The OA e a poesia da expressão da alma


Título: The OA
Criado por Zal Batmanglij, Brit Marling (2016)
Com Brit Marling, Emory Cohen, Scott Wilson...
País EUA
Gênero Drama
Status Em produção
Duração 60 minutos 

Sinopse: Prairie Johnson é uma garotinha cega que desaparece. Sete anos depois, ela retorna, com a visão perfeita. A jovem (Brit Marling) tenta explicar aos pais o que aconteceu durante a sua ausência. Para a surpresa de todos, ela diz que nunca realmente se foi, mas estava em outro plano da existência... Num lugar invisível.



Minha ausência tem uma explicação: Filhos. 
Se com um deles eu achava complicado dar conta de tudo, avalie agora que tenho dois e que a caçula parece ter morado algum tempo com o Pan, aquele da floresta, porque sinceramente nunca vi menina tão danada e inquieta. Eu em casa não paro dois minutos. 

Então imagina como deve estar difícil assistir ou ler ou fazer qualquer das coisas que eu sempre gostei muito, mas que exigia tempo meu. Adivinhem como consegui então assistir uma temporada inteira de uma série? Isso! Virando duas madrugadas. 

Minha intenção não era essa. A ideia consistia em ver um episódio por noite e em pouco mais de uma semana concluir. Mas quem disse que eu consegui? Eu precisava de mais. Minha alma pedia mais. 

Ok, não dá para falar muito de The OA sem revelar demais, e acho que uma das coisas mais espetaculares ao longo da serie, é descobrir como as coisas acontecem, e ir gamando nelas aos poucos, sem cobranças ou expectativas. De fato não tinha expectativa alguma sobre nada, só me deixei levar pela sinopse e o teor de ficção científica que ela apresentava, e fui indo, sendo guiada por um roteiro pra lá de inteligente e emocional. 



Até o quinto episódio eu estava mais pela curiosidade acerca de Prairie, do grupo que ela recrutara e o que diabos ela iria querer com eles. Não tinha gostado de personagem algum além de Steve, que era o menos carismático - e mais problemático - de todos. Mas eu sempre tive uma queda por personagens problemáticos, então isso não foi bem uma novidade. Mas depois do quinto episódio eu fiquei simplesmente por paixão ao conjunto de tudo o que vi e senti. Principalmente ao que senti. 

Se não tinha apego a personagem algum até então, parece que todos ganham uma dimensão inenarrável a partir disso. Três episódios, já que a série conta com oito ao todo, foram suficientes para me fazer terminar de assistir e entender que as coisas chegam quando tem que chegar para mim, e eu precisava sentir tudo o que está no meu peito nesse momento depois de duas madrugadas sem dormir por causa de The OA. 

Posso estar sendo levada pela falta de sono benéfico ao falar isso? Sim, claro! Afinal, muitas das críticas sobre a série foi acerca da falta de ação, da lerdeza em muitos momentos, e de a maioria das pessoas não encararem a série como ficção científica, como o Netflix vendeu. Já li de tudo desde que a série foi lançada, e acho que em muitos momentos as críticas fazem sentido. Se eu fosse cheia de expectativas, eu teria quebrado a cara. Tem ficção? Sim, só que ela fica por debaixo dos panos do tapete psicológico construído pelos roteiristas com coisas cotidianas, como família ou morte e vida e a forma como quem fica encara isso. 


Temos dois núcleos de personagens, que a única coisa que tem incomum é a Prairie. O primeiro que nos é apresentado, é composto por um grupo de adolescentes desfuncionais (meu tipo de adolescente predileto), uma professora com muitos problemas, e a garota que era cega e que agora é o milagre da cidade. No outro núcleo, do qual não posso falar muito para não perder a graça, também temos um grupo de pessoas que de início eu achava um saco, mas que foram me ganhando de uma forma que nem sei explicar. Hoje, ao final da temporada, não a enxergo sem eles. Parece que todos são pedaços de um quebra cabeça cósmico. De fato a série nos faz entender o papel de cada ser humano na Terra, mesmo aqueles que acham que não tem papel algum. Como somos ligados e nem percebemos isso. 

Existem milhares de pontas soltas, não vou mentir. Mas na verdade isso não tirou o amor que senti por tudo, só me deixou mais curiosa. Quando terminei de assistir e me peguei rindo e chorando, de olho para o teto, sem saber exatamente o que pensar, foi que percebi que talvez o negócio com The OA não fosse para se pensar, mas realmente para se sentir. Existe poesia na ideia da morte, e a série trabalhou isso com outros temas, mais ficcionais, que deixa uma sensação de plenitude em quem já perdeu alguém que amava muito. 


Outra coisa que adorei foram as atuações em conjunto com os esteriótipos de cada personagem, principalmente os adolescentes. São tipos sociais que você acha com frequência por ai, e que na maioria das vezes ninguém dá muita corda para eles, mas são sensacionais. De um modo que eles nem percebem, são incríveis por enxergarem um mundo tão ao extremo, de qualquer lado que seja, e isso foi muito importante para o plano de Prairie. Eles são nós em uma linha resistente e única feita de material estelar e inquebrável. 

Existe algo de teatral nessa série. Não sei dizer exatamente o que é, mas há momentos em que o uso do corpo é tão exagerado e potente que você se pergunta se não foi dirigido por um diretor de teatro, que queria com isso elevar o grau de sentimentos de quem assistia. No cinema um pequeno gesto já é necessário, mas aqui eles são grandes. Os movimentos tem significado e sentimento, as expressões tem significado e sentimento, e não tem como negar que elas tocam você em algum lugar que te faz querer rir ou chorar. Ou os dois, como foi o meu caso. 


O final da série foi de uma poesia alucinante, e você fica nervoso porque vai ter que esperar um bocado para saber como vai continuar, porque ela finaliza de uma forma que ainda que fiquei pontas soltas, é um final, e é belo e significativo em graus absurdos de emoção. Então ele se faria completo, e fico receosa (e ansiosa) por como vai continuar. 

Eu vi algo em The OA que muita gente não viu. Possivelmente você também poderá ser uma dessas pessoas. Não senti como se estivesse vendo uma série de ficção, como Stranger Things, por exemplo. Para mim foi muito mais drama e sentimentos, e isso pode não agradar geral. Normalmente não agrada. Mas para mim foi algo. Algo tão grande que estou até agora em paz. Uma sensação de plenitude surreal. 

Se OA for o som do eterno, acho que me atingiu exatamente como deveria. Nesse momento eu posso fechar os olhos e de certeza sentirei o cosmo respirando em seu silêncio. Me inserindo nesse processo, e me mostrando que sou parte dessa rotina, e que ela me pertence. 

Talvez essa "resenha" tenha sido subjetiva demais, mas é preciso assistir The OA para entender que é preciso subjetividade para explicá-la. Não vá esperando ação, mas vá de peito aberto para sentir tudo o que ela lhe proporcionar. E sinta.