O céu sem estrelas da menina Cecília e sua mãe polvorosa

Título: Céu sem estrelas
Autor: Iris Figueiredo
Editora: Seguinte
Skoob: Adicionar

Sinopse: Um romance sensível e envolvente sobre autoestima, família e saúde mental.Cecília acabou de completar dezoito anos, mas sua vida está longe de entrar nos trilhos. Depois de perder seu primeiro emprego e de ter uma briga terrível com a mãe, a garota decide passar uns tempos na casa da melhor amiga, Iasmin. Lá, se aproxima de Bernardo, o irmão mais velho de Iasmin, e logo os dois começam um relacionamento.
Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo — e com a instabilidade de sua própria mente.
“Uma história brilhante sobre encontrar a sua força mesmo quando não há esperanças. Iris escreve com uma sensibilidade incrível e dá voz aos jovens que vivem a busca constante pelo seu lugar no mundo.” – Vitor Martins, autor de Quinze Dias

Não sou uma grande leitora de nacionais. Não porque eles não me agradam, mas acabam sendo minoria na estante de "livros por ler" e "lançamentos que quero conferir". Não acredito que isso seja uma espécie de preconceito de geolocalização, apenas costume. Prova disso é que quase sempre curto os nacionais que leio. Quase sempre, ok? Tem escritor escroto em todo país. 

Em Céu sem Estrelas, o livro com uma das minhas capas prediletas do ano, a gente acompanha a história de Cecília, uma jovem que trabalha em uma livraria e que está fazendo faculdade. Ela é uma garota um pouco mais cheinha, e tem um verdadeiro complexo com isso. 

No outro ponto da história temos Bernardo, também universitário e irmão da melhor amiga de Cecília, a quem ela supre uma paixão reprimida há anos. 

Quando Cecília e a mãe tem uma briga feia, é na casa da amiga que a menina se refugia. Só que não vai ser tão simples assim viver embaixo do mesmo teto que o carinha por quem ela supri um amor antigo. 

Tá, explicando desse modo, fica parecendo que o relacionamento do casal vai ser o principal da história, e passa longe de ser. Por esse motivo eu achei, desde o início da leitura, que o livro deveria ser narrado apenas pela Cecília. Uma pessoa que sofre os tipos de complexos que ela sofre é um tanto única, e é legal observar dentro da cabeça de cada pessoa que passa por isso, sem interferência de palpites externos. Na real? Para mim não fazia diferença alguma os capítulos de Bernardo. É um mocinho fofo, mas fraco se analisarmos o contexto geral da história. Cecília era a peça de ouro de Céu sem Estrelas, e me contentava tranquilo só com a visão dela dos acontecidos. 

Outra coisa que acho importante observar, é que a questão de Cecília se incomodar tanto com o peso não fica exatamente clara no início, como é o caso do personagem do livro Quinze Dias, do Vitor Martins. Ali você observa de cara que o guri tem um problema com o corpo. Aqui precisei de algumas páginas para entender que Cecília era complexada com isso. Não sei como me sinto em relação a esse "deixar um pouco de lado". Se me incomoda, ou se fico feliz por ela ter momentos de simplesmente esquecer essa neura. No fundo acho que esperei que os momentos de maluquice com o corpo dela fossem mais fortes. Tipo a neura do TOC da protagonista de Tartarugas até lé embaixo (detesto aquele livro, mas amo a construção da personagem).

Cecília tem um relacionamento horroroso com a mãe dela, e não sei se entendi a motivação dessa mãe. Comecei e terminei o livro sem entender a cabeça da mulher, e também não sei como me sinto em relação a isso. Viram como tem muita coisa aqui que me deixou de stand by enquanto resenhista literária?  Porque as ideias lançadas da autora são boas, mas as resoluções delas deixa bastante a desejar. 

Todo livro com personagem complexado tem o seu ápice. No caso de Céu sem Estrelas, esse ápice acontece perto do fim. Entendi aquilo? Não também. Porque a personagem vinha de bons momentos na vida dela. De decisões acertadas e comportamentos decentes. E, do nada, a mulher surta. Tá, ok, as pessoas sabem o limite de até onde podem chegar, mas essa forçada da situação da explosão de Cecília não rolou comigo. Precisava de um disparo, sabe? Um disparo emocional que não aconteceu.  

Enfim, é um livro com bons temas e personagens interessantes, só acho que pecou um pouco com certas conclusões. Penso que seja importante por diversos motivos, e é um dos livros que eu trabalharia em escolas, se fosse professora. Porque ainda que não tenha rolado 100% como narrativa ficcional, ele funciona como uma sacudida na cabeça da garotada.