Marvel's Daredevil (no Brasil, Demolidor), ou simplesmente Daredevil, é uma web série americana de televisão desenvolvida para a Netflix por Drew Goddard, baseado no personagem da Marvel Comics com o mesmo nome. Ela está inserida no Universo Marvel Cinematográfico, compartilhando a continuidade com os filmes da franquia, e é a primeira de quatro séries sobre super-heróis que futuramente irão se unir em uma equipe, levando à minissérie Marvel's The Defenders . É produzida pela Marvel Television em associação com a ABC Studios, DeKnight Prods. e Goddard Textiles.
Foi depois de Daredevil que percebi que existia de fato um amor platônico entre minha pessoa e as séries do Netflix. Apesar de não amar todas, as que amo são aquelas que só paro de ver depois que vi a temporada inteira. Foi o que aconteceu com Marco Polo, Hemlock Grove e House of Cards.
Que uma coisa fique bem clara aqui, não sou fã de quadrinhos de heróis. Os únicos quadrinhos que li na minha infância foram os que todas as crianças leram, e que não inclui os da Marvel. Na verdade percebi esses dias que eu nem saberia por onde começar a ler algo de heróis. Sim, sou uma completa tapada para isso.
Contudo, como vocês podem perceber na trajetória do Irreparável, sou a maior fanzoca desses carinhas no cinema. Fico rindo a toa quando paro para pensar nos vilões de Batman, ou na trajetória de crescimento do Homem Aranha. Minhas paixões eternas são Loki, de Thor, e o V, de V de vingança. E, apesar de ter odiado o filme do Demolidor, a bexiga do herói entrou na minha curta lista de heróis favoritos simplesmente por causa de uma série. Dessa série.
Assisti o primeiro episódio super despretensiosamente. Estava meio entediada, queria tentar uma série nova e BAM, fui jogada em Hell's Kitchen e totalmente tragada pelo submundo desse lugar. Pelos vilões de caricaturas culturalmente sociais, e pelo mocinho que praticamente não tem cara de mocinho, mas que ganhou meu coração logo em uma das primeiras frases.
"Não vim pedir perdão pelo o que fiz, padre, mas pelo o que ainda vou fazer". (Corações aqui)
A série já começa com o Matt adulto, abrindo a empresa de advocacia ao lado de Foggy, seu melhor amigo, e pegando um caso sobre um assassinato suspeito onde uma tal de Karen tinha sido acusada. Também vemos o lado cruel da série, com o grupo tão variado de pessoas que tomaram as ruas escuras e perigosas da cidade. Trafico humano, narcóticos, assassinatos cruéis...Um leque aberto de tipos comuns em histórias onde existem inimigos para mocinhos bem humanos.
Por mais que se saiba que O Demolidor é um cara com instintos muito mais apurados do que qualquer cego, provavelmente por conta da intoxicação que teve quando era criança por conta de um produto químico, ele segue a linha de vilão humano. E o que quero dizer com isso? Ele não voa, não tem teias saindo do braço, não vira um monstro ou usa um martelo de poder. Matt Murdock sangra, e muito!Nem o Batman, que também é um herói terreno, mas que tem uma vasta cadeia de vilões incríveis, sangra tanto como esse cara. Pessoalmente? Nunca gostei do homem morcego, e nem gostava do Demolidor antes, mas a sensibilidade com a qual os roteiristas criaram esse personagem aqui despertou meu instinto materno, fraterno e todos os instintos de proteção que poderia ter com um personagem.
Acho que o segredo de Daredevil foi justamente o roteiro. Ele é incrível e te suga de maneira que você nem percebe que está sendo sugado. A todo momento você entra no conflito do herói sobre fé e justiça. Matt é extremamente católico, e ser um cara que bate em outras pessoas sendo católico é bem complicado. Ele se culpa por fazer o que faz, mas acha que algo precisa ser feito e tem que ser feito por ele, porque ele pode fazer. A corrupção tomou uma proporção em Hell's Kitchen, que até quem está assistindo sente que precisa fazer alguma coisa em relação a aquilo, imagina ele que mora lá e tem instintos bizarros!
A construção do personagem o torna humano de uma forma singular. Claro que tem seus monstros, ou não faria o que faz. Mas o incrível é que seus monstros poderiam facilmente ser os meus os seu, que está me lendo agora. Na verdade, assistindo Daredevil eu senti que se tivesse a capacidade de fazer alguma coisa, também o faria. A desumanidade começa quando você pode fazer algo bom e não faz por omissão. Mesmo que para chegar ao algo bom precise passar por algo ruim. Ou fazer algo ruim a alguém.
Até o Wilson Fisk, o nosso vilão FODA da vez, é humano. Não sei se porque o ator está divino no papel, ou se porque o roteiro o criou tão incrível mesmo - ou os dois - mas Fisk é quase tão humano quanto o próprio Matt. A questão dos flashback dos personagens dá essa humanidade da qual estou falando. As passagens de infância deles são cruéis e tristes, e quem parar para pensar vai entender que as vezes não dá para fugir de uma determinada situação sem ser mal, saca? É como se com Fisk você entendesse um pedaço da cabeça de Matt, e vice e versa. É genial!
Um dos maiores símbolos dessa série foi um quadro que o Fisk comprou numa galeria de arte. Um quadro branco e texturizado que aparece na primeira vez que o personagem se mostra na série, e também na última aparição dele. É um ciclo de uma ideia que se inicia com aquilo, vai para infância para entendermos o significado, e volta para a fase adulta dele e te enche de uma sensação de que nada está concluído, e que você entende o que ele está sentindo.
Eu nem vou comentar a fotografia incrível dessa série porque seria desonesta com vocês. Nada que eu diga pode explicar como ela é maravilhosa, e vocês precisam assistir para senti-la, Planos sequenciais de tirar o fôlego e cenas de luta arrepiantes. Não tem como explicar esse elemento sem que vocês vejam, mas posso deixar um gostinho bom do que esperar por aqui. Vejam o vídeo abaixo e prestem atenção como não tem um único corte de câmera nessa cena inteira. A bexiga da câmera é uma expectadora quase palpável desses cinco minutos. É de fazer babar.
Uma das melhores - e filosóficas - cenas dessa série é uma conversa que Matt tem com o padre da igreja onde ele frequenta, acho que no episódio 9. Não sou muito inclinada a igreja católica, mas frequentaria uma missa que esse cara rezasse com prazer. A cabeça desse padre é incrível, e os diálogos que ele tem com Matt chegam a ser heresia em alguns momentos, mas também uma mostra de um determinado tipo de fé que talvez tenha se perdido na humanidade de hoje.
Não tenho mais argumentos para convencer vocês de que precisam ver Daredevil. Não pensem em uma série de heróis, apenas. Pensem numa série de pessoas com capacidade de mudar o mundo, e nem precisa de super poder para isso. Sendo sincera? Eu praticamente chorei quando o ator apareceu com a roupa vermelha a qual estamos acostumados a ver nos desenhos. Era uma conquista dele, mas também uma conquista minha, que estava só assistindo. Era a força que Matt precisava para fazer o necessário, e minha força para entender que ele tinha que fazer aquilo. Botei meu instinto de proteção pela cara de lado e torci por ele, mesmo que se arrebentasse no fim. Se tem uma coisa que você aprende assistindo Daredevil, é que ele suporta muito mais do que aparenta suportar, e que você, só um expectador daquilo, tem que aguentar com ele.
Se dispam de preconceitos a super heróis e assistam!