiz Fernando tem a própria assinatura nos trabalhos que realiza. Quando se assiste uma novela ou seriado de Luiz Fernando, você sabe que o trabalho é dele. Você sente na fotografia de cena, nas passagens de câmera, na escolha incrível da trilha sonora, e, principalmente, no trabalho de direção de arte. 




Dois anos depois, em 2007, estreia na Tv A Pedra do Reino, uma adaptação da obra incrível de Ariano Suassuna. E, óbvio, que foi igualmente belo. Afinal, é uma caricatura do nordeste, e quando se trata de plastificar o visual nordestino e colocar na Tv, não existe diretor melhor do que Luiz Fernando.





O trabalho de arte de A Pedra do Reino é muito fiel ao retratado no livro. 




Em seguida veio minha segunda paixão dos trabalhos do diretor: Capitu. 
Estreado em 2008, e também uma adaptação de um clássico brasileiro, dessa vez o Dom Casmurro, de Machado de Assis. Capitu veio para me mostrar que não é só com o nordeste que Luiz Fernando consegue fazer arte. A série foi inteira gravada em um teatro! E até as cenas que deveriam ser externas, ganham artifícios teatrais em cena. Novamente a assinatura visual do diretor se faz presente em mais um trabalho de encher os olhos e o coração.

Bentinho em sua agonia saudosa. Esse ator foi feito para esse papel. 

Adoro, adoro, adoro essa cena! Representação do muro da casa de Capitu em desenho no chão. 

Teatro onde foi gravado toda a série. 




Contudo tenho que confessar que comecei a estudar Luiz Fernando só depois de me envolver com cinema. Gravei um clipe de uma banda alguns anos atrás e essa minha entrada na arte das telonas me fez entender essa questão da assinatura de um diretor nos filmes. Percebi que Alfonson Cuaron adora planos sequenciais e que Shaymalan - um dos meus diretores prediletos - sempre coloca artifícios irreais em ideias moralistas para compor suas tramas. E, claro, percebi que era completamente apaixonada pelo trabalho plástico de Luiz Fernando. 
(Sessão de fotos sobre o Lavoura Arcaica)

Olha que fotografia incrível! O irmão precisando de ajuda, e o outro erguendo a mão para ajudar. 

A camera nessa cena dança junto com a atriz. Chega a ser tátil para quem assiste. 

Enquadramento transmitindo o poder do patriarca da família. Luz incrível!



O clipe que gravamos tinha um "que" bucólico, e o diretor Henrique de Oliveira nos fez assistir muitos filmes nacionais com esse ar campestre. Um deles foi o incrível Lavoura Arcaica, também um trabalho de Luiz Fernando. E, gente, aquilo é uma obra prima.

Adapatado de um romance de mesmo nome do escritor Raduam Nassar, Lavoura Arcaica é visualmente e emocionalmente um dos meus filmes prediletos nacionais. A luz e a câmera brincam com quem assiste o filme e tragam para dentro da história com agonia, que é exatamente o sentimento do protagonista, André. 



Luiz Fernando também fez trabalhos em novelas. Uma delas foi Meu Pedacinho de Chão, que era tão colorida que me sentia vendo um desenho dos Ursinhos Carinhosos cheio de algodão doce. Confesso que não morri de amores pela novela, mas era inegável a assinatura do diretor naquele trabalho.



Não parece um desenho dos ursinhos carinhosos?




E para meu completo deleite, esse ano Luiz Fernando vem com o incrível trabalho em Velho Chico. 
Não gosto de novelas, gente. Na verdade não suporto! Mas é só alguém dizer que a direção é dele que assisto só para matar a saudade daquelas passagens de câmera e iluminação que tanto amo. 


Nordeste na veia e com força!
Velho Chico em sua primeira semana já desbancou meu coração. Estou inegavelmente apaixonada pela novela. Assisto analisando cada detalhe, e morrendo de inveja dos outros nordestinos que estão envolvidos nesse projeto fantástico. As alegorias são claras e sensíveis, e as atuações estão no estilo "Luiz Fernando". Como disse, ele tem um jeito próprio de fazer o trabalho. 

Olha a luz dessa cena! *-*








Claro que o diretor também tem trabalhos menos visuais. O currículo de Luiz Fernando é longo e cheio de coisas que certamente o público vai reconhecer. Mas resolvi citar apenas os trabalhos mais visualmente belos, ao meu ver, porque queria mostrar minha admiração a mente loucamente poética desse diretor. 

Não tenho muitas pessoas famosas na vida que faria questão de conhecer, mas certamente Luiz Fernando é uma delas. Um mago da fotografia, o cara ganhou meu coração desde o primeiro contato, e continua com ele até então. 

Fiz uma postagem algum tempo atrás falando das minhas 10 séries prediletas até aquele momento. Três são obras de Luiz Fernando. (10 séries prediletas)

Alguém ai anda assistindo Velho Chico? O que tem achado? 
E vocês já conheciam o trabalho de Luiz Fernando? 
Quero a opinião de vocês!