Resenha de "O Motivo" (Patrick Ness)





"Inteligente e totalmente eficaz"


Sinopse:
Todd Hewitt é um garoto de doze anos, o último menino de Prentisstown, uma cidade de homens. Ele vive em um mundo cheio de "ruído" em que os pensamentos privados de todo homem e animal são audíveis. Em um mês ele estará com treze anos e será um homem. Mas a cidade está mantendo segredos para ele, segredos que vão forçá-lo a fugir do prefeito e dos homens de Prentisstown junto com seu cachorro e a primeira garota que ele já conheceu. A cada página, o leitor ficará cada vez mais ligado a Todd e Viola, com sua história de amizade, e sentirá afeição genuína por Manchee, cão e ajudante de Todd, cujo comportamento é hilário e comovente. Na sua essência, é uma história sobre um garoto forçado a crescer rapidamente em um mundo de ruínas em loucura e armado apenas com sua convicção de fazer a coisa certa para ajudá-lo a sobreviver. Todd vive em um mundo onde um germe matou todas as mulheres, um germe que deixou os homens loucos, o germe que significou o fim dos spackles quando a loucura dos homens colocou as mãos numa arma. (SkOOB)
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E paro pensando:

- Esperei 26 anos para conhecer esse livro? Que tipo de amante de distópicos eu sou? 

Sabe aquele momento que um amigo seu lhe indica um livro, porque sabe que você gosta de distopias, e você acaba guardando a informação no banco de dados do cérebro porque a sinopse é meio confusa e a capa é estranha?  Foi justamente o que aconteceu com esse livro.  E quando finalmente me rendi e comprei, deixei-o mais alguns meses encostado na minha estante, com muito peso na consciência porque no final das contas, ele parecia ser interessante.

Interessante?
Está brincando comigo?
Essa é, de longe, a distopia mais incrível e inteligente que já li. E volto a questão principal:
... Anos e anos perdidos sem conhecer Todd, Manchee, Viola e a escrita FABULOSA de Patrick Ness. Que ódio mortal estou de mim nesse momento.

Conhecemos a história pelo olhar de Todd, um garoto com 12 anos e 12 meses. Isso mesmo!
Ele mora em uma cidade isolada que só existem homens. É criado por dois amigos da sua falecida mãe e tem um cachorro “Danado de bom” – Como ele diz. Todd tem uma vida tranquila na fazenda onde mora, a não ser pelo ruído. O ruído é tipo uma doença onde todos os habitantes da cidade, animais e homens, conseguem escutar os pensamentos uns dos outros; eles não conseguem guardar segredos de ninguém. Apesar de acostumado, Todd sabe que a cidade guarda segredos e que ele, por ser a pessoa mais nova do lugar, e que esta prestes a se tornar homem em um mês, julga ser o único a não saber.

Acontecimentos levam Todd a sair fugido da cidade e ir em direção a um desconhecido. Pessoas diferentes, lugares diferentes, segredos diferentes. Então ele conhece Viola, a única garota que ele já viu na vida, e a primeira pessoa que não tem ruído algum... Tão silenciosa e misteriosa quando o resto do mundo que ele não conhece, e nem sabia que existia. Ambos estão fugindo, e precisam um do outro para chegar a algum lugar.
Juntos eles vão descobrindo os segredos que a cidade esconde e os perigos que o desconhecido lhes reserva.

Nem sei como começar a dizer o que achei... De início acho que poderia dizer: Caraca! Ruído? Comunicação mental entre homens e animais, e apenas eles? Como não pensei nisso antes?

Essa coisa do ruído é assombrosa porque é como se Todd nunca pudesse se esconder dos homens, como se eles soubessem o que pensa antes mesmo dele pensar com clareza. É muito sufocante saber que por mais que ele corra e fuja alguém sempre ouvirá seu ruído.

Um ponto maravilhoso foi a construção do próprio Todd. Ele começa o livro como um garoto, e apenas um garoto: birrento, chato, moleque em muitos momentos. Do meio para o fim você começa a se apaixonar por eles, pelas suas atitudes, pelos seus pensamentos, pelo seu sacrifício, pela sua coragem e, sobretudo, por aquilo que mais o condena: Seu ruído.

Já Viola é uma incógnita no livro para o narrador (Todd) Então ela também é um mistério para quem lê. Acontece que juntos, eles vão construindo uma amizade muito, muito, muito bem elaborada e complexa... Tão complexa que chega a ser livre de qualquer complexidade. Dá para entender? Talvez não! Mas o fato é que ele começa a entender Viola acima de um possível ruído, e passam a ser mais do que amigos, como se eles tivessem nascido com a missão de estarem juntos.

O livro não tem momentos de descanso, mas não deixa de ser reflexivo. Toda a abertura de reflexão da história fica a cargo das ações de Todd, e de toda a ação que as pessoas ao redor dele fazem. É um emaranhado de ruídos e silêncios profundos (Que são as mulheres) que você fica desesperado.

As ações e os segredos do livro te levam para além dele. Quando você acha que desvendou um mistério, então outro acontece. E nessa história você realmente entende algumas atitudes imaturas e monstruosas dos homens. O inimigo na maioria das distopias somos nós... A humanidade que se tornou fraca demais para acreditar no adjetivo que também pode ser a própria humanidade.

E não posso deixar de falar de Manchee, o cachorro maravilhoso de Todd. Sério, sem ele essa história não teria sentido algum. Muito fofo esse cachorro.

Patrick Ness é um escritor divino! Ele consegue dar profundidade a diálogos, e faz bastante tempo que não consigo ler nada tão intenso em seu ruído e em seu silêncio. E as simbologias que o escritor usa? O poder que ele dá sobre as coisas e as consequências das ações pensando nas coisas. Genial! A distopia funciona muito bem; ela tem momentos de reflexão, tem momentos de ação, de paixão pela vontade de viver. Ela é completa! Sem outra palavra para descrever esse livro... Ele é completo!

Me apaixonei pela história, pelo enredo amarrado e perfeito. Bastante ansiosa para a continuação da série – Aqui no Brasil já tem o segundo livro (Sim, é uma trilogia). Li que a Lionsgate comprou os direitos para cinema, e digo uma coisa, se colocarem um diretor bom de verdade com ação, esse filme vai ficar muito – MUITO – Bom! Ele tem tudo para ser sucesso!
Fico triste com o fato de o livro não ser tão conhecido, mas me alegro imensamente que ele seja maravilhoso ao ponto de me fazer colocar em letras grandes:

Gosta de distopias?
Então...

Pela mãe dos duendes da floresta :
LEIA ESSE LIVRO!


 Quotes:

- A Cidade já sabe tudo sobre você e quer saber mais e quer te bater com o que ela sabe até não sobrar nada de você. [página: 17]

- O conhecimento é perigoso e os homens mentem e o mundo continua mudando, eu querendo ou não. [página: 65]

 - Ela se aproxima de mim. Posso sentir seu bafo, que é pior do que o pano, e sinto o silêncio atrás de todas essas palavras. Como pode ser ser? Como o silêncio pode conter tanta algazarra? [página: 287]