"Filosófico e humano"
Sinopse:
R é um jovem vivendo uma crise existencial - ele é um zumbi. Perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos. Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a "vida" de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro. Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa. (SKOOB)
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Sangue Quente estava na minha estante há bastante
tempo. Sempre tive vontade de ler, mas daí outros livros, que também queria
ler, iam chegando e acabava passando ele para outro momento. Acontece que
quando bati os olhos no trailer do filme, não resisti! Li o livro numa urgência
pragmática. E o que achei dele? Bom... Vamos lá!
O livro começa estupidamente bem! Ele traz um zumbi
que não tem lembranças, que não consegue ler, nem falar corretamente. Em
compensação é um zumbi com uma baita visão de mundo. Sério mesmo! Conheço
algumas pessoas que não são zumbis e que não pensam metade das coisas que “R”
pensa.
“R” é o nome zumbi galã. É o tipo de personagem que
a gente gama só de ler sobre os pensamentos dele. E a maior parte do livro é
sobre os pensamentos dele, sobre todo o mundo em volta a ele.
Não se tem uma explicação maior sobre o que aconteceu
com o mundo. Só temos um cenário de uma cidade acabada, algo pós-apocalíptico.
Um aeroporto que serve como casa para zumbis, e um estádio que serve como casa para
humanos. Vivendo nesse aeroporto, temos nosso protagonista, sentindo um incomodo
e sem saber direito do que se trata.
A ambientação assusta e ao mesmo tempo em que
diverte. Imaginar zumbis estáticos em cima de esteiras é meio bizarro, e
confesso que amei isso! Você consegue sentir o tédio que é a vida de “R” só de
ler sobre o que ele faz em seu dia a dia.
E a dieta deles? Na verdade eles não seguem dieta
alguma. Aqui não existem zumbis vegetarianos. Eles comem gente mesmo. E em um
desses almoços ele acaba comendo o cérebro de um jovem rapaz com pensamentos
inquietantes, e no mesmo dia ele conhece Julie, uma humana e namorada do menino
que ele acabou de comer. Rola todo um flashback na cabeça de “R”, como se ele
fosse o rapaz e sentisse algo pela garota. Então, invés de comê-la, ele a
salva; levando Julie para o avião em que ele mora, a esconde com a intenção de protegê-la.
E a partir disso conhecemos um “R” em mudança.
Juntos eles aprendem um bocado. Ela é uma garota
forte, resquícios de anos aprendendo a portar uma arma, matar zumbis e perder
pessoas. Ele quer ser mais do que alguém que não espera por mais nada além de
comer e andar. Eles criam um vínculo de amizade bem bacana, e a partir disso “R”
descobre que as mudanças que ocorrem nele são resquícios da convivência com
ela. Ele começa a falar mais e até a sonhar.
O livro tem momentos bem introspectivos, daquele
tipo que não se pode imaginar muita ação. Quando ele está nas lembranças de
Perry (o ex-namorado de Julie) as coisas ficam mais lentas e o livro fica meio
chato. Mas quando ele volta tudo se coloca novamente nos eixos.
Achei que o final dele poderia ter mais ação. O
escritor vem levando você a um caminho de uma batalha real, e ela acaba muito
rápido. É meio estranho. Quero ver como isso vai ficar no cinema. Não imagino esse livro na telona porque é
bastante o pensamento de “R”, então, mesmo que se coloque uma voz, nunca irá se
comparar a ler as coisas que ele pensa. Vai caber a sensibilidade do diretor em
resolver isso.
Sangue Quente é uma reflexão ao conceito de Zumbi.
Temos humanos, carnudos (os zumbis que ainda possuem alguma espécie de carne) e
os ossudos (que são os esqueletos- uma espécie mais avançada da praga), cada um
deles segue um conceito diferente do que pode ser um zumbi. Enquanto para os
humanos ser zumbi é algo morto que come carne amiga, para os ossudos, eles são
o futuro do mundo.
Quantas e quantas vezes vemos filmes e livros nesse
contexto em que tudo é consequência de um vírus descontrolado, de uma mutação genética
ou de ordem alienígena? Em Sangue Quente ser zumbi sem pedaços de carne, é
quase como ser um humano que trabalha diariamente sem uma alegria. É como se
fosse a consequência de uma rotina chata. É bem real, e a forma de cura, mais
real ainda.
O livro é bem escrito, te faz pensar muito em sua
própria vida. Tem trechos incríveis, e os protagonistas funcionam juntos. O autor criou um mundo que, apesar de meio
louco, tem muita lógica. Tem esse problema de as vezes me sentir perdida nos pensamentos de Perry e do final poder ter sido melhor, mas de modo geral, ele me convenceu.
Eu amei esse livro! E recomendo muito!
Quotes:
- Meu amigo M diz que a ironia de ser zumbi é que tudo é engraçado, mas você não consegue rir, pois seus lábios apodreceram. [página: 13]
- Quero mudar minha pontuação. Quero pontos de exclamação, mas estou me afogando em elipses. [página: 63]
- O mundo já tinha ido para o buraco antes de vocês aparecerem. Vocês foram apenas o julgamento final. [página: 83]
Trailer:
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