Resenha de "O Vento da Noite" (Emily Bronte)

Título: O Vento da Noite
Autor: Emily Bronte
Editora: Civilização Brasileira (Cedido em Parceria)
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Sinopse: Único livro no país que reúne exclusivamente a poesia de Emily Brontë, autora de O morro dos ventos uivante, este volume traz 33 poemas da escritora inglesa.Publicado no Brasil originalmente em 1944, como parte da primorosa Coleção Rubáiyát, da editora José Olympio, “O Vento da Noite”, traduzido por Lúcio Cardoso, retorna em edição bilíngue pela Civilização Brasileira.
É uma bela oportunidade de reviver o encontro entre dois grandes nomes na literatura e de observar as especificidades que permeiam os processos de criação do autor e do tradutor – uma relação marcada pela sensibilidade, intimidade, escuta e delicadeza.
A edição é organizada e apresentada por Ésio Macedo Ribeiro, organizador dos Diários, de Lúcio Cardoso. A prestigiada tradutora Denise Bottman assina o texto de orelha.

Não sou a maior leitora de poemas, e isso é um fato. Tive uma dificuldade enorme para absorvê-los durante o ensino médio, e uma dificuldade triplicada na faculdade, quando a teoria literária do curso de Letras me exigia que não só lesse muitos poemas, como os estudasse minunciosamente. Contudo apesar de não ser meu tipo predileto de literatura, hoje posso dizer que os enxergo de uma maneira diferente. Não o bicho de sete cabeças que era aos treze anos, mas com um certo ritmo, como a melodia de uma canção, o que me faz sentir as obras de um jeito inusitado e bem pessoal.

Pedi O Vento da Noite pela autora. Sou completamente apaixonada pelo pessimismo de O Morro dos Ventos Uivantes, ainda que essa seja uma das característica da obra que a maioria das pessoas não curte. Sou pessimista por vida, e me identifiquei demais com a autora por ter transcrito para o papel um sentimento tão bem quanto ela fez naquele livro. E devo dizer que ela conseguiu fazer o mesmo com O Vento da Noite, que é uma coletânea de contos publicado por Charlotte, sua irmã, depois da morte da Emily. 

Na época, a publicação saiu com poemas das três irmãs, e levava a assinatura neutra que mulheres usavam para esconder seu sexo e identidade. Ser mulher e artista em pleno século XIX não era tarefa fácil, mas essas três levaram com louvor, o trabalho. 

Das três irmãs, vocês devem concordar comigo que Emily é a mais taciturna. Que apesar das três carregarem uma certa melancolia em suas escritas, e aqui devo ao fato do próprio gênero feminino envolto numa época ultrarromântica literária, Emily possuía uma forma de escrever que me assustava. Era um tanto madura para uma jovem mulher. Doída demais para alguém tão novo e que a sociedade da época julgava ser tão leve, como deveriam ser as mulheres. 

Lendo O Vento da Noite comecei a entender que de fato Emily não incorporou um papel de escritora infeliz para escrever O Morro dos Ventos, mas ela por si carregava uma áurea triste e machucada. Isso está presente a todo o momento nos 33 poemas do livro, e me fisgou de tão forma, que cada vez que terminava de ler um, tinha que fechar e pensar no que provavelmente Emily estava vivendo quando compilou aquilo. É pesado. Insustentavelmente pesado. 

Além de me identificar com a autora em muitos quesitos, hoje me coloco também no papel de curiosa sobre quem foi Emily Bronte, além daquilo que os sites de buscas podem me revelar. O nome dela está na minha lista de pessoas que eu gostaria de conhecer, se não fosse o simples fato de que isso teria que ser feito no além. Essa mulher cunhou Heathcliff, minha gente! E falem vocês o que quiserem, esse personagem é fabuloso. 


Também preciso comentar aqui o quão incrível o tradutor se portou nessa obra. Bato palmas para o trabalho de Lúcio Cardoso em transportar o sentimento dos textos originais, mesmo que perdesse a melodia do poema em sua língua natal. Mas, sinceramente? Isso é muito comum em traduções de literatura desse tipo. Seria difícil manter o sentimento e o ritmo, mas não senti falta disso, porque essa edição traz as duas versões, e o leitor pode bem entender o texto, e ainda o sentir, como um sopro frio de vento da noite, de fato. 

Toda a obra foi organizada de maneira genial. Eu, que não sou fã de poemas, estou encantada com o trabalho de modo geral: com a autora, com o tradutor e com a edição. Acho que todos os livros de poemas deveriam vir nesses moldes, coma ambas versões.  

Li porque sou fascinada pela autora, e não me decepcionei. Ali está a Emily, em seu mais profundo abismo sentimental. Continuo a achá-la sensacional, e recomendo essa obra de olhos fechados.