[Trecho de Terça] O Evangelho Segundo Hitler


Eis um livro que me despertou curiosidade simplesmente por aparecer num site importante, através de um colunista de literatura citando as obras modernas brasileiras que deveriam ser lidas. E então, comentando sobre esses livros com um amigo que trabalha com literatura no Sesc, ele disse que tinha O Evangelho em casa e que me emprestaria se eu quisesse. Claro que quis! 
Imagina a minha surpresa quando comecei a folhear e percebi que o livro é muito mais do que o título diz, e é justamente isso ao mesmo tempo. 

"Engraçado. Aprendi - somos obrigados a aprender - que Judas é o grande vilão e nunca paramos para pensar no ato horrendo perpetrado pelo fundador da Igreja. Por acaso a cobiça é um crime maior que a covardia? Judas ainda tem atenuantes. Poderia, quiçá, precisar do dinheiro, poderia passar por necessidades financeiras. A covardia não. A covardia é vilania pura da alma. Marca nasciturna que não sai com banho ou com reza, signo de nascença, sem justificativas e sem perdão. Judas traiu no silêncio; apenas os romanos foram testemunhas de sua delação. Pedro não. Pedro fez pior: traiu Jesus em frente; negou Cristo olhando em seus olhos. Não é verdade o dito popular que o que os olhos não veem o coração não sente? Judas cometeu seu delito em segredo. Com os romanos, combinou apenas um código de delação. Poderia ter gritado, apontado dedo em riste, palavras injuriosas: "Este é o Rei dos Judeus". Seu ato foi secreto e, de toda forma, mais respeitoso que o de Pedro."