Resenha de "As Cavernas de Aço" (Isaac Asimov)

Título: As Cavernas de Aço
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph (Compra)
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Sinopse: As Cavernas de Aço - Este é a nova versão do livro antes lançado no Brasil como "Caça Aos Robôs" pela editora Hermus e em 2013, relançado pela editora Aleph com o nome de "As Cavernas de Aço", tradução mais correta do original Caves of Steel.
Em Nova York, o investigador de polícia Elijah Baley é escalado para investigar o assassinato de um embaixador dos Mundos Siderais. A rede de intrigas envolve desde sociedades secretas até interesses interplanetários. Mas nada o preocupa tanto quanto o seu parceiro no caso, cuja eficiência pode tomar o seu emprego, como acontecera com seu pai no passado. Pois seu parceiro é um robô. Publicado no início da década de 1950, As Cavernas de Aço é o primeiro romance do consagrado Ciclo dos Robôs de Isaac Asimov, mesclando de forma magistral os gêneros de ficção científica e literatura policial.

Minha vontade de ler Asimov não é de hoje. Na verdade no meu Kindle tem vários livros dele em inglês, de uma série pouco conhecida aqui. Contudo nunca comecei a lê-los. Se eu for parar para contar quantos livros tem no meu Kindle que estão criando teias digitais, passarei o dia inteiro escrevendo. 

O fato é que acabei conseguindo encaixar esse livro em compras recentes, e sim, ele é um tanto caro. Sou dessas que acreditam que autores que já são clássicos dentro do seu gênero e que são antigos, não deveriam ter seus livros num preço tão inacessível. Como ter acesso a alta literatura dessa forma? 

Mas enfim eu comprei, e fiquei pulando aqui por isso. Está na minha Wishlist outros livros do autor, incluindo a série de A Fundação, que é provavelmente sua principal série dentro da ficção científica. O pai da robótica na literatura fez seu sucesso com as três leis, mas foi com A Fundação que ele ganhou fama intercontinental. 

Mas do que se trata Cavernas de Aço?

Somos apresentados de início a Bailey, um policial de um mundo totalmente diferente do que temos hoje. E o autor faz questão de frisar esse fato logo nas primeiras páginas. Através do secretário da delegacia, que é um robô e que substituiu um homem ali dentro. Ou através da vista que temos da janela da sala do chefe de Bailey, que é totalmente artificial e montada. Então o termo Cavernas de Aço fica visível assim que somos apresentados ao livro. É ali que entendemos que a humanidade vive em cidades de aço. Como se fossem cúpulas protegidas do mundo do lado de fora e todos os seus aspectos destrutivos, que é como as coisas estão naquele momento. 

Bailey se insere na trama quando seu chefe o pede para pegar um caso que sabe ser complicado para o policial, que é totalmente medievalista em relação aos costumes. Ou seja, odeia robôs e pessoas de outros mundos. Odeia a tecnologia moderna. 

Um assassinato ocorre na Vila Sideral, um lugar afastado das Cidades de Aço onde moram pessoas de outros planetas que fizeram a Terra de colônia. É tudo muito político quando se trata desse povo, e talvez o leitor se passe um pouco a princípio com esse aspecto. Para entender quem eles são e o que fazem ali, e porque Bailey, um policial humano, teria que resolver um caso de um ambiente que não segue leis humanas. E daí a gente volta a política para sacar que Bailey resolver esse problema chega a ser uma necessidade para evitar algo maior. 

E o coitado além de ter contato com o pessoal da Vila Sideral, também precisa trabalhar com um novo parceiro. Nada mais, nada menos que um robô chamado Daneel, a quem Bailey tem um verdadeiro asco. Mas não entendam como um lado pessoal. Por Bailey ser medievalista, ele não concorda com robôs inseridos nas cidades de homens. 

Na verdade a maioria das pessoas das Cavernas de Aço tem aversão aos robôs. Afinal, eles estão tirando seus empregos e os descendo na classificação social de onde vivem. Isso gera comida de baixo nível, alojamento precário e uma série de vetos que meio que os torna estorvos até para suas próprias famílias. 

Então trabalhar com Daneel só se torna possível porque ele aparentemente não tem aspecto algum robótico. Impossível de ser detectado a olho nu, os dois passam a investigar esse assassinato dentro da Nova York de A Caverna de Aço. Tentar descobrir em tempo recorde quem matou, como e o motivo antes que uma catástrofe seja efetuada. Sim, quase um jogo de Detetive com cronômetro ligado. 

Por mais que Cavernas de Aço tenha chamado minha atenção de primeira por conta dessa parte ativa da investigação de Bailey e Daneel, não foi ela quem me prendeu. Na verdade, tive muita raiva de Bailey em alguns momentos por tomar decisões precipitadas movido ao seu gosto pelo antigo. A parte investigativa portanto é demorada de desenrolar, e quando você acha que está chegando em algum lugar, se enrola mais ainda e não foi para canto nenhum. Fica rodando em círculos. 

Confesso que eu entendi quem tinha sido o assassino muito cedo. Não porque sou boa investigando, acredite, não sou. Mas o leque de personagens que abrem espaço para um determinado assassinato era restrito. Não tinha muito no que pensar. Não tinham opções para aquilo. E por fim acertei exatamente por falta de opção. Só precisei entender como e porque. 

Mas então onde está a maestria desse livro? No diálogo que o autor trava com o leitor o tempo inteiro sobre a filosofia de vida e os extremos que um ser humano é capaz de fazer por uma ideia de liberdade. A robótica é um pano de fundo que serve de vilão para a sociedade tratada em Cavernas de Aço. Só que Bailey, após Dannel, vai entendendo que existem opções para a humanidade onde antes ele não as enxergava. Os robôs estão tomando conta do mercado? Sim, mas não dá para limitar a vista ao problema sem abrir espaço mental para solução. E o detetive vai percebendo isso aos poucos. 

E mesmo um livro escrito em 1953, ainda se torna visionário para nós hoje em dia. Quantas pessoas não perderam o emprego com a Revolução Industrial por serem substituídas por máquinas? E quem nos garante que o a parte ativa da população ainda não possa vir a perder no futuro? Estamos em um mundo altamente tecnológico, e não há como regredir em relação a isso. 

Tudo bem que nós somos os seres pensantes. Mas digamos que no mercado de trabalho só 30% trabalha dando as ideias. O resto do pessoal põe a mão na massa para desenvolver o que aqueles 30% pensaram. Então a realidade de Cavernas de Aço chega a incomodar o leitor imensamente por ser possível. Não dá para criticar Bailey por ele ser medievalista. Talvez você também fosse se um robô tivesse tirando teu emprego e te colocando na miséria por fazer seu serviço mais rápido e mais barato. 

E não é só esse diálogo trabalhista que mexe com o leitor. As perguntas de Dannel sobre religião e fé como um todo são incríveis! O melhor diálogo deles é sobre isso. Como se explica a alguém que não sente a ideia de fé? E digo para vocês que Asimov soube transformar um debate teológico em uma aula de auto reconhecimento. Gênio!

Como disse, a maestria desse livro não está na ação de desvendar um mistério, mas nas conversas filosóficas que o autor tem com quem o lê. Demorei mais na leitura do que achei que demoraria, mas ela valeu cada momento ao lado de uma máquina e um homem que talvez tivessem motivos diferentes para fazer o que fazem, mas que se assemelhavam bastante em dúvidas materialistas sobre o mundo de forma geral. Não é porque você sabe o que é fé que vai entender como usá-la. 

Super recomendo o livro para quem gosta de Ficção Científica inteligente.