Resenha de "Um mais um" (Jojo Moyes)

Título: Um Mais Um
Autor: Jojo Moyes
Editora: Intrínseca
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Sinopse: Um Mais Um - Há dez anos, Jess Thomas ficou grávida e largou a escola para se casar com Marty. Dois anos atrás, Marty saiu de casa e nunca mais voltou. Fazendo faxinas de manhã e trabalhando como garçonete em um pub à noite, Jess mal ganha o suficiente para sustentar a filha Tanzie e o enteado Nicky, que ela cria há oito anos. Jess está muito preocupada com o sensível Nicky, um adolescente gótico e mal-humorado que vive apanhando dos colegas. Já Tanzie, o pequeno prodígio da matemática, tem outro problema: ela acabou de receber uma generosa bolsa de estudos em uma escola particular, mas Jess não tem condições de pagar a diferença. Sua única esperança é que a menina vença uma Olimpíada de Matemática que será disputada na Escócia. Mas como eles farão para chegar lá?
Enquanto isso, um dos clientes de faxina de Jess, o gênio da computação Ed Nicholls, decide se refugiar em sua casa de veraneio por causa de uma denúncia de práticas ilegais envolvendo sua empresa. Entre ele e Jess ocorre o que pode ser chamado de ódio à primeira vista. Mas quando Ed fica bêbado no pub em que Jess trabalha, ela faz questão de deixá-lo em
casa, em segurança. Em parte agradecido, mas principalmente para escapar da pressão dos advogados, da ex-mulher e da irmã — que insiste em que ele vá visitar o pai doente —, Ed oferece uma carona a Jess, os filhos e o enorme cão da família até a cidade onde acontecerá o torneio.
Começa então uma viagem repleta de enjoos, comida ruim e engarrafamentos. A situação perfeita para o início de uma história de amor entre uma mãe solteira falida e um geek milionário.


Ouço falar de Jojo desde a repercussão de "Como eu era antes de Você". Claro que na época, e pelos comentários sobre o livro, eu não quis ler. Ando correndo de livros tristes, quando eu sei que são tristes, desde A Culpa é das Estrelas. Portanto nada de livros que joguem minha cara na medina! 

Contudo quando a Intrínseca falou do lançamento de Um mais Um, a coisa mudou de figura. Primeiro porque é um livro de Road Trip e não tem nada que ame mais em roteiros do que viagens. Segundo porque já pela sinopse ele tende a nos deixar com uma sensação confortável de bem estar. Esse era o tipo de livro que eu estava procurando na época. E vou dizer, foi uma delícia em muitos aspectos, inclusive os dos quais eu quis correr. Mas no final das contas fiquei extremamente feliz em ter lido. 

Tá, o babado aqui é o seguinte:
Temos dois núcleos para nos situar a princípio. Um deles é de Ed, um ricaço que fez grana com esses programas de computador. Um super nerd que deu uma mancada colossal quando falou demais sobre ações da bolsa para uma pessoa que estava com má intenção. Isso acaba fazendo com o cara tenha que passar um tempo longe da mídia, e escolhe uma das casas que possui numa cidade pequena para isso. 

O outro núcleo é o de Jess, uma mãe solteira que se vira em mil para não deixar faltar nada a Tenzie e Nicky. Trabalha num bar, faz faxina em casas grandes, e qualquer outra coisa que pintar. Contudo as contas estão acumulando e ela tem que abdicar de uma sempre para pagar a outra. E quando surge a oportunidade da filha - um pequeno gênio da matemática - estudar  em um colégio prestigiado com uma bolsa que cobre 90% do valor, Jess se vê capaz dos maiores absurdos para colocar Tenzie lá. Ela entra naquela de querer um pouco de normalidade para a filha diante de uma vida tão caótica, que é a que eles tem. 

É aqui que nossas histórias se entrelaçam, porque Jess precisa conseguir o restante do dinheiro da bolsa. E a partir da indicação de um professor de Tanzie, vai levá-la para um campeonato de matemática na Escócia. Pagará a parte que falta da escola dela com o prêmio. 

E quem vocês acham que vai levar Jess, Tanzie, Nicky e o cachorro para a Escócia? Pois é, nosso Geek predileto! E como isso acontece? Vocês vão precisar ler para saber. 

Olha, eu não esperava me emocionar com esse livro. O peguei justamente por ser despretensioso. Só que não lembrei que o peso do nome dramático de Jojo tinha um papel muito grande para a absolvição do enredo por minha parte. E fui pega totalmente de surpresa quando comecei a chorar com uma cena desse livro, e tem bastante tempo que não choro por causa de livros. Daí fechei e fiquei pensando... Mas que merda! Procurei um livro para rir e estou aqui chorando? 

Nada de morte, gente! Só uma mãe se virando em mil dentro de uma história, e eu me identifiquei absurdamente com uma determinada explosão de Jess, porque me sinto exatamente daquela forma em metade do tempo. Meu sentimentalismo com esse livro foi apenas uma afinidade que tive com a personagem. Uma puta afinidade! 

Claro que temos a comédia da história. Não dá para pensar em Um mais Um sem lembrar que Tanzie não consegue estar num carro a mais de 30 KM por hora sem passar mal, ou que o cachorro deles fede pra cacete. Ou ainda que Jess não tem dinheiro suficiente para bancar comidas no meio da viagem, e eles acabam quase sempre comendo as mesmas coisas o caminho inteiro. Enfim, não dá para não rir com várias passagens desse tipo no livo. Na verdade é raro um livro de Road Trip não ter uma cena que vá te fazer gargalhar. 

Contudo, como disse lá em cima, o nome da autora pesou muito na construção dessa história. Então mesmo que tenhamos a comédia prática e deliciosa dela, também temos os dramas escondidos na hilaridade de todos os tipos humanos nesse livro. Seja em Nicky por sofrer bullying de forma agressiva na escola pela aparência EMO. Ou Em Tanzie por ser aquele tipo de gênio que as pessoas olham torto. Ainda tem Ed, com seus problemas judiciais e familiares, e Jess, uma dona de casa guerreira e linda por quem tive a maior adoração. 

Tudo aqui cheira a comédia e drama ao mesmo tempo, E essa dicotomia dos personagens na trama me faz pensar na genialidade que foi esse trabalho da autora. Porque em uma página você pode estar rindo feito criança, e na seguinte chorar porque as coisas nem sempre são justas. E Jojo faz com isso seja gratificante de se ler, e degradante de saber que realmente funciona assim. 

Ela soube dosar os sentimentos no enredo de tal forma, que você acaba esquecendo alguns detalhes importantes do começo do livro, e que acaba se apresentando como um anticlímax perto do fim. E isso foi muito louco para mim, que costumo me ater a detalhes dos enredos com perfeição, e deixei passar batido um que pareceu tão grande. 

O livro é leve, de um modo diferente, mas é. Eventualmente vai te deixar com uma sensação de peso no estômago, o que é essencialmente normal por conta do problemas que nos é apresentado. São de tantos tipos, que é praticamente impossível que você não identifique sua própria vida em algum deles. Na verdade, é um livro que beira a uma realidade prática e normal. Ele é tão normal em seu contexto, que por isso o achei genial. 

Palmas para a autora e a brilhante ideia de usar a comédia da vida humana como experimento literário para esse livro. E viva Balzac que nos ensinou que a arte de contar história pode vir no nosso próprio quintal.