Resenha de "Uma Chama entre as Cinzas" (Sabaa Tahir)

Título: Uma Chama entre as Cinzas
Autor: Sabaa Tahir
Editora: Verus
Skoob: Adicionar

Sinopse: Laia é uma escrava. Elias é um soldado. Nenhum dos dois é livre. No Império Marcial, a resposta para o desacato é a morte. Aqueles que não dão o próprio sangue pelo imperador arriscam perder as pessoas que amam e tudo que lhes é mais caro. É neste mundo brutal que Laia vive com os avós e o irmão mais velho. Eles não desafiam o Império, pois já viram o que acontece com quem se atreve a isso. Mas, quando o irmão de Laia é preso acusado de traição, ela é forçada a tomar uma atitude. Em troca da ajuda de rebeldes que prometem resgatar seu irmão, ela vai arriscar a própria vida para agir como espiã dentro da academia militar do Império. Ali, Laia conhece Elias, o melhor soldado da academia — e, secretamente, o mais relutante. O que Elias mais quer é se libertar da tirania que vem sendo treinado para aplicar. Logo ele e Laia percebem que a vida de ambos está interligada — e que suas escolhas podem mudar para sempre o destino do próprio Império.


Quis ler esse livro desde o lançamento porque tinha visto algumas resenhas lá fora bacanas sobre ele. Sem contar que curto muito livros com climas desérticos, como era o caso desse. Não consegui comprar o físico por questão de valores - A Verus tem aquele tipo de preço que machuca o bolso - mas um amigo comprou o livro digital, e acabei lendo no Kindle dele. E quando terminei a única coisa que consegui pensar foi que ele teria valido cada centavo, caso eu pudesse comprar. 

Uma Chama entre as Cinzas tem dois focos narrativos: Elias e Laia. Dois personagens que estão passando por processos de quebra em suas vidas. Laia teve o irmão levado pelos Marciais, uma espécie de "polícia" bastante agressiva, acusado de traição. Como ele é a única família que lhe resta, ela vai oferecer ficar a disposição dos rebeldes em troca da liberdade para o irmão. 

Já Elias é um desses "policiais do mal". Estudou por anos em uma escola que treina agressivamente os alunos, e agora, que terminou os estudos, pretendo fugir do serviço militar e seguir sua vida sozinho. Só que por muito menos os alunos são mortos naquele lugar. A Academia é comandada pelas mãos de ferro de uma mulher que deveria ser o seu conforto, mas é seu suplício: A  própria mãe. 

Dois jovens com objetivos diferentes, mas que acabam se cruzando porque no final das contas, a liberdade é o que importa para ambos. Sair da garra do Império e viver vidas que não conseguiram, já que desde cedo foram condenados por ele. 

O livro é uma fantasia, que também possui um viés distópico, se você olhar bem a estrutura política e de forças do lugar. Claro que quando peguei para ler fui com todo gás na ideia fantasiosa, e não me atentei para a questão do poder. Quando percebi a base que a autora tinha montado da trama, fiquei bastante surpresa. A estrutura já é bem trabalhada, e você não precisa de páginas para entender o que acontece naquele mundo, como as coisas funcionam para as diferentes classes sociais, e como acabam para quem tenta mudar o que já está formado. 

Acima do que acontece com os personagens, está o que acontece com a sociedade, e isso foi muito bacana de se ler em um livro que tecnicamente é um YA de fantasia. O foco não é o romance, mas o todo que acontece ao redor dos personagens. 

Depois da questão estrutural das classes e da forma como a autora trabalhou cada uma delas, eu fiquei encantada pelos personagens. Temos ali um soldado que tem uma alta patente e todo o respeito dos seus amigos, mas que só quer a liberdade. E vi em Elias todo um grupo de outras pessoas que também tem essa mesma vontade. Ser soldado nessa terra é realmente um martírio, e não uma opção. Se você é colhido para ser um, ou você sobrevive o suficiente para ser, ou morre. 

Elias é o melhor dessa história, e cada vez que os capítulos o acompanhavam, eu via o quão forte e complicada eram as decisões dele, e as repercussões delas. Os momentos mais "PUTA QUE PARIU" do livro eram nos capítulos de Elias, e bati palmas para a autora por usar a selvageria quando necessária, mesmo que se tratasse de um livro para jovens. Afinal de contas, é uma sociedade que exige isso. 

Já Laia não me conquistou como um todo, mas preciso admitir que ela cresce dentro do livro de um jeito bastante positivo. Ela é necessária, e acho que a tendência é que eu acabe gostando dela tanto quanto gosto de Elias, até o final da série. 

Os personagens coadjuvantes parecem compor um quadro em que cada peça é essencial. Você sabe que aquela pessoa esconde algo, ou tem algo de muito importante para acrescentar, e fica quebrando a cabeça para saber o que é. Adoro as cenas da Cozinheira e da mãe de Elias. São exatamente duas das mulheres absolutamente bem construídas, misteriosas, e que ainda tem muito para mostrar. 

O que os protagonistas precisam enfrentar aqui chega a ser desumano, em alguns sentidos. E é incrível o quanto curto quando um autor faz isso com eles. Quer dizer... você entende o que eles são e fazem porque não deixam de ser resultados de um sistema. E daí eles te convencem, Não gosto quando um personagem age de uma forma que não se explica. Fica vazio e eles não fazem sentido. 

Eu estou apaixonada pelo livro! Desesperada pela continuação, e meio temerosa porque sei que a autora é dessas que não tem pena de matar quando necessário, e já me apeguei a todos eles. 

Um livro ótimo para quem curte fantasia/distopia. Com uma breve pitada de romance, e que deixa uma sensação maravilhosa de força em quem lê. Depois que acabo livros como esse que percebo o tanto que um livro pode influenciar a vida de alguém, e o porquê os grandes devem temer os pequenos que leem. Esse tipo de livro transforma. Modifica. Amplia...

Recomendo esse com força! Leiam! Leiam! Leiam!