Autor: Patrick Modiano
Editora: Record (Cedido em parceria)
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Sinopse: Primavera de Cão - Aos dezenove anos, numa manhã da primavera de 1964, o narrador encontra o fotógrafo Francis Jansen. Ele trabalha em Paris para uma revista norte-americana, foi amigo de Robert Capa, encontrava-se com uma mulher chamada Colette Laurent que agora o procura incessantemente, guarda todas as suas fotos em três maletas, e desaparece sem deixar vestígios.
Homem evasivo e misterioso, Jansen faz parte da galeria de tipos que, como só Patrick Modiano é capaz de descrever, prefere o silêncio e as reticências às palavras. O narrador retorna a bairros afastados, tenta reencontrar pessoas perdidas, e busca romper a camada de silêncio e de amnésia ao seu redor. As silhuetas lhe escapam; depois de trinta anos, os rostos já não estão nítidos. Ele deseja recuperar o passado, para que se torne algo além de fragmentos distantes e ausentes. Tudo lhe causa uma sensação de irrealidade. E é na busca do passado, de Francis Jansen e de tantos outros, que sua identidade é rememorada.
Eis um daqueles livros pequenos que podem ser encarados como obras de arte complexa ou uma viagem da cabeça do autor. Isso vai depender de quem estiver lendo, e de que momento da vida estiver lendo. Para mim Primavera de Cão foi um pouco dos dois, mas confesso que esperei mais de um autor que ganhou um prêmio Nobel de Literatura. Ou talvez minha mente seja tacanha demais para entender a grandiosidade que poderia ter sido esse livro.
A maioria das resenhas que li sobre ele foram complexas e profundas. Então vou tentar uma linha diferente e um pouco mais simples. A começar pelo enredo, que gira em torno do narrador quando conhece o fotógrafo Francis Jansen, em Paris. Tal narrador, ainda novo, acaba sendo produto de um trabalho qualquer do fotógrafo, e isso gera uma aproximação dele para com o artista.
Logo de cara sabemos que duas pessoas foram importantes para a vida de Jansen. Um amigo e mentor chamado Robert Capa, e uma tal de Collete Laurent. Não que o próprio tenha falado da vida dele para o narrador, mas é um livro onde o visual conta bastante, e quando as fotografias de ambos são reveladas, são elas que contam a história que o narrador cria para ambas figuras.
Jansen é taciturno e discreto. É um mistério durante o livro inteiro. Acompanhamos o narrador sendo seu ajudante. Organizando o acervo de fotos de Jansen em um catálogo. Mas pouco se vê do próprio fotógrafo. Alguns mistérios permeiam a leitura em relação a ele, mas nada que se possa explicar, e por isso desanimei quando cheguei ao fim.
É um livro curto. Duas horas com ele e você termina numa boa. O problema é a reflexão que fica quando termina. Como comentei, ela vai de cada leitor e da época em que se está lendo. Para mim funcionou mais como um livro de memórias sobre um garoto que conheceu um grande artista recluso, que nada sabe sobre ele, mas que fica vidrado pelo cara. Que vai em busca de uma história que não quer ser revelada, e que de fato não é até mesmo ao final do livro.
E daí você pensa... é um livro bom porque deixa milhões de possibilidades e aberturas para todos os lados da trama? Ou é um livro ruim justamente por isso? O que os críticos veem como fabuloso pelo estilo da narrativa do autor - que de fato é divina - e pelo tanto uso de metalinguagem, algumas pessoas vão achar enfadonho e certamente pensar que foram enganadas no fim.
Eu fiquei em cima do muro. Acho que ainda estou em dúvida quanto ao que achei. Vou ler os outros dois volumes que fazem parte dessa trilogia de livros meio biográficos e independentes, e tomar uma decisão final sobre o que significou para mim ter lido os livros de Modiano. Até então estou naquela zona neutra, procurando absorver os pontos positivos de maneira a me envolver com eles, mas sem muito sucesso. Gosto de imaginar coisas sobre livros, mas também curto ser conduzida até elas.