Autor: Marcos Peres
Editora: Record
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Sinopse: O Evangelho Segundo Hitler - Este é um romance notável de um leitor obcecado por Jorge Luis Borges a ponto de imputar-lhe uma infâmia que nem o próprio teria inventado: a de ter engendrado, com sua imaginação infernal, o fermento profético que possibilitou Adolf Hitler e o nazismo. O evangelho segundo Hitler faz aquilo que o borgiano Pierre Ménard fez com o Quixote de Cervantes: reescreve produzindo diferença.
Esse é o tipo de livro difícil de resenhar justamente por ser difícil de ser compreendido. Quando eu pedi emprestado a um amigo não imaginei que iria embaralhar minha cabeça para tentar entender o que o autor quis dizer com as loucuras que empregou para montar esse enredo. De fato minha vontade era me sentar de frente para o cara e perguntar: "Meu amigo, de onde você tirou essa ideia?"
Não sei se vou conseguir explicar bem, mas vamos lá. O livro vai falar de Jorge Luís Borges. Não, não aquele que conhecemos pelas críticas e literatura de alto nível. Mas por outro cara que por acaso do destino acabou com o mesmo nome do escritor famoso. E nosso Borges, personagem, também era escritor como o outro. Então vocês podem apostar a confusão que isso deu dentro da história. Na verdade, confusão é a palavra do meio desse livro.
O início vai nos mostrar um protagonista muitos anos no futuro, já velho, indo matar o Borges verdadeiro - isso não é spoiler - por acreditar que ele foi o responsável por algumas catástrofes da humanidade. Sim, tudo muito louco e subjetivo. Você não sabe do que diabos ele está falando até que voltamos ao passado e entendemos a origem de seu nome, e quando o Borges - escritor - entrou na vida dele como uma sombra, para jamais deixar de ser até a sua velhice.
Acontece que o amor é uma merda que nos faz cometer muitas outras merdas. E por isso o protagonista acaba dizendo para uma mulher, a qual ele é apaixonado, que ele é o famoso Borges, quando ele não é famoso coisíssima nenhuma. Ela fica encantada e diz que o namorado é um grande fã do seu trabalho. Borges odiou saber que a mulher tinha namorado, mas se amarraria ao trilho de trem se ela pedisse, e por isso acabou indo conhecer o tal cara com quem ela morava.
E daí conhecemos nosso nazista e responsável por inserir o coitado do protagonista numa bagunça sem tamanho achando que ele é o Profeta que irá revelar o próximo Messias, porque o Borges - escritor - escreveu um conto sobre Judas que supostamente fundamentou o pensamento nazista sobre o massacre aos Judeus na segunda guerra mundial.
Parece confuso, né? Até para mim que li as vezes é um pouco, mas não desanime. O que tem de confuso tem de genial.
A leitura é sim arrastada em muitos momentos, mas em outros ela chega a ser frenética. Teve um capítulo em específico do livro em que o Borges protagonista tenta criar uma continuação da ideia do conto sobre Judas que o Borges - escritor - fez. O capítulo é insano, mas a explicação dele, por mais sem sentido que seja, me pareceu ter todo o sentido do mundo. Não tenho como explicar para vocês sem soltar spoilers ou fazer minha cabeça explodir, mas é fato que o negócio é bem amarrado. Tão amarrado que não consegui lembrar porque tinha achado estranho no princípio que um livro juntasse Borges, Hitler e um Evangelho no meio. Acredite, tudo vai clarear depois da leitura.
O Borges - protagonista- é um dos personagens mais ferrados que já conheci. Quando o coitado pensa estar livre da sombra do outro, eis que se envolve em mais confusão por ter o mesmo nome. Basicamente a ideia é de que para conquistar uma mulher, ele ajudou a implantar a ideia de um genocídio na cabeça dos nazistas. Crê em algo assim? Se pensarmos que Helena foi responsável pela Guerra de Troia, até dá para entender o quão forte é o poder de uma mulher na guerra.
É um livro que brinca a todo momento com a religião. Os católicos fervorosos certamente se revirarão ao ler certos trechos desse livro por tratar Jesus de uma maneira bastante humana, e um Judas que é quase um membro de um partido político bem esquematizado. É uma ideia forte para algumas mentes, mas é possível.
Sempre fui uma mulher altamente adapta a possibilidades, e esse livro abre um leque deles sobre os últimos dias da vida de Cristo e os motivos pelos quais Judas fez o que fez. E que talvez Pedro - aquele que fundou a igreja católica - seja muito mais culpado e vilão do que o homem que até hoje dá nome as pessoas falsas do mundo. Pois é... explodindo a cabeça novamente.
Perguntaram-me se era necessário conhecer a obra de Borges para ler esse livro. Eu não sou uma entendedora do autor. Li pouca coisa dele, mas não me perdi na história por isso. Claro que o autor cita alguns livros dele, e saber do que se trata deixa o entendimento mais rico. Contudo não saber não o deixa pobre. Quando acabei cheguei a ler o tal conto que bagunçou a vida do coitado do protagonista, mas só. Não senti necessidade de parar de ler para ir atrás de livros de Borges. Temos que lembrar que aqui é uma ficção. Usando dois personagens fortes e destintos - Hitler e Borges, mas envoltos em um trabalho ficcional de um escritor bastante criativo.
Pode ser um livro muito estranho de ideias, mas ele faz sentido em vários momentos. Eu recomendaria de olhos fechados. Mas devo lembrar que não é fácil ou rápido, e que se você vier, venha despido de preconceitos religiosos e de peito aberto para manter uma relação de pena, amor e ódio com um personagem.