A Dobradinha de (R)Evolução das Mulheres

Título: A (R)evolução das Mulheres
Autor: Mindy McGinnis
Editora: Plataforma 21
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Sinopse: Três anos se passaram desde o assassinato da irmã mais velha de Alex Craft. Mas, como é de costume, a culpa sempre recai sobre a vítima e o assassino segue sua vida em liberdade.Alex é uma menina forte e quer vingar sua irmã. Por isso, ela resolve atacar qualquer predador sexual que cruzar seu caminho e colocar a boca no mundo, usando a linguagem que conhece melhor: a linguagem da violência.
Mas o que aconteceu na noite do assassinato chama a atenção de Jack Fisher, o cara invejado por todos: atleta perfeito, que desfila de braço dado com a garota mais cobiçada. Ele deseja conhecer Alex profundamente. E, numa cidade pequena, onde todo mundo se conhece, esse repentino interesse vai desencadear uma série de crimes bárbaros.
Uma narrativa vibrante com cenas de grande impacto, A (r)evolução das mulheres é uma reflexão profunda sobre os abusos e estereótipos, que tiram a humanidade das mulheres. Mindy McGinnis nos mostra que as agressões perseguem a vida não só das vítimas, mas também daqueles que estão próximos a elas.

                                                                


Letras em Verde: Texto de Carol
Letras em Preto: Texto de Ludmila

Um Young Adult de respeito...
“A gente pode amar alguém profundamente e essa pessoa pode te amar o mesmo tanto, mas se trocássemos diários, saberíamos de coisas que jamais suspeitamos. Todo mundo tem um lado, bem lá no fundo, que não mostramos para ninguém. E, quanto antes você aprende isso, mais fácil é sua vida”.
Ok, esse foi um livro que demorei muito para conseguir concluir. Primeiro acredito que seja porque não estava na vibe para Young Adult e acabei persistindo, e depois porque a escrita da autora não é exatamente cativante, apesar de sublime. Dá para entender isso? Ela é árida, mas maravilhosa. E por isso demorei a me adequar ao seu estilo de escrita e me ambientar com a história. 


Aos 50% do livro um dos protagonistas toma essa lição da mãe. E de bandeja, tomamos juntos como leitor. 
A (R)evolução das Mulheres está longe de ser mais um livro jovem adulto. Começa pela irreverente troca de pontos de vista entre três personagens que nada têm em comum. O que poderia ser uma pista das ligações que irão se formar se mostra uma tirada genial. Porque tanto Alex, Jack e Efepê são necessários pra visualizarmos o cenário completo da escola onde frequentam. E da história que o autor pretende contar.

Nesse livro temos três pontos de vista: Efepê, Alex e Jack. Se tivesse que escolher um protagonista dessa história em específico, seria Alex, que teve a irmã brutalmente assassinada por um maníaco sexual perturbado. É para ela que todos os olhos se voltam, na cidade pequena onde moram. E concordo que seja até compreensível. Afinal, nada acontece por ali. E qualquer coisa vai ser sempre uma grande coisa. 

A mudança no comportamento dos três adolescentes será responsável pelo gatilho fundamental desse livro. Efepê é de longe a minha preferida. A típica fofa da escola, que tem seu apelido pelo fato de ser “filha do pastor”. Inacreditavelmente ela se torna responsável pela socialização de uma garota sombria e misteriosa, a que todos reconhecem como a “esquisita”. 

Então temos Alex, a garota que perdeu a irmã assassinada brutalmente. Como se passa numa Cidade pequena, todos se conhecem e sabe deste fato do passado. E ela é tratada como pária da escola, tanto pela tragédia familiar quanto pela sua conduta solitária.

Alex é o tipo de garota que eu gostaria de ter conhecido. Teria medo, de fato, mas curtiria a menina. Ela é um tanto fria demais com pessoas, como se tivesse um Asperger ou algo assim. Socialmente sociopata (frase horrível!), e aqui eu e Lud temos pontos bem divergentes. Acho sim que ainda que a personalidade da menina não esteja formada, e isso é para qualquer adolescente, ela tem uma forte tendência a sociopatia, e isso mostra claramente em sua falta de amizades, nas frases polidas e no jeito de encarar as situações que ela despreza. 

E como não poderia faltar, lançando mão do velho clichê, o terceiro protagonista é nada menos que Jack, o cara popular, atleta e garoto perfeito. Que de uma hora para outra fica obcecado com a “garota esquisita”. 

Bom, é a partir daí que a trama deslancha. Uma narrativa eletrizante, com cenas de cair o queixo e capaz de chocar qualquer adulto crescido e desmamado. Imagina as praticamente crianças da história?

Os outros dois, Jack e Efepê, servem mais como um suporte para explicar a história de Alex. Em algum momento eles poderiam ser os protagonistas da própria história, e acredito mesmo nisso, mas aqui o brilho é inteiro dela. Os outros estão lá para nos mostrar que cada um tem o protagonismo da sua própria história, e isso vai ser diretamente conectado ao que o narrador quer nos transmitir com a parte que nos relata. Mas de qualquer forma eles estão lá. A Efepê, melhor e mais nova amiga de Alex, e Jack, a paixão que ela achava que não seria capaz de ter. 

Mas não se engane. O choque aqui não é gratuito. A ideia é refletir sobre o abuso de mulheres, as questões de gênero e a força dos estereótipos nas relações humanas. E como as consequências disso podem ser potencialmente desastrosas não só individualmente falando. Mas de maneira geral, atinge toda a sociedade. 

E meus amigos, o impacto é forte. Tão forte que você se pega piscando várias vezes, tentando compreender quando foi que o cenário típico de “Malhação” virou thriller pesado policial?

Não é um livro que vá agradar gregos e troianos, tá? Ou uma coisa ou outra. Como comentei, a escrita da mulher é seca, e isso não gera uma certa empatia com facilidade, pelo menos foi assim comigo. Mas é só uma questão de adaptação. Com pouco tempo eu estava acostumada ao estilo dela e já esperava que fosse formar um capítulo de uma determinada maneira. Ela tem essa coisa bem estrutural em sua escrita, e se pegasse um texto dela solto em algum outro lugar e sem assinatura, eu certamente identificaria a autora. Isso é muito poderoso, percebem? Ela assina seus escritos sem precisar assinar. 

Há quem diga que a história exagera, caindo no clichê vingança e desvirtuando uma bandeira que deveria ser mais “revolucionária”. Para esses eu mando um adendo: se você entendeu que a história é sobre a Alex, meu querido, acho que lemos um livro diferente. 

Porque não é. A garota tem sua própria visão distorcida e não é empurrada pela goela abaixo do leitor como a heroína da história. Se você observar bem, nas entrelinhas, há um papel que ganha destaque e ele se expande entre as várias personagens. E o que ganha fôlego não é o tiro, a raiva ou a indignação.


Sendo bem sincera, não curti a resolução que ela deu a sua história. Não em um todo, acho que a ideia das mulheres se unindo contra um mal é altamente viável e ficou bem trabalhado aqui. Mas ao meu ver, ela deu um final fácil para a protagonista. Entendo que violência gera violência, e todo mundo já tem essa ideia na cabeça, por isso me irritou que ela precisasse mostrar tal coisa. O que eu queria, como leitora, é ver como ela poderia fazer um escape disso sem ser com violência entenderam? Sem ser com aquele modo "fácil" de dar uma resolutiva em um antagonista que ainda está em cima do muro sobre o que é e o que quer. 

É a mudança no comportamento. Pode ser sutil. Mas está lá e foi isso que me ganhou na história. 

Depois desse livro percebi que o que chamamos de feminismo ou revolução feminina está longe de iniciar. Ainda estamos na fase de mudarmos em nós, os conceitos que nos empurram pra baixo e ditam como devemos comportar enquanto mulheres.

Ela meio que ela faz isso através de Efepê, mostrando os dois lados de um situação. Mas precisei de Ludmila para me explicar Efepê de uma maneira que não me deixasse nervosa pelo fato dela ter um POV e eu esperar tanto dela. Na verdade a menina está lá justamente para ser a parte leve daquele conjunto inteiro. Mas demorei para entender isso. Talvez eu própria seja densa demais. 

A fala de Jack define bem o quanto somos iguais até que paremos de sermos iguais e chamarmos atenção:

“um corpo vale tanto quanto o outro quando as luzes se apagam. Descobrir as mulheres está longe de ser uma novidade para mim, mas o contorno do braço definido de .... quando ela segurou... foi um afrodisíaco do caramba. Quero saber mais sobre ela, saber como fica de cabelo bagunçado. Quero saber do que é aquela cicatriz no seu pulso.”

Passa muito longe de ser um livro ruim, na verdade o enxergo com extrema importância. Só achei difícil digerir a parte leve da balança. Como disse, provavelmente eu seja densa demais. Achei importante ter um balão para me apoiar nessa história, ainda que não tivesse amado ele, porque ela logicamente pode ser um gatilho emocional grande para muitas mulheres. 

E foi isso que fez um garoto enxergar outra garota. O gatilho. Que mudou tudo e trouxe uma boa reflexão de como estamos longe da igualdade entre gêneros.


Resenha dupla em colaboração com: 

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