Resenha de "Dearly Departed" (Lia Habel)





"Quero adotar um zumbi igual ao Bram"


Sinopse: 

Ela é Nora Dearly, uma garota neovitoriana de 17 anos que sofre com a morte dos pais e vive infeliz aos cuidados da tia interesseira. Ele é Bram Griswold, um jovem soldado punk, corajoso, lindo nobre...e morto! No ano de 2187, em meio a uma violenta guerra entre vitorianos e punks, surge um perigoso vírus, capaz de matar e trazer novamente à vida. As pessoas tornam-se zumbis, mas nem todos são assassinos e devoradores de carne. Há os que lutam para que o vírus não se espalhe... Apenas Nora tem o poder da cura em suas mãos, ou melhor, em, seu sangue. Ela não sabe disso, e corre perigo. É papel de Bram protegê-la...(SKOOB)
_________________________________________________________________

 
Uma coisa é certa: Lia Habel criou um mundo com zumbis de uma poesia que supera, e muito, a coisa do canibalismo presente na raça. Nunca achei que fosse me encantar por um zumbi como me encantei por Bram, que diferente de R (Sangue Quente), consegue se movimentar e parecer quase humano. O cara é um soldado! Ele escala prédios, pula de helicópteros, se mete em brigas corporais e ainda tem tempo para me deixar suspirando. Ok, acabei de admitir que suspirei por um garoto morto; bom, poderia ser pior, poderia se um cara morto com um péssimo gosto musical.

Dearly Departed tem caráter distópico com uma pegada leve e deliciosa de Steampunk. Algumas coisas não me convenceram muito, o fator vestimenta foi uma delas. Como pode o mundo ter avançado ao ponto de holografia ser algo muito maior do que se conhece hoje em dia, e mesmo assim, as mulheres perderam a praticidade do jeans e suas roupas casuais? Elas usam vestidos enormes e sombrinhas vitorianas. Sério? Onde fica a evolução feminina nesse novo mundo? Mas daí eu me me lembro do filme do Shaymalan – A Vila – Onde as pessoas usaram a vestimenta como uma forma poderosa de paz social. É como se eles precisassem que as pessoas voltassem ao começo para ter um final diferente. O fato é que talvez a autora não tenha conseguido me fazer entender isso. Eu não usaria espartilho no meu dia a dia nem que minha feminilidade dependesse disso.

O mundo esta mudado. Toda a parte norte do globo terrestre esta inabitada e, até onde puder entender, não tem nada haver com os zumbis. As pessoas migraram para o sul fazendo colônias e usaram o seu desenvolvimento tecnológico a favor da ciência. Acontece que uma doença aparece (ninguém sabe de onde) e começa a tomar as pessoas aos poucos. O problema, é que nem todo mundo sabe da existência dela, e que o que muitas vezes parecem ataques de um grupo de esquerda que dizima uma colônia, é na verdade um ataque zumbi e o governo abafa alegando milhões de coisas diferentes.

Mas nem todos os zumbis são do mal. 
O doutor Dearly foi um famoso cientista que descobriu uma forma de amenizar a doença. Não estou dizendo que os zumbis param de apodrecer, mas a fome começa a ser uma coisa controlável. (Zumbis comendo tofu e brócolis. Ok, não acontece, mas é engraçado pensar) É quando conhecemos os zumbis do bem. Eles formam um grupo militar – escondido pelo governo- para contra atacar zumbis do mal (aqueles que não tem controle sobre seus pensamentos). Uma tática segura que protege seus soldados vivos de se tornaram soldados mortos.

Nora é a filha adolescente do doutor. Ela mora com a tia desde a morte dos pais, tem uma amiga muito bacana e uma vida bem de princesa. Ela faz parte da burguesia do novo mundo. Mas a garota nunca esta feliz com isso – Vai entender os adolescentes! - Ela sempre gostou de livros sobre guerras, de jogos de guerras e de notícias sobre guerras. Lógico que a tia, tentando moldar o lado feminino e disponível ao casamento, tenta tirar todo esse pensamento dela. Inútil! Eu também preferiria armas à enxoval de casamento.


 Acontecimentos levam Nora até a presença de uma base militar desses zumbis do bem. A garota pira por muito tempo porque não sabia da presença desses mortos-vivos; além de que, tem que lidar com o fato de que precisa ser protegida por eles, e não faz ideia do porquê. E nessa loucura, Bram aparece sendo o único deles que conquista de imediato a confiança da garota. Ele esta lá para protegê-la e mante-la informada de tudo o que acontece. E lógico, acaba sendo mais do que guardião e informante.

Bram tem uma presença de espírito triunfante. Ele brilha mais na história do que a Nora (Quero um zumbi de estimação). Outro personagem que adorei, foi a melhor amiga de Nora, Pamela. Ela tem muito mais espírito de liderança e combate do que a própria protagonista. Nesse primeiro livro achei Nora mimada e teimosa, mas acredito que ela vai melhorar nesse sentido.


O livro é narrado por vários pontos de vista que se intercalam nos capítulos: Bram, Nora, Pamela...Isso acaba deixando você vulnerável a se apaixonar por qualquer um deles. E posso dizer com segurança que não é uma coisa difícil.

O relacionamento de Bram com Nora é bastante fofo, mas devo isso a ele. O cara é muito legal! Por mais que eu não morra de amores por zumbis, esse me deixou bastante encantada.

Dearly Departed é o primeiro de uma série (não sei de quantos), e podemos esperar muito tiro e carne de gente sendo comida, e romances nada convencionais e uma briga constante entre humanos e zumbis bonzinhos.

O livro é bom. Não gostei muito da quantidade de erros de escrita e concordância que encontrei nele, exatamente por isso não foi um livro cinco estrelas. Mas fiquei bastante contente com o resultado final. Estou bem curiosa para saber como será a continuação do romance épico, e nada comum, entre o zumbi mocinho e a princesa vitoriana – Essa frase é estranha, eu sei! Mas fico feliz em saber o quão estranho e deliciosamente possível é a mente dos escritores. E viva a elas!






Quotes:

 "- Corri os olhos pela mesa. Aqueles seres estavam mortos. Mortos. Deviam estar deitados dentro de caixões segurando florzinhas secas, com vermes saindo de dentro do corpo. Mas estavam ali, bem na minha frente, discutindo monstros da literatura e interceptação de transmissões militares. O estranho era que eu começava a considerá-los...Talvez...Só um pouquinho...normais. Ou não." (pág.196)

 " Você é a garota certa! Você é a garota certa, por dez mil razões! Nunca senti nada assim antes... Mas...Eu não sou o cara para você. Sei que nunca poderei ser...nunca poderei ser o que você precisa. (...) Mas...tenho vivido os melhores momentos da minha vida, fingindo que podia ser seu. Obrigado por me permitir isso.