Resenha de "Azeitona" (Bruno Miranda)

Título: Azeitona
Autor: Bruno Miranda
Editora: Outro Planeta (Cedido em Parceria)
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Sinopse: Ian e Emília não trocaram mais que duas palavras desde que começaram a estudar juntos, mas é o nome dela que vem à mente dele quando precisa de uma parceira para um plano mirabolante: participar de um reality show sobre casais adolescentes que vão ser pais. Isso em troca de um cachê capaz de resolver todos os seus problemas. Ian tem dezesseis anos e foi criado pela irmã, Iris, que precisou abrir mão de oportunidades na vida para cuidar dele. Agora, quando ela finalmente vai conseguir se formar na faculdade, ele se sente na obrigação de retribuir de alguma maneira.
Emília, aos dezessete anos, não quer retribuir nada a ninguém – pelo contrário, seu sonho é sair de casa o quanto antes para não discutir mais com a mãe, com quem sempre teve uma relação conturbada.
O fato de que eles não são um casal nem têm planos de ter um bebê de verdade parece apenas um detalhe. Mas a vida reserva surpresas, nem sempre boas, para quem acredita que é fácil inventar a própria história.
O romance de estreia de Bruno Miranda, criador do canal Bubarim, no Youtube, é uma história divertida e tocante sobre relacionamentos familiares.

Acompanho o Bruno mais ou menos desde a época em que ele começou a falar de livros no Youtube. Sempre o achei divertido e criativo, e isso fica evidente ao ler Azeitona. É o tipo de livro que se torna interessante ler justamente porque conheço o escritor, e essa comparação entre o Bruno antes de Azeitona, e o Bruno em Azeitona, é inevitável, e gostosa!  

Com esse título tão incomum, o livro vai contar a história de Ian, um adolescentes que por puro destino, acaba sendo convocado para participar de um programa de reality show chamado Novos Pais. A recrutadora o vê na sala de espera de um consultório obstétrico e acha que ele é o futuro pai de um futuro bebê de adolescentes. Só que não.

Sabendo da grana que irá ganhar só em participar, e precisando muito dela, Ian não desmente a mulher, e ainda acha uma amiga para fingir que serão pais, e assim garantir o dinheiro da participação. Tá, Emília não é bem uma amiga... tá mais para uma conhecida de sala de aula. Ainda assim ele a chama, e a garota topa. Podem imaginar o nível de encrenca, não é? 

Ok, é importante dizer que esse se trata do primeiro livro de um autor ainda jovem. Então, claro que muitas pessoas encontrarão problemas nele, principalmente as pessoas de mais idade e que são mais críticas quando o assunto é livro. Eu encontrei, e olhe que sou das mais relaxadas quanto a isso. 

A ideia que o Bruno tem é legal. Vai tocar em assuntos interessantes para o público que ele tem. Gravidez na adolescência é coisa séria, e ele soube trabalhar isso sem todo o dramalhão que as vezes afasta os jovens de livros sobre o assunto. Inseridos a isso ele inclui coisas como estupro e assédio; outras duas coisas sérias em qualquer fase. 

Os personagens são carismáticos, e os coadjuvantes convencem na maioria das cenas. O conjunto da obra é divertido, e é claro enxergar a mão de Bruno nas cenas que são engraçadas, e elas são muitas. E daí entra um dos meus grandes problemas com esse livro: Não consegui identificar em que categoria ele se enquadra. 

É um para adolescentes? Ok! Deveria ser um ensinamento? Não foi. Deveria passar uma mensagem? Não identifiquei. Deveria só ser leve? Definitivamente não foi o que me mostrou. 

Entendem onde quero chegar? Azeitona fica em cima de muro em muitos quesitos. Fiquei imaginando se isso não foi proposital do autor. Medo de arriscar, talvez? Não sei. Só não senti o que provavelmente ele queria que eu sentisse. 

Apesar dos personagens carismáticos, não me senti ligada a nenhum deles. Para mim era absurdamente improvável toda aquela situação a qual ambos estavam inseridos. Quer dizer... um programa de TV é coisa séria, e produtores não deixariam isso só nas mãos de adolescentes, que aparentemente vão ter um bebê e que não tem psicológico para decidir se querem suas vidas explodindo no horário nobre, saca? E a forma com a qual o livro foi estruturado, não pareceu verossímil para mim. Inclusive o relacionamento de Emília e Ian. Cá para nós, se um cara que eu só conheço de "oi", aparece para me pedir para fingir que estou grávida em um programa de Tv, de um bebê dele, eu iria rir em sua cara e ligar para a SAMU. E Emília parecia ser sensata demais para ir nessa, por mais fortes que fossem suas motivações. 

Eu sei que estamos falando de ficção, e que no mundo da ficção cabe tudo, mas vamos combinar que na minha idade esse "tudo" é bastante limitado no funcional, e acho que nisso o livro poderia ter sido melhor trabalhado. As motivações dos personagens não eram suficientemente fortes para arriscar tanto, com tão poucos recursos e planos para que aquilo desse certo. 

Também tive dificuldade com as resoluções das problemáticas apresentadas. Terminei o livro achando que todas elas tiveram cortes bruscos, e que no final das contas não quiseram dizer nada. E, cara, tinham muitas problemáticas interessantes ali. As conclusões delas que não pareceram fazer sentido para mim. Tipo... cadê a realidade da coisa? Nada, repito, NADA se resolve dessa maneira - tão simples - quando o assunto é sério desse modo. Acabou que não existiu um aprofundamento maior nem da gravidez na adolescência, nem do estupro, nem do relacionamento de Ian com a irmã ...

Um livro tem que ser construído de uma forma que se conclua um pensamento. Ele pode ter milhões de situações bizarras e que o leitor não vá acreditar, mas elas devem ser concluídas, mesmo que não da melhor forma, ou da mais visível. Entendem o que quero dizer? Espero que sim. 

Bruno é excelente com as comédias, e acho de verdade que seus próximos livros deveriam seguir essa linha. Ele tem uma escrita que promete, e umas tiradas de pensamento que são excelentes. Só acho que para misturar dois estilos de estrutura de enredo (o engraçado, e o trágico) exige um amadurecimento estúpido por parte de quem escreve, para que não caia na síndrome do final incompleto e/ou sem sentido. 

Para os jovens, eu recomendo. Algumas risadas garantidas. Para os com mais idade, recomendo uma leitura para passar algumas horas, super despretensiosa. Para um primeiro livro de um autor jovem, Azeitona é aceitável. Acho que Bruno tem futuro. Muito. 

P.s. A explicação do título do livro é uma delicinha. :)