Resenha de "As estranhas e belas mágoas de Ava Lavender" (Leslye Walton)

Título: As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender
Autor: Leslye Walton
Editora: Novo Conceito (Cedido por parceria)
Comprar: Livraria Saraiva

Sinopse: As estranhas e belas mágoas de Ava Lavender - Gerações da família Roux aprenderam essa lição da maneira mais difícil. Os amores tolos parecem, de fato, ser transmitidos por herança aos membros da família, o que determina um destino ameaçador para os descendentes mais jovens: os gêmeos Ava e Henry Lavender. Henry passou boa parte de sua mocidade sem falar, enquanto Ava que em todos os outros aspectos parece ser uma jovem normal nasceu com asas de pássaro. Tentando compreender sua constituição tão peculiar e, ao mesmo tempo, desejando ardentemente se adaptar aos seus pares, a jovem Ava, aos 16 anos, decide revolver o passado de sua família e se aventura em um mundo muito maior, despreparada para o que ela iria descobrir e ingênua diante dos motivos distorcidos das demais pessoas. Pessoas como Nathaniel Sorrows, que confunde Ava com um anjo e cuja obsessão por ela cresce mais e mais até a noite da celebração do solstício de verão. Nessa noite, os céus se abrem, a chuva e as penas enchem o ar, enquanto a jornada de Ava e a saga de sua família caminham para um desenlace sombrio e emocionante.

Quando Ava Lavender chegou aqui em casa a única coisa dele que eu sabia era que a capa era lindíssima e que não entendia muito bem o que a sinopse queria dizer. Metatexto? Sentido literal da coisa? Eu não sabia, mas estava muito curiosa para descobrir. E quando eu finalmente consegui pôr nas minhas leituras da maratona, fiquei imensamente grata por tê-lo escolhido. Foram algumas horas muito prazerosas e viciantes ao lado da família de Ava. 

O que posso dizer do enredo é que o livro vai trazer a história de algumas gerações dessa família; de algumas mulheres da família. E apesar de parecer longo quando me refiro a gerações, não tem nada disso. O livro é fino, mas a autora conseguiu pôr vida e longevidade em cada página curta da sua história. Eu realmente me senti atravessando a vida de todas essas mulheres como se estivesse passando pelos problemas com elas, e não lendo um livro. É intenso e te prende de uma forma cativante e amorosa. Não desgrudei do livro até chegar ao final dele. 

Contudo Ava não é livro que agradará todos os públicos. É uma realismo fantástico, tipo o filme Peixe Grande, e as vezes você não sabe se está lendo o real da coisa ou se é apenas uma interpretação lírica para ela. Ava Lavender tem asas de fato ou isso é só um nome que abre espaço num sub texto muito maior sobre liberdade? A bisavó dela realmente foi sumindo aos poucos ou é apenas uma forma de dizer que a mulher era tão sofrida que o tempo a apagou? 

O livro é cheio de histórias desse tipo: Menina com asas, pessoas literalmente sumindo, outras virando pássaro. É tanto coisa irreal que as vezes você se sente meio enganado sobre o que está lendo. Pessoalmente achei genial porque ela trabalha com as personalidades de cada personagem usando algo do fantástico, e isso transmite o emocional de cada um. É como se usasse da magia para explicar os sentimentos de liberdade ou raiva que temos. A autora é uma poeta escrevendo em prosa. Ela usa de metalinguagem o tempo inteiro durante a narrativa e no meu ver não ficou cansativo. Muito pelo contrário, ficou estupendo. 

Apesar do nome do livro se referir especificamente a Ava, ela é só um ponto pequeno quase no final do enredo. Pessoalmente me senti mais apegada a história da mãe dela do que dela. Sabemos que fomos preparados desde o inicio do livro para o momento em que Ava apareceria, mas tem tanta coisa e tanto personagem incrível de fundo que não dá para simplesmente torcer só por Ava. 

O final é um dos mais bem escritos que já li na vida. Me lembrou muito filmes onde o crescente psicológico dos personagens levavam a uma tensão final emocionante. Sabe aquele clima do final do filme Beleza Americana? Pois é, foi justamente daquela forma que me senti. Apesar do livro não ter viés de roteiro, ele tem a magia e inteligência de um. Assistindo Birdman nos últimos meses, me dei conta de Ava Lavender ganharia fácil um prêmio de roteiro, de tão genial que a história é, e  tão bem feito o caminho que a conduz até o fim. 

Não é um livro para todo mundo. Certamente algumas pessoas terminarão de ler com a ideia de que nada foi acrescentado em suas vidas depois dele. Bom, na minha acrescentou muito. Como escritora, como leitora, como blogueira, mãe e uma infinidade de coisas que são realistas e fantásticas dentro de mim, mas que as vezes não tenho coragem de pôr para fora. 

Um livro meio louco? Talvez. Com personagens complicados demais? Certamente. Mas e a merda das nossas vidas também não são assim? Cheias de momentos malucos e pessoas estranhas. Não tem nada demais em querer incluir um pouco de mágica na mesmice de viver. Foi nisso que Ava me cativou. Pegou coisas banais e me devolveu uma capacidade de enxergar poesia até na nos momentos porcarias da vida. 

Um livro lindo, mas é preciso ter cabeça aberta para se adaptar a realidade existente nele. Um dos meus prediletos desse ano sem sombra de dúvidas.