Atenção: Texto com spoilers do filme e do livro.
Eis uma cena que jamais vamos ver em IT quando se trata das telinhas, a temida cena do sexo grupal entre os meninos. Não vimos na primeira versão, e nem na segunda. E existem muitas razões para isso, não é verdade?
Não que o filme seja voltado para crianças, ainda que os protagonistas os sejam. É uma película de terror com cenas fortes. Então não, esse não o grande problema.
Ainda assim, o fato do filme não ser para os pequenos não muda o fato de que foi feito por eles. Temos um elenco de sete garotos no começo da adolescência que realmente não precisam passar por isso. É até proibido. Ok que os diretores poderiam ter usado computação gráfica e toda essa munganga tecnológica que temos hoje em dia, mas ele optou pelo simples e poético, e funcionou da mesma maneira. Talvez não tenha a mesma força semântica, mas tem força.
Os diretores encontraram uma saída que ficou plasticamente bela e que passou a mensagem de qualquer modo. Eles se amam, e é por estarem juntos que conseguem derrotar Pennywise e voltar em segurança para casa. Isso era tudo o que a cena de sexo descrita no livro de IT queria retratar: Que eles se completam e que um sem o outro nada seriam.
Quando eu terminei de ver o filme, o qual amo de coração, voltei para reler esse trecho da história e me emocionei. Acho que a primeira vez que li não captei como ela era simbólica e significativa para aquelas sete crianças, e para a gente, como leitor. O próprio autor falou em entrevista que ele não queria simplesmente falar sobre sexo, mas queria demonstrar a ruptura da infância desses meninos, e ele usou uma das coisas mais lógicas para exemplificar isso. Na verdade duas, porque teoricamente eles derrotaram o vilão e saíram daquele esgoto adultos em corpos de meninos. Uma jornada de herói perfeita.
A cena toda é muito bem conduzida, mesclando o passado e o presente deles adultos, e tudo vem através da memória de Beverly. Uma memória que volta a ajudá-la, porque no final das contas ajudou da primeira vez. A ela e aos outros meninos.
Ela é quem dá ideia para o plano, mostrando uma escolha delicada do autor em colocar a única mulher do grupo com a salvação da perdição psicológica deles. De se perder além dos becos infinitos do esgoto, mas dentro deles mesmos. Beverly usa o sexo para puxá-los e uni-los, e funciona perfeitamente. Todos acabam calmos e raciocinando melhor as possibilidades de sair dali.
Até a representatividade de Stan não conseguir concretizar o ato é muito significativo. Ele é único que não volta, e toda vez que penso nele não terminando aquela transa, penso nele se perdendo dentro dele a ponto de achar que aquilo tudo era demais para enfrentar de novo. Beverly lhes deu força e a certeza de que tudo poderiam depois daquilo.
É uma cena bonita. Sério mesmo. Bizarra, se você parar para pensar que eram só pré-adolescentes, mas muito bela.
Abaixo segue a cena, cortando apenas a visão de futuro que intercala a ela. Visto pura assim pode parecer meio ofensivo por parte do autor, mas acreditem que não é. Existe toda uma estrutura para se chegar a isso, e é uma estrutura com bases sólidas. Realmente funciona com o Clube dos Otários.
— Ah, caramba — disse Eddie…
quase gemeu. — Eu me esqueci dele. Claro que está, claro que está,
deve estar tão perdido quanto a gente, e a gente pode dar de cara
com ele a qualquer hora… Caramba, Bill, você não tem ideia
nenhuma? Seu pai trabalha aqui embaixo! Você não tem ideia nenhuma?
Bill
ouviu o distante trovão debochado da água e tentou ter a ideia que
Eddie e todos eles tinham o direito de exigir. Porque sim, correto,
ele os tinha colocado nisso e era responsabilidade dele tirá-los de
lá. Nada veio. Nada.
— Eu tenho uma ideia — disse
Beverly baixinho.
No escuro, Bill ouviu um som que
não conseguiu localizar imediatamente. Um som baixo e sussurrado,
mas não assustador. Em seguida, houve um som mais fácil de
identificar… um zíper. O que…?, pensou ele, e então entendeu o
quê. Ela estava se despindo. Por algum motivo, Beverly estava se
despindo.
— O que você está fazendo? —
perguntou Richie, e a voz chocada falhou na última palavra.
— Eu sei de uma coisa — disse
Beverly no escuro, e para Bill a voz dela pareceu mais velha. — Sei
porque meu pai me contou. Sei como nos unir de novo. E, se não
estivermos unidos, não vamos sair nunca.
— O quê? — perguntou Ben,
parecendo confuso e apavorado. — De que você está falando?
— Uma coisa que vai nos unir
pra sempre. Uma coisa que vai mostrar…
— N-N-Não, B-B-Beverly! —
disse Bill, compreendendo de repente, entendendo tudo.
— … que vai mostrar que amo
vocês todos — disse Beverly —, que vocês são todos meus
amigos.
— De que ela est… — começou
Mike.
Calmamente, Beverly cortou as
palavras dele. — Quem é o primeiro? — perguntou ela.
Eddie vem até ela primeiro
porque é quem mais está com medo. Ele vem até ela não como o
amigo daquele verão, nem como um breve amante agora, mas da forma
que teria ido até a mãe apenas três ou quatro anos antes, para ser
reconfortado; ele não recua da nudez macia, e a princípio ela
duvida até que ele sinta. Ele está tremendo e, apesar de ela
abraçá-lo, a escuridão é tão perfeita que nem de perto assim ela
consegue vê-lo; exceto pelo gesso áspero, ele poderia ser um
fantasma.
— O que você quer? — ele
pergunta a ela.
— Você vai ter que colocar seu
negócio em mim — diz ela.
Ele tenta recuar, mas ela o
segura e ele cede. Ela ouviu alguém, Ben, ela acha, prender a
respiração.
— Bevvie, não posso fazer
isso. Não sei como…
— Acho que é fácil. Mas você
vai ter que tirar a roupa. — Ela pensa nas dificuldades de lidar
com um gesso e uma camisa, primeiro separando-os e depois
juntando-os, e acrescenta: — A calça, pelo menos.
— Não, não consigo! — Mas
ela acha que parte dele pode, e quer, porque o tremor parou e ela
sente uma coisa pequena e dura no lado direito da barriga.
— Você consegue — diz ela, e
o puxa para baixo. A superfície debaixo das costas e pernas dela é
firme, similar à argila, seca. O trovão distante da água é
soporífero, acalentador. Ela estica os braços para ele. Há um
momento em que o rosto do pai dela interfere, implacável e ameaçador
(quero ver se você ainda está
intacta)
mas ela passa os braços ao redor
do pescoço de Eddie, com a bochecha macia encostada na bochecha
macia dele, e quando ele toca com hesitação nos seios pequenos, ela
suspira e pensa pela primeira vez Este é Eddie e se lembra de um dia
em julho (era possível que fosse apenas mês passado?) em que
ninguém apareceu no Barrens, só Eddie, e ele estava com vários
gibis da Luluzinha, e eles leram juntos durante quase toda a tarde, a
Luluzinha procurando amoras silvestres e entrando em todo tipo de
situação maluca com a bruxa Alceia e todo o pessoal. Foi divertido.
Ela pensa nos pássaros;
particularmente, nas gralhas, estorninhos e corvos que voltam na
primavera, e suas mãos vão até o cinto dele e o soltam; ele diz de
novo que não consegue fazer isso; ela diz que ele consegue, que sabe
que ele consegue, e o que ela sente não é vergonha nem medo agora,
mas uma espécie de triunfo.
— Onde? — diz ele, e aquela
coisa dura aperta com urgência a parte interna da coxa dela
— Aqui — Diz ela.
— Bevivie, vou entrar em você!
— diz ele, e ela ouve a respiração dele começar a assobiar de
forma dolorosa.
— Acho que é mais ou menos
essa a ideia diz ela, e o segura com delicadeza e o guia. Ele
empurra rápido demais, e ela sente dor.
Ssss! Ela inspira, os dentes
mordem o lábio inferior. E ela pensa nos pássaros de novo, nos
pássaros de primavera, enfileirados nos telhados das casas,
levantando voo sob as nuvens de março.
— Beverly? — diz ele com
insegurança. — Você está bem?
— Vai mais devagar. — diz ela
— Vai ser mais fácil pra você respirar. — Ele se move mais
lentamente, e depois de um tempo a respiração dele se acelera, mas
ela entende que não é por ter alguma coisa errada com ele.
A dor some. De repente, ele se
move mais rápido, depois para, se enrijece e faz um som, algum som.
Ela sente que isso é importante para ele, uma coisa
extraordinariamente especial, uma coisa como… como voar. Ela se
sente poderosa; sente uma espécie de triunfo subir com força dentro
dela. Era disso que o pai dela tinha medo? Bem, era para ter mesmo!
Havia poder naquele ato, havia mesmo, um poder arrebatador que ia até
o sangue. Ela não sente prazer físico, mas há uma espécie de
êxtase mental. Ela sente a proximidade. Ele coloca o rosto no
pescoço dela, e ela o abraça. Ele está chorando. Ela o abraça. E
sente a parte dele que fez ligação entre eles começar a murchar.
Não está saindo dela exatamente; está apenas recuando, ficando
menor.
Quando o peso dele se afasta, ela
senta e toca no rosto dele na escuridão.
— Você conseguiu?
— Consegui o quê?
— Seja lá o que for. Não sei,
exatamente.
Ele balança a cabeça. Ela sente
com a mão que está na bochecha dele.
— Acho que não foi exatamente
como… você sabe, como os garotos grandes dizem. Mas foi… foi
especial. — Ele fala baixo para que os outros não possam ouvir. —
Eu te amo, Bevvie.
A consciência dela falha um
pouco aqui. Ela tem certeza de que há mais conversa, em parte
sussurrada, em parte em voz alta, mas não consegue se lembrar do que
é dito. Não importa. Será que ela tem que convencer cada um deles,
tudo de novo? Sim, provavelmente. Mas não importa. Eles precisam ser
convencidos a essa ligação humana essencial entre o mundo e o
infinito, o único lugar em que o fluxo sanguíneo toca a eternidade.
Não importa. O que importa são o amor e o desejo. Aqui neste escuro
é um lugar tão bom quanto qualquer outro. Melhor do que alguns,
talvez.
Mike vai até ela, depois
Richie, e o ato se repete. Agora ela sente algum prazer, um calor
suave no órgão sexual imaturo e infantil, e fecha os olhos quando
Stan vai até ela. Ela pensa nos pássaros, na primavera e nos
pássaros, e os vê vezes seguidas, voando todos ao mesmo tempo,
preenchendo as árvores sem folhas por causa do inverno, viajantes na
onda da estação mais violenta da natureza, ela os vê levantando
voo vezes seguidas, com o bater das asas como o estalo de muitos
lençóis no varal, e pensa: Daqui a um mês, todos os garotos no
Parque Derry estarão com uma pipa e vão correr para não emaranhar
as linhas. Ela pensa de novo: Voar é assim.
Com Stan, assim como com os
outros, há uma sensação lamentável de sumir, de ir embora, com o
que quer que eles realmente precisem desse ato, perdido, ainda não
encontrado.
— Você conseguiu? — pergunta
ela de novo, e apesar de não saber exatamente o que quer saber, ela
sabe que ele não conseguiu.
Há uma longa espera, e Ben vai
até ela.
Ele está todo tremendo, mas não
é o tremor de medo que ela sentiu em Stan.
— Beverly, eu não consigo —
diz ele em um tom que finge lógica, mas não é.
— Consegue, sim. Estou
sentindo.
Ela sente mesmo. Há mais nessa
dureza, há mais dele. Ela consegue sentir embaixo da curva delicada
da barriga dele. O tamanho desperta uma certa curiosidade, e ela toca
de leve no volume. Ele geme contra o pescoço dela, e o sopro da
respiração faz o corpo dela ficar todo arrepiado. Ela sente os
primeiros fragmentos de calor verdadeiro percorrerem seu corpo; de
repente, a sensação nela é muito grande. Ela reconhece que é
grande demais (e ele é grande demais, será que ela consegue
recebê-lo dentro de si?)
e velho demais para ela, alguma
coisa, algum sentimento que anda de botas. É como as M-80 de Henry,
uma coisa que não foi feita para crianças, uma coisa que poderia
explodir e partir você em pedacinhos. Mas aqui não era o lugar nem
a hora para se preocupar; aqui havia amor, desejo e a escuridão. Se
eles não fizessem pelas duas primeiras coisas, sem dúvida ficariam
com a última.
— Beverly, não…
— Sim.
— Eu…
— Me mostra como voar — diz
ela com uma calma que não sente, ciente pelo calor fresco e úmido
na bochecha e pescoço que ele começou a chorar. — Me mostra, Ben.
— Não…
— Se você escreveu o poema, me
mostra. Coloca a mão no meu cabelo se quiser, Ben. Está tudo bem.
— Beverly… eu… eu…
Ele não está apenas tremendo
agora; está sacudindo por todo o corpo. Mas ela sente de novo que
esses calafrios não são só medo; parte é o precursor do ápice do
objetivo desse ato. Ela pensa no
(pássaro)
rosto dele, no rosto doce,
sincero e querido, e sabe que não é medo; é desejo que ele sente,
uma vontade profunda e apaixonada agora mal contida, e ela tem aquela
sensação de poder de novo, uma coisa que parece voar, uma coisa que
parece olhar bem do alto e ver todos os pássaros nos telhados, na
antena de TV do Wally’s, ver as ruas espalhadas como em um mapa,
ah, desejo, certo, isso era importante, eram amor e desejo que
ensinavam você a voar.
— Ben! Sim! — diz ela de
repente, e o controle é rompido.
Ela sente dor de novo, e por um
momento há uma sensação assustadora de ser esmagada. Mas ele se
apoia nas palmas das mãos e o sentimento some.
Ele é grande, ah, é sim. A dor
volta, e é bem mais profunda do que quando Eddie a penetrou
primeiro. Ela precisa morder o lábio de novo e pensar nos pássaros
até a queimação sumir. Mas ela some, e ela consegue esticar a mão
e tocar no lábio dele com um dos dedos, e ele geme.
O calor volta, e ela sente seu
poder passar para ele de repente; ela o cede com alegria e vai junto.
Há uma sensação de ser balançada, de uma doçura deliciosa e
espiralada que a faz começar a virar a cabeça impotente de um lado
para o outro, e um murmúrio sem melodia sair dos lábios fechados
dela, esse voo, isso, ah, amor, ah, desejo, ah, isso é uma coisa
impossível de se negar, prendendo, dando, formando um círculo
forte: prendendo, dando… voando.
— Ah, Ben, ah, meu querido, sim
— sussurra ela, sentindo o suor no rosto, sentindo a ligação
deles, uma coisa firmemente no lugar, uma coisa como a eternidade, o
número 8 deitado de lado. — Eu te amo tanto, querido.
E ela sente a coisa começar a
acontecer, uma coisa sobre a qual as garotas que sussurram e riem
sobre sexo no banheiro das meninas não fazem a menor ideia, pelo
menos até onde ela sabe; elas só ficam impressionadas com o quanto
o sexo deve ser esquisito, e agora ela percebe que para muitas delas
o sexo deve ser um monstro indefinido e não realizado; elas se
referem ao ato como Aquilo. Você faria Aquilo, sua irmã e o
namorado fazem Aquilo, sua mãe e seu pai ainda fazem Aquilo, e dizem
que nunca pretendem fazer Aquilo; ah, sim, era de se pensar que toda
a turma de quinto ano era feita de futuras solteironas, e está óbvio
para Beverly que nenhuma delas consegue desconfiar disso… dessa
conclusão, e ela só não grita porque sabe que os outros vão ouvir
e pensar que ela está muito machucada. Ela coloca a lateral da mão
na boca e morde com força. Ela entende melhor a gargalhada
espalhafatosa de Greta Bowie e Sally Mueller agora: os sete não
tinham passado a maior parte do verão mais longo e assustador da
vida deles rindo como malucos? Você ri porque o que provoca medo e é
desconhecido também é engraçado, você ri como uma criancinha ri e
chora ao mesmo tempo às vezes, quando um palhaço cabriolante de
circo se aproxima, sabendo que é para ser engraçado… mas também
é desconhecido, cheio do poder eterno do desconhecido.
Morder a mão não segura o
grito, e ela só pode tranquilizá-los (e a Ben) gritando uma
afirmativa na escuridão.
— Sim! Sim! Sim!
Imagens gloriosas enchem a cabeça
dela e se misturam com os gritos das gralhas e dos estorninhos; esses
sons se tornam a música mais doce do mundo.
Assim, ela voa, sai voando, e
agora o poder não está com ela nem com ele, mas em algum lugar
entre os dois, e ele grita, e ela consegue sentir os braços dele
tremendo, e ela se arqueia na direção dele, sentindo o espasmo, o
toque, a intimidade total dele com ela no escuro. Eles explodem na
luz da vida juntos.
E então, acaba, e eles estão
nos braços um do outro, e quando ele tenta dizer alguma coisa,
talvez um pedido de desculpas idiota que estragaria o que ela lembra,
um pedido de desculpas idiota como uma algema, ela interrompe as
palavras dele com um beijo e o afasta.
Bill vem até ela.
Ele tenta dizer alguma coisa, mas
a gagueira é quase total agora.
— Fica quieto — diz ela,
segura com o novo conhecimento, mas ciente de que está cansada
agora. Cansada e muito dolorida. As partes de dentro e de trás de
suas coxas estão grudentas, e ela pensa que talvez seja porque Ben
foi até o fim, ou talvez por ela estar sangrando. — Tudo vai ficar
bem.
— T-T-Tem c-c-c-c-certeza?
— Tenho — diz ela, e junta as
mãos atrás do pescoço dele, sentindo o cabelo suado. — Pode
apostar.
— D-D-D… D-D-D…
— Shhh…
Não é como foi com Ben; há
paixão, mas não do mesmo tipo. Estar com Bill agora é a melhor
conclusão que poderia haver. Ele é gentil, delicado, quase calmo.
Ela sente a ansiedade dele, mas é uma ansiedade controlada pela
preocupação com ela, talvez porque só Bill e ela percebam a
enormidade do ato e o fato de que jamais deve ser mencionado, nem
para ninguém nem entre eles.
No final, ela é surpreendida
por aquele aumento repentino e tem tempo de pensar: Ah! Vai acontecer
de novo, não sei se consigo suportar…
Mas os pensamentos dela são
levados pela doçura do ato, e ela quase não o escuta dizendo “Eu
te amo, Bev, eu te amo, sempre vou te amar”, dizendo sem parar e
sem gaguejar nada.
Ela o abraça para perto, e por
um momento eles ficam assim, com a bochecha macia dele na dela.
Ele sai dela sem dizer nada, e
por um tempo ela fica sozinha, reunindo as roupas, vestindo
lentamente, ciente de um latejar doloroso que eles, por serem homens,
jamais vão entender, ciente também de um certo prazer exausto e do
alívio de ter acabado. Há um vazio lá embaixo agora, e apesar de
ela estar feliz de ter seu sexo para si de novo, o vazio desperta uma
melancolia estranha que ela jamais conseguiria expressar… a não
ser para pensar em árvores nuas debaixo de um céu branco de
inverno, árvores vazias, árvores esperando melros aparecerem como
pastores no final de março para celebrar a morte da neve.
Ela os encontra tateando em busca
das mãos deles.
Por um momento, ninguém fala, e
quando alguém fala, ela não fica surpresa em ver que é Eddie.
— Acho que, quando dobramos pra
direita duas viradas atrás, devíamos ter ido pra esquerda. Caramba,
eu sabia disso, mas estava tão suado e nervoso…
— Você está nervoso a vida
toda, Eds — diz Richie. A voz dele está agradável. O tom de
pânico sumiu completamente.
— Entramos errado em outros
lugares também — diz Eddie, ignorando-o —, mas esse foi o pior.
Se conseguirmos achar o caminho de volta, acho que vamos ficar bem.
Eles formam uma fila desajeitada,
com Eddie na frente, Beverly atrás agora, com a mão no ombro de
Eddie, assim como a de Mike está no dela. Eles começam a andar mais
rápido desta vez. Eddie não age com o nervosismo de antes.
Estamos indo pra casa, pensa ela,
e treme de alívio e alegria. Pra casa, sim. E isso vai ser bom.
Fizemos nosso trabalho, o que viemos fazer, e agora podemos voltar a
ser crianças. E isso também vai ser bom.
Enquanto eles andam pelo escuro,
ela percebe que o som de água corrente está mais próximo.
FIM DA CENA
Viram que cena? Maravilhosa, não é?
Vem conversar mais comigo no Instagram sobre ela!