Autor: Jonathan Tropper
Editora: Arqueiro (Cedido em Parceria)
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Sinopse: Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que a vida de Drew Silver é uma sequência de decisões equivocadas. Faz quase uma década que sua banda de rock emplacou uma música, filha única de mãe solteira. Desde então, a banda se separou, sua mulher o largou e Silver tem assistido a vida passar, tocando em casamentos – quando aparece algum – e descontando os cheques cada vez menos frequentes que recebe pelos direitos autorais de seu único sucesso. Silver então descobre que a ex-mulher está prestes a se casar de novo e que a filha adolescente, Casey, está grávida. Para completar, depois de sofrer um derrame que o deixa incapaz de controlar a língua e guardar para si o que pensa, ele precisa de uma cirurgia no coração. Diante desse cenário, o músico fracassado depara com a pergunta decisiva: será que vale a pena salvar uma vida tão mal vivida? Assim, sob o olhar exasperado da família, ele toma a decisão radical de se recusar a fazer a cirurgia e dedicar o pouco tempo que lhe resta a tentar consertar o relacionamento com Casey e aproveitar a vida – mesmo que ela não dure muito. Com diálogos rápidos, irônicos e sagazes, Jonathan Tropper confirma sua habilidade em retratar com humor e perspicácia o lado oculto da família moderna.
As vezes a gente senta para ler um livro que aparentemente não iria fazer muita diferença em nossas vidas. Ou porque a história tem um enredo simplório, ou simplesmente porque acreditamos que duzentas páginas não podem nos mudar de alguma forma. O problema é que quando o autor sabe construir um enredo, não há como negar a maestria, e não tem como não se envolver com aquela história. Foi o que aconteceu com Antes de Partir Desta pra uma Melhor.
Costumo dizer que o protagonista de O Jogo do Anjo é o personagem mais ferrado da literatura entre todos os livros que já li. Posso dizer depois de ler esse livro que Silver não fica atrás de jeito nenhum!
O cara é baterista de uma banda de coroas que já não faz tantos shows como antes, ou seja, a renda é curta. Mora num cubículo, em um condominio de pessoas tão ferradas quanto ele. A mulher o deixou há muito tempo, e a filha mal o reconhece como pai. Está gordo, sem grana e com aquele aperto no coração por estar vendo a vida definhar sem nada acontecer nela.
Até que duas coisas acontecem: Sua filha engravida e ele descobre que precisa fazer uma cirurgia com urgência ou poderá morrer (Isso não é spoiler! Está no resumo). O problema é que Silver não encontra muitos motivos para viver, e por isso não rejeita totalmente a ideia da morte.
Viram como aparentemente o enredo é simples? Pois é! A maestria está em como Tropper constroi a ideia delicada de um cara ferrado a beira da morte e tendo opção de aceitar de peito aberto ou lutar contra isso. Chega a ser meio patético quando a gente olha dessa forma, e até quando eu estava lendo ficava a todo momento pensando porque diabos Silver não aceitou logo essa cirurgia e ponto! Tenho impaciência com personagens que não lutam pelo o que são, só que acabo esquecendo que na maioria das vezes aquilo ali, a inércia, já é uma forma corajosa de enfrentar as coisas.
Tropper tem uma narrativa ácida ao mesmo tempo em que ela é engraçada. Silver esta morrendo e ainda consegue ver piada em tudo. Na verdade acho que isso foi o motivo que não me fez ter raiva dele. Pessoalmente não curto gente que tem pena de si mesmo, e não é o caso de Silver. Encara sua tragédia pessoal de forma leve e descontraida.
A gravidez de Casey, sua filha, chega como uma balança para nos ajudar a entender o grau de comprometimento do autor com sua linha da trama. Não foi uma gravidez desejada, e sabemos que naquelas bandas não querer um filho é facilmente resolvível. E essa dualidade entre Casey querer algo que de certa forma o pai está aceitando de bom grado para a própria vida dele, faz com que ambos se unam com o propósito de se ajudar em suas vidas duplamente ferradas.
É um livro bonito de uma maneira visceralmente dolorida, mas daqueles com final em aberto. Não que não curta esse tipo de final, mas sinceramente fiquei desesperada por mais. Acho que me apeguei muito a Casey e Silver, e queria ver como aquilo iria findar. Ou melhor... queria entender as consequências das escolhas que eles fizeram no final das contas. As decisões são até fáceis, difícil é conviver com elas.
Indico de coração para quem curte um texto mais sério, e ainda assim cheio de humor. Tropper entrou fácil na minha lista de autores que tem facilidade em usar as palavras a seu favor. Não é fácil escrever, mas tem gente que nitidamente nasceu para isso, e esse é o caso dele.