Guilherme Ramos - O cara

Gente faz século que não posto mais nenhuma das entrevistas que havia prometido. Minha vida anda um verdadeiro caos. Mas vou começar a voltar com as postagens com calma. Hoje vim trazer uma das entrevistas que ficaram pendentes. E essa é na categoria Manual do Escritor. 
Conheci esse rapaz quando tinha uns 15 anos e ainda brincava de guardar panfletos sobre teatro numa pasta catálogo. Foi na época em que me encantei pelas artes. Ele trabalhava com teatro no Sesc, usava um rabo de cavalo no cabelo- o que era motivo de onda no colégio onde eu estudava. O chamava de irmão. E disso ele passou a ser meu mentor, e disso a ser meu amado, e disso meu melhor amigo. E continua assim.
É aquele tipo de pessoa que quando você quer rir, ou conversar besteira, ou conversar coisa séria você procura.
Convidei ele para ser meu entrevistado nessa categoria porque quase tudo o que conheço sobre ser escritora aprendi com ele e através dele.
Espero que vocês absorvam a essência Guilherme Ramos como o venho fazendo há 10 anos.




1. Fale um pouco sobre você

A parte mais difícil dessa entrevista. Foi a última questão que respondi. É difícil falar sobre si mesmo, sabe? Particularmente não gosto. Prefiro que as outras pessoas o façam. Sei lá. Pode parecer estranho, mas falo pouco de mim. Acho que falo mais do que eu faço. Falar de mim seria como tentar ensinar física quântica no jardim de infância. Rssss... Em poucas palavras, sou um sonhador. Um “Insone sonhador”, às vezes. Prefiro lembrar que sou ator, diretor, escritor, músico prático, artista intermídia... Enfim, gosto de muitas áreas. E tento vivenciá-las sempre que possível. Atualmente, estou tentando ser escritor mais do que qualquer outra coisa. Existem, ainda, os “títulos” – não posso fugir deles: Especialista em Gestão e Organizações Sociais (UFS), Arquiteto e Urbanista (UFAL) e a “gestão cultural” – minha escolha profissional: Gerente do SESC Centro – Unidade de Cultura do SESC/AL, idealizador do Centro de Difusão e Realização Artístico-Cultural (CDRAC), onde são desenvolvidas atividades diversas nas cinco principais linguagens artísticas do Regional (Artes Cênicas, Música, Literatura, Artes Visuais e Audiovisual). Mas... Eu mudo a cada instante. E talvez esses momentos estejam no meu blog (www.prosopoetica.blogspot.com). Quer me conhecer (um pouco)? Visite-o. Permita-se. Participe.


Quando e como descobriu que era escritor?
Simplesmente foi surgindo. Não sei dizer quando. Apenas escrevia. Meu primeiro texto (teatral) data de 1984. Uma curta comédia (Conde Frácula), usada em festival de teatro do colégio. Não fui um bom leitor, contrariando a teoria de que um bom escritor deve ser um bom leitor (mas sou obrigado a concordar com essa teoria). Eu simplesmente sinto as cenas, as palavras, as rimas. A coisa vem, sabe? Claro que pesquiso muito, estudo técnicas etc. Sou autodidata. Como muitos, odiava literatura (depois, descobri que odiava as aulas de literatura no colégio. Só me serviram para decorar datas, nomes etc. para o vestibular – uma triste confissão). Mas falo do meu início. Eu não lia. Escrevia. Até hoje uso algumas palavras que nem sei o significado. Daí, quando procuro no dicionário, elas são perfeitas! Vá entender! Acho que tenho sorte, um dom ou sei lá o quê. Gostaria de ler mais teoria da literatura pra saber o que estou fazendo, mas pensando bem, se eu souber muito o que estou fazendo, não ficarei, eu, técnico (ou previsível) demais? Não sei, não sei... Isso daria um livro. (Rsss...)

Que tipo de textos você mais gosta de escrever?
Ah! Muitos! Mas poesia, conto e dramaturgia são os mais “chegados”. (Rsss...) Gosto de contar histórias, extravasar sentimentos (às vezes inexistentes). Por exemplo: não preciso estar apaixonado para fazer uma poesia sobre o amor (correspondido ou não). Apenas escrevo. Por isso, se lerem algo meu, não pensem que sou o personagem que deu origem à série, OK? (Rsss...).


Qual a maior dificuldade de um escritor?
Para mim é a tal “página em branco”! (Quando ficamos horas e horas e horas e não sai uma linha sequer). A tão temida “falta de inspiração”. Mas não é bem assim. Acredito que tudo isso é a ausência de “clima inspirador”. Podemos usar técnicas para iniciar um trabalho. Por exemplo: não tente iniciar um texto logo de cara. Antes, relaxe, tente esquecer o ambiente externo. Jogue um pouco (Playstation, xadrez, paciência etc.), escute uma música, veja um filme, leia um livro etc. Aí você equilibra o que é real (e, normalmente chato, castrador, antinspirador) e o que é ficcional (inspirador). Outra coisa que me dificulta muito é a indisciplina. Se você não dedica uma parte de seu tempo para a criação literária, seu corpo, sua mente e seu espírito vão se tornar um triunvirato de preguiça e você nunca irá terminar “o tal livro” tão sonhando...

Cite 5 dicas que você daria para alguém que quer ser um escritor
Escreva. Pesquise. Escreva. Leia. Escreva. Anote tudo. Escreva. Grave tudo. Escreva. Desenhe. Escreva. Conte histórias. Escreva. Ouça música. Escreva. Assista a filmes. Escreva. Escreva. Escreva. Escreva. Escreva. Acho que foram mais de cinco, né? Mas, na realidade, é exatamente isso. Escrever. Da mais ridícula “abobrinha” à mais genial teoria. Tenha um “livro de idéias” (compre um caderno sem pautas e ande com ele sempre por perto. Escreve nele tudo o que surgir na sua cabeça e puder ser usado, mais tarde, na sua história. Afinal, nunca se sabe quando uma grande idéia vai aparecer, certo?). Não há apenas dicas. Há escrita. Parece óbvio, mas escrever é exatamente isso: escrever. Deixar que as idéias venham às mãos e se tornem letras, palavras e frases. Que parágrafos criem vida e capítulos tornem-se inesquecíveis aos sentidos de alguém. Que o resultado final toque o coração de quem escreve, para depois, tocar ao coração alheio. Importante: se aquilo que você escreve não emociona nem a você. Não serve. Jogue fora. Procure outra função no mundo. Ou, se ainda quiser ainda escrever, então... Escreva. Pesquise. Escreva. Leia. Escreva. Anote tudo. Escreva. Grave tudo. Escreva. Desenhe. Escreva. Conte histórias. Escreva. Ouça música. Escreva. Assista a filmes. Escreva. Escreva. Escreva. Escreva. Escreva...


Por onde se deve começar a escrever uma história?
Bem, acho importante frisar “por onde não começar”: pelo começo. Parece meio ilógico mas, levando-se em consideração que você leva muito tempo escrevendo (um romance, por exemplo), você nunca o terminará com o mesmo estilo literário. Você melhora, piora, enfim, muda de estilo até terminar o trabalho. Então, se você seguir uma “sequência” cronológica, muito certinha, certamente o leitor perceberá tais diferenças e isso pode comprometer seu trabalho. Agora, quando trabalhamos em algo mais curto (um conto, uma poesia etc.) sugiro que você deixe seu coração dar as dicas. Escreva. Sem a obrigação de terminar algo. Aproveite a inspiração disfarçada de amenidade. Escreva uma frase que surgir na cabeça. Vá juntando títulos que surgirem, frases, palavras (aparentemente) sem sentido, sobretudo os neologismos. Neologismos dão ótimos títulos. E rimas. De repente, você junta uma coisa aqui e outra lá... (meio Dadaísta, né?) e surge uma obra inédita. Muitas poesias minhas surgiram assim. Às vezes, vem apenas uma cena de um conto. Eu escrevo a cena, resumida e, quando aparece uma oportunidade, dedico-me a terminá-la. Isso ocorre mais com contos. E por aí vai. Gosto muito de criar um título e guardá-lo. Chega um dia que a inspiração aparece e o título ganha forma. Outras vezes, tenho a história de uma vez só. O título vem depois. Eu tento fugir do óbvio e procuro títulos mais simbólicos. Mas isso é uma questão de estilo. Eu ainda procuro o meu. Cabe a cada um enfrentar a sua jornada.

Para você, rima é importante em uma poesia?
Particularmente, eu gosto. É mais sonoro, mais gostoso de curtir. Mas tem também o verso livre que, dependendo da estrutura, encanta qualquer um. Mas a rima é como música para meus ouvidos. Em alguns textos meus essa sonoridade aparece. Sabe quando não há rima, mas há sonoridade? Há ritmo? O texto flui como uma música. E o leitor vai se apegando sem nem saber porque. É esse estilo que busco. Chamo essas tentativas literárias de “minha prosopoética” (perdoem-me os acadêmicos que sabem que prosopoética é outra coisa...) e tenho gostado do que venho fazendo. Porém, quando escrevemos, escrevemos para o leitor. Eles é quem devem gostar ou não. Mas, como sou autor-leitor, dou-me o luxo de gostar do que faço. O que não gosto, não publico no blog. Guardo. Um dia, minha opinião pode mudar, uma revisão pode mudar e tudo pode mudar... e mudar.. E mudar... Não são, assim, as pessoas? E por que não as criações artísticas? Mas, sim (para mim), as rimas são muuuuito importantes.

Você costuma construir primeiro o enredo ou os personagens de uma história?
Depende da inspiração. Às vezes vem tudo junto. Mas é mais racional ter o enredo primeiro. Porque assim, você vai povoando, colonizando a história com personagens. Quantas vezes um coadjuvante virou principal? E quantas outras um principal foi descartado? Claro que, às vezes, você tem “O Personagem”. E, a partir dele, vem uma, duas, três histórias. J. K. Howling que o diga, não é, Mr. Potter? (Rsss....)

De onde você tira inspiração para escrever?
De mim. (Rsss...) Brincadeira. Às vezes, vejo um nome, uma frase, uma foto, escuto uma música etc. E simplesmente vem. Outras vezes, inspiro-me em fatos do cotidiano, uma manchete de jornal, um livro, uma reportagem de revista, uma bula de remédio, um filme, uma série de TV. Ou acordo no meio da madrugada com uma idéia fixa na cabeça. Pode até ter vindo de um sonho. Enfim, o que quero dizer que não há uma inspiração certa ou errada. O que há é inspiração. E ela muitas vezes é do contra. Aparece quando estou querendo fazer outra coisa. Por exemplo: quando preciso fazer um relatório de trabalho, dá vontade de escrever um conto, uma poesia. Mas se eu parar especificamente para fazer o tal conto ou a tal poesia, não vem nada. É como se minha inspiração ficasse me testando. Provocando-me, para ver se eu realmente a mereço. Já perdi a conta das vezes que estou na rua e surge aquela melodia, frase, poesia, nome de personagem etc. que tanto procurava. E faço de tudo pra não perder isso. Escrevo no meu livro de idéias, num guardanapo, na mão, gravo no celular... Bem, quem me vê por aí, pensa: “- O que esse louco tanto fala sozinho?” Até agora não fui internado. Mas corro o risco. Perco a sanidade, mas a inspiração, nunca! (Rsss...)

Diga alguns livros e escritores que você gosta.
Na realidade, prefiro livros técnicos, fora do padrão literário cotidiano. Poucas vezes leio para me distrair. Nesse sentido, ler, para mim, significa pesquisa. Esses livros me ajudam a entender ou descobrir sobre o que escrever, servem de inspiração. Adoro pesquisar o desconhecido, o fora do comum. Amo livros e revistas que falem sobre ocultismo, religiões, mistérios, OVNIs, Genética, evolução humana, Atlântida, Lemúria, Continente de Muh... (Acho que alguém, nesse momento, está pesquisando metade do que disse, no Google... Rsss...). Mas, já que preciso citar algumas obras e autores não tão técnicos, não poderia esquecer: As Crônicas de Gelo e Fogo (George R. R. Martim), O Senhor dos Anéis (J R. R. Tolkien), Noite na Taverna (Álvares de Azevedo), Grau 26 (Anthony E. Zuiker), Noturno (Guillermo Dell Toro), Sangue Quente (Isaac Marion), Harry Potter (J. K. Howling), As Crônicas de Nárnia (C. S. Lewis)... Vou parar. Está começando a ficar cliché. Tá vendo que tenho um gosto fora do padrão? (Rsss...)


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Agradeço por sua paciência em escrever e em esperar sua entrevista amigo.
Você sabe que acima de qualquer coisa, sou sua fã incondicional. Sua maior fã
Amo de paixão!

E aos meus leitores, espero que tenham se encantando com esse mostro das artes. Passem no espaço dele. Vocês vão ver só como a arte dele é fantástica.


bjuxx

Carol


Jogos Vorazes (The Hunger Games)

              (pode conter spoilers)    

  Se eu disser que esse livro foi responsável por não me deixar pirar nos últimos dias vocês vão dizer que estou mentindo. Mas não estou.
Já tinha visto sobre ele nos blogs que acompanho, e anotei na minha lista de livros que quero comprar. Quando natal chegou eu ganhei de presente dinheiro, e fiquei pensando o que compraria com ele. Não demorei muito pensando: Um livro. Porque é minha maior fonte de distração e fuga.
Fui a livraria e já me joguei na área de infanto-juvenis. (Fazer o que, gosto e pronto!) Vi Jogos Vorazes escondidos atrás de livros da Meg Cabot, só tinha um. Achei que era um sinal de Deus e levei ele pra casa. Dei quase vinte reais a mais do que em outras livrarias, mas naquela hora, ele, aquele livro em especial tinha me achado.
No mesmo dia comecei a ler. Eu me conheço lendo, então sempre paro a leitura, mesmo nas partes mais boas, para o livro não acabar logo. Odeio finais.
E foi assim que em menos de 24 horas o livro já tinha acabado e eu fiquei com muita raiva de não ter comprado a continuação dele.
A história se passa em uma América pós-apocalíptica. Um mundo basicamente destruído que foi dividido em doze distritos. (Na verdade foram treze, mas isso só vai conhecer lendo), e governado por uma cidade autoritária e muito poderosa chamada de Capital. Os Jogos Vorazes é uma competição num tipo de reality show anual, onde eles jogam dois tributos de cada distrito numa arena, mas apenas um deles pode sair vivo. A propósito, os tributos tem que ter entre 12 e 18 anos.
É nesse mundo que conhecemos a protagonista Katniss. Ela vive no distrito 12 e sustenta a mãe e a irmã desde que seu pai morreu. É uma adolescente de 16 anos muito forte e decidida, muitas vézes se percebe falta de amor nela, mas é pura proteção. Ela torna-se um dos tributos do distrito dela e mostra para todo o país que esse tipo de castigo cruel precisa acabar.
Então. O livro é maravilhosamente comestível de tão bom de ler. rsrsrsrs
Katniss é a pessoa que no momento eu queria ser, insensível em muitas horas, corajosa ao extremo e decidida. Ela foi aos Jogos sendo voluntária para salvar a vida da irmã. Vive em um dos distritos mais castigados de fome e pesar, por isso se tornou essa fortaleza incondicional. Não se deixa abater hora nenhuma.
E não posso falar de Jogos Vorazes sem falar de Peeta.
Gente, vocês que conhecem Edward, Jacob, Patch, e todos esses românticos incorrigíveis das histórias atuais, vão esquecê-los completamente quando conhecerem Peeta. Ele não tem esse modelo de beleza física de nos deixar de queixo caído, mas tem o maior e melhor caráter que um menino de 16 anos pode ter.  E isso é apaixonável por demais.
Ele é o outro tributo escolhido para ir a arena com Katniss. E o que deveria se tornar uma luta pela própria sobrevivência por parte dele, torna-se a luta pela sobrevivência dela. Ele se torna seu maior amigo. A salvando de situações perigosas, de discursos perigosos. A salvando de todos os modos que se pode salvar. O que é engraçado, visto que perto dela, ele não sabe fazer nada que garanta a sobrevivência de ambos. Mas é incondicionalmente poderoso com gestos e palavras.
E ai que começa o dilema. Como sair vivo da arena sem ter que matar o seu melhor amigo? - Katniss se faz essa pergunta em boa parte do livro.
Mas Jogos Vorazes é muito maior do que uma luta pra viver em um reality show. E se houvesse algum tipo de destruição em massa, seria totalmente plausível um mundo que nem o deles. Não é ficção científica por completo. Na verdade, quase nada no livro se trata de mentiras inventadas.
É um joguete de poderes. De subjugar outras pessoas para que elas te obedeçam. Ameaçando seus filhos, sua comida, sua liberdade. Mostrando que o poder é a lei maior daquela nação.
O livro é muito bem construído. As cenas de ação são maravilhosamente explicadas, e os pensamentos de Katniss parecem se confundir com os nossos muitas vézes. Os personagens são divinos. A estrutura deles, a ação deles, a desenvoltura deles. Eu pessoalmente, me apaixonei pelas ações de Peeta. Ele é tão simples e bobo muitas vézes que se torna a peça elementar do jogo. Torna-se o gênio. Sua atitudes são as que levam quase toda a história. Que conduz a reta dos participantes na arena. E que no final das contas, conduz a continuação dos livros.
Eu recomendo por completo o livro. É muito bom mesmo. Não é melodramático. É real, é presente, é futuro. São idéias novas, e antigas ao mesmo tempo. Envoltas em crueldade do "ser" humano e demonstrativos de bom senso e caráter de outros.
Aqui vai o trailer do filme que será lançado em Março. Marquem na agenda!


Em breve comentários sobre os outros livros da série.