Autor: Grupo (SIC)
Editora: Novo Século
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Sinopse: Entre quatro poderes - O prefeito de Suares, uma pequena cidade do estado de São Paulo, passa por um momento crítico. Com a Polícia Federal em sua cola e sua vida pessoal desmoronando, o império construído com sangue e mentiras está prestes a ruir. Churrasco, envolto pelas sombras da vida pública, descobriu da pior forma possível que a caminhada de um político pode ser solitária e que cada decisão tem um preço. Só resta saber o quanto ele está disposto a pagar. No final das contas, todos conhecem a vida do homem público, mas sempre existe a história por trás da história.
Ser blogueiro literário é complicado nesse país. Corremos um bocado em busca daquilo que possa dar um retorno ao blog, e ainda temos um dever com a cultura nacional. Ou seja, somos promotores culturais em tudo o que postamos e fazemos nesse espaço da internet. Então quando um autor nos procura oferecendo uma obra, a sensação é a de que estamos fazendo um bom trabalho, já que alguém nos achou e se interessou pelo o que falamos. Ótimo saber que não escrevemos para nós mesmos!
Foi assim que recebi Entre Quatro Poderes. Uma obra com um cunho totalmente político que me deixou enojada e um pouco desgostosa de ser brasileira porque apesar de ser uma obra de ficção, ela é bastante real. Todos os quatro autores - sim, o livro foi escrito por oito mãos - tinham autonomia para falar do assunto. Não tem nada de novo, só que eles colocam numa visão interna da coisa, e dai fica mais nojento do que já sabemos que é.
O protagonista principal desse livro é Churrasco, mas ele não é o único ponto por onde acompanhamos a história. Começamos por ele na época em que era criança, e como ele chegou até o meio político de uma cidadezinha chamada Suares, no interior de Sampa. Além dele temos vários outros momentos com outros personagens, o que nos faz pensar que talvez o protagonista não seja de fato Churrasco, mas a cidade de Suares e a política dela, o que na verdade é só um pedaço para a política suja de todo país.
Os autores usam Churrasco para contar essa história suja, mas no meu ver ele foi uma vítima da condição social na qual vivia, e se entregou a ideia de facilitar sua vida através da política. De início tinha pensamentos sérios e uma vontade tremenda de mudar as coisas em sua cidade. Projetos bacanas e até disposição de sujar as mãos para fazer os projetos funcionarem. Mas como o coitado descobriu lá de dentro, é mais fácil seguir o curso da merda do que remar sozinho contra a maré. E não estou tirando a culpa que ele acaba tendo lá na frente - tive momentos de querer matar Churrasco pela inocência ridícula - mas meio que entendo como ele chegou nessa situação. Errou? Pra caramba! Contudo muito foi estupidez em confiar nas pessoas erradas.
De todos os personagens dessa história, Churrasco era para mim o menos odioso, e olhe que tive meus maus momentos com ele. Todos os outros eram tão podres que dava agonia. Sério, tinha muito tempo que não ficava nervosa com um grupo de personagens como fiquei com os desse livro. A todo momento pensava... Pior que as coisas por aqui são assim mesmo. E isso me deixou mal.
Com Entre Quatro Poderes eu pude entender um pouco como funciona certas atitudes corretas na política, e como é fácil conseguir fazer as erradas. Foi uma aula para mim que sou leiga no assunto, e só me fez entender porque não gosto de ver jornal na TV: A mesma podridão que eu li aqui eu vejo lá, e o negócio é real do lado de fora, o que causa uma revolta desconcertante.
Apesar da realidade com a qual eles mostram a história, eu senti um certo distanciamento emocional com os personagens e talvez isso tenha sido negativo para mim. Já esperava algo assim por ser escrito por quatro pessoas, contudo me incomodei mais do que achei que iria. São jornalistas escrevendo, e não romancistas. Então eles estão mais preocupados com os fatos do que com o desenvolvimento emocional de um personagem. Contudo é esse desenvolvimento que os torna humanos, e isso é muito importante na literatura.
Esse distanciamento não me chateou até perto do fim, quando vamos para o ponto de vista de uma detetive, e daí existe algumas coisas na vida pessoal dela que poderiam ter sido melhor abordadas. Eles até começaram bem com a humanidade dela, mas dai desandaram em algum ponto, deixando-a com algumas atitudes meio infantis. Não em relação ao caso em que estava trabalhando, mas a própria vida particular. Isso me irritou um pouco. Faltou aprofundamento em narrar a humanidade que existe até em quem se envolve nessas merdas todas. Entendi a proposta deles, mas como uma leitora assídua senti falta dessa aproximação emocional.
O final também me deixou meio chateada. É daquele tipo que você não sabe se é o final, ou se terá uma continuação. Sinceramente eu senti falta de mais um pouco. Só um fechamento de uma folha servia. Até gostei do que eles fizeram, começando o livro pelo fim e contando como tudo aconteceu até chegar nele, mas de fato eles poderiam ter estendido a resolução. Afinal de contas, todos estávamos esperando por ela.
Enfim, é uma aula de política para quem não entende, e para quem entende é um relato interessante do que acontece em uma cidade pequena do Brasil, que poderia ser a sua própria cidade. Se você for como eu, ficará revoltado com as coisas que tem escrito em Entre Quatro Poderes. É um retrato aparentemente fiel do que se passa nos bastidores do nosso país, e com o nosso dinheiro. É asqueroso e revoltante, mas real.