Resenha de "A Mão que me acariciou primeiro" (Maggie O'Farrell)

Título: A Mão que me acariciou primeiro
Autor: Maggie O'Farrell
Editora: Bertrand (Cedido em Parceria)
Adicionar: Skoob

Sinopse: A Mão Que Me Acariciou Primeiro - Neste fascinante romance, Maggie O’Farrell nos apresenta a incrível história de duas mulheres separadas no tempo, mas com o mesmo destino marcado pela arte, pela maternidade e por inúmeros segredos. A mão que me acariciou primeiro é uma assombrosa investigação sobre como conduzimos nossas vidas, quem somos de verdade e como podemos estar profundamente conectados pelos mais prosaicos acontecimentos.




O que me chamou atenção nesse livro em primeiro lugar foi o título. Existe um certo fascínio nas palavras arrumadas dessa forma " A Mão que me acariciou primeiro". E em conjunto com o jeito como as mulheres estão mostradas em lados opostos, e tristemente direcionadas uma para a outra, é que o negócio ficou chamativo para minha alma poética e fotográfica. E não tem uma palavra que revele melhor o que significa esse livro para mim do que poesia. 

Temos dois momentos históricos e duas protagonistas fortes e importantes. Uma delas é Alexandra, que mora em uma pequena cidade do interior e odeia aquele mundo quadrado no qual vive. Uma menina nova e altamente visionária que quer da vida muito mais do que cuidar de bichos e bebês em fazendas. A outra é Elina, que acaba de ter um bebê, mas que não lembra como isso aconteceu. Ela teve uma perda de memória de dias, desde que entrou no difícil trabalho de parto, até acordar ao lado do filho, já em casa. 

Ambas mulheres tem suas vidas modificadas por homens e decisões importantes relacionadas a eles. Lexie, nome que Alexandra assume depois que conhece Innes, o dono de uma revista de arte bem mais velho do que ela. E Elina tem Ted, o namorado que trabalha com edição de vídeos e que é altamente amoroso e adepto a ideia de terem um bebê em casa. Meio que Innes seria a tempestade e Ted a calmaria. 

Lexie vemos mudar muito no decorrer da narrativa, já Elina está passando por um processo estranho que beira a depressão pós parto, originada principalmente por quase ter morrido durante o nascimento do filho e não ter a mínima noção de como isso aconteceu. Uma quer conhecer o mundo e a outra quer entender a si mesma. 

O leitor percebe de cara que em algum momento algo irá ligar essas duas mulheres. Sabe-se que são lugares diferentes da linha do tempo porque Lexie vive em uma época bem anterior a de Elina. E isso não é aparente por datas marcadas pela autora, mas pela tecnologia que já existe no tempo de Elina e que não tem no da outra. Sem contar uma questão forte cultural de mulheres tentando a vida sozinhas, sem depender de casamento e homem, que Lexie passa a conviver com dificuldade e uma força pouco convencional de espírito. 

Em resumo, a autora foi fantástica em fazer esse bate e volta do tempo sem parecer forçado e nos deixando totalmente cientes de que não eram mulheres que se encontrariam na esquina de suas casas, por exemplo. Isso deixa um ar de mistério tão grande na leitura, que você acelera o ritmo só para descobrir em que momento e em que situação isso acontece. 

Ambas são incríveis. Contudo Elina está passando por um momento muito depressivo, e eu demorava bastante nos capítulos dela. Era uma introspecção meio enganativa, e não posso explicar mais nada sobre isso sem soltar spoiler. Só entendam que quando o assunto é Elina, a preocupação do leitor se foca em algo que não necessariamente precisa de foco para entender o entrelaçar das histórias. 

Os momentos de Lexie eram mais frenéticos e intrigantes. Tinham acontecimentos ao redor dela, não dentro da personagem, como era o caso de Elina. Eu me apaixonei pela força de Lexie. De início parecia birra de menina nova, mas depois a gente entende que aquilo ali é a personalidade impossível da mulher, e ela acaba tomando o coração do leitor justamente por ser chata e decidida demais. 

Ambas mulheres também estão envoltas com arte, de modo geral. Elina é pintora e Lexie vai trabalhar numa revista de arte, e depois acaba sendo redatora dessa coluna em uma grande rede. Entende de quadros pelo tempo que passa ao lado de Innes, um completo adorador da arte. 

Ainda que os personagens masculinos sejam as veias condutoras dessa história, afinal é através deles que as coisas acontecem, não é um livro sobre eles. É sobre essas duas mulheres que passam por coisas terríveis, mas que são fortes e centradas para conseguir se reerguer e andar novamente. 

Tem momentos de fazer chorar, o que fiz com vontade. As últimas páginas são lindas, e me fez perdoar muitas atitudes imbecis de alguns personagens. Acho que o livro fala muito sobre redenção, também. De uma forma pessoal e geral. 

Um livro denso, poético, carregado de sensibilidade e força feminina. Difícil de ler em algumas passagens, mas completamente enebriante em outras. Desses que a gente leva para a vida, de tão bom que é.