Resenha de "Iscas" (J. Kent Messum)

Título: Iscas
Autor: J. Kent Messum
Editora: Record
Adicionar: Skoob

Sinopse: Seis estranhos acordam em uma ilha deserta sem qualquer lembrança de como chegaram ali, mas logo se torna evidente o que todos têm em comum: são dependentes de heroína. Sequestrados e colocados à força em um jogo mortal.
Em pouco minutos, começam a discutir, porém os ânimos se acalmam quando eles encontram um baú com água, comida e uma carta informando que ninguém irá socorrê-los e que, do outro lado do canal, há uma segunda ilha, onde eles encontrarão mais suprimentos e uma recompensa para quem completar a tarefa: uma dose da mais pura heroína.
Quando os primeiros sintomas da abstinência aparecem, eles não veem alternativa a não ser se entregar à pressão psicológica imposta pelos misteriosos torturadores. Então se aventuram em um oceano de terror.

Iscas me pareceu num primeiro momento o tipo de livro que eu iria adorar. Tinha uma pegada meio Jogos Vorazes, meio Corrida Mortal, e todas essas histórias que a sobrevivência é a lei mais forte. Terminei o livro pensando que o autor foi infeliz na quantidade de páginas que desenvolveu sua história. Ou seja, ele tinha tudo nas mãos para ter feito um livro espetacular, mas se perdeu na pressa de acabar. 

Seis pessoas acordam em uma ilha isolada, com nada mais do que um baú com comida para um dia e uma carta avisando que na ilha seguinte, vista a olho nu, eles teriam mais dos mantimentos e um item extra: Doses de Heroína para todos eles. E se vocês pensam que o estímulo deles em sair da ilha é a comida, estão redondamente enganados. É a droga, ou como eles chama: H. 

O livro é narrado em terceira pessoa e mescla o passado e o presente dos personagens. Momentos antes de acordarem na ilha, a vida que levavam do lado de fora, e o comportamento maluco da abstinência da droga. A convivência de seis drogados no meio do nada, e tendo como única opção para ficarem bem, atravessar um mar que tem muitos "dentes perigosos". 

Viram só como autor tinha um material excelente em mãos? Pois é, e ele começou trabalhando muito bem isso. Apresentou todos os seis fora da ilha, o que faziam para conseguir as drogas, como viviam e quais as características marcantes de suas personalidades. Ao mesmo tempo que apresentava tudo dentro da ilha. O acordar com pessoas estranhas e estarem desesperados por um Pico de Heroína. Sendo capazes de tudo por um pouco da droga. 

Todos os seis são muito bem construídos, ao ponto de não sabermos quem o autor escolherá para morrer primeiro e não ter torcida formada para isso. Eles não tem muita escolha em relação ao que fazer, e até nós, que não somos viciados em heroína, conseguimos entender a ligação que eles tem com as drogas. A força com a qual ela tomou a vida de todos, e do quanto precisam dela para sobreviver. Nunca presenciei uma crise de abstinência, mas o autor é muito bom escrevendo, e conseguiu me fazer sentir cada tontura, enjoo e loucura que a falta das drogas causa. 

Moro com uma mãe que ama cigarros e álcool, mas nunca me senti tentada a nenhuma das duas coisas. Não me considero uma pessoa de vícios destrutivos. A única coisa da qual não me livro são os livros, mas isso em momento nenhum me deixa isolada do mundo o suficiente para me considerar doente e necessitada de ajuda. Contudo a forma com a qual o autor narrou essa dependência me deixou totalmente anestesiada com o livro. Era quase palpável, gente. Realmente a escrita dele é incrível. 

Para mim o cara só pecou quando começou a fazer os seis se movimentarem para sair da ilha em busca de drogas. Mesmo sabendo que a cabeça deles estava ferrada o suficiente para não conseguir pensar em outras alternativas além de se drogar, acredito que o instinto de sobreviver é superior, e eles não tinham isso o suficiente, ao meu ver. Fiquei esperando eles reagirem para algo decente, e isso nunca aconteceu. 

Foi então que o autor nos apresentou os bandidos, vilões, que na verdade estão muito mais para mocinhos do que os nossos seis drogados. Consegui ver certa lógica na ação dos caras, e percebi que a maioria das pessoas que perderam pessoas para as drogas poderiam ter atitudes parecidas. Eu realmente vi uma teoria interessante e bem trabalhada neles, que para mim só ferrou no final, quando Messum insere um quase monólogo do vilão para um dos drogados. Aquilo me deixou irritada e cansada. Como também me deixou extremamente irritada um momento antes disso. Pouco antes do fim. 

Acredito que o autor pesquisou loucamente para escrever esse livro. Tanto com médicos, com guerrilheiros do exército e com os próprios drogados. Ele teve facilidade de transmitir as sensações de todos os lados, e criou uma situação muito insana para inserir seis pessoas movidas pela insanidade. A ideia é fabuloso e ficou bem trabalhado, só acho que ele poderia ter demorado mais escrevendo. Tinha material para aprofundar todos os relacionamentos na ilha, e se perdeu na pressa de acabar. É tanto que não senti uma única morte como deveria enquanto leitora, e isso me deixou mal. 

Um livro que começou muito bem escrito, mas que se perdeu na rapidez para terminar. Não gostei das finalizações que ele deu, apesar de entender a lógica. Acho que minha revolta foi porque eu quis mais. Porque tinha tudo para fazer mais e ele optou pela velocidade. 

Enfim, eu recomendo bastante a leitura, mesmo não tendo amado. A escrita de Messum é maravilhosa e ele conseguiu criar algo muito ideológico e interessante nesse livro. Se vocês curtiram filmes como Corrida Mortal, Jogos Mortais e Jogos Vorazes, acredito que vão gostar da ideia do autor aqui também.