Aquele trecho de livro que arrasa o coração do leitor/escritor



Será que eu me identifiquei com esse trecho do livro A Velocidade da Luz, do Javier Cercas? 
Que livro, minha gente! Um verdadeiro primor! 


"- Aí é que você se engana - disse Rodney. - Todo mundo olha para a realidade, mas poucas pessoas a veem. Artista não é quem torna visível o invisível (isso sim que é romantismo, embora não da pior espécie); artista é quem torna visível o que já é visível e que todo mundo olha, mas ninguém pode, ou ninguém sabe, ou ninguém quer ver. De modo geral, ninguém quer ver, mesmo. São coisas bem desagradáveis, muitas vezes horrendas, que é preciso ter muito colhão para ver e não fechar os olhos ou sair correndo, porque quem as vê se dana ou enlouquece. A menos, claro, que você tenha um escudo de proteção ou possa fazer algo com tudo aquilo que vê. - Rodney fez uma pausa e continuou: - Quero dizer que as pessoas normais gostam ou desgostam da realidade, mas não podem fazer nada com ela, ao passo que o escritor pode, sim, porque sua profissão consiste em dotar a realidade de sentido, mesmo que esse sentido seja ilusório; ou seja, ele pode dotá-la de beleza, e essa beleza ou esse sentido são seu escudo. Por isso eu digo que o escritor é um maluco que tem obrigação ou o duvidoso privilégio de ver a realidade, e por isso, quando um escritor para de escrever, acaba se matando, porque não consegue se livrar do vício de ver a realidade, mas já não tem aquele escudo para se proteger dela. Foi por isso que Hemingway se matou. E é por isso que, quando você é escritor, não consegue mais deixar de ser, ou só se partir para o tudo ou nada. É como eu disse: uma profissão muito filha da puta."