"A fé movendo a vontade"
Sinopse: A bandeja conta a história de Angelina, jovem de 19 anos, que ao entrar para a universidade, inicia um apaixonado envolvimento amoroso com um de seus professores, Alderico - mais conhecido por Rico. Por conta de toda a avassaladora e descontrolada paixão que envolve esse relacionamento, Angelina começa a viver somente para Rico, colocando seus estudos, seus amigos, sua família, sua religião e até mesmo a si própria em segundo plano. Angelina é evangélica por tradição familiar e não exatamente por convicção religiosa. Porém, inesperadamente, tem um estranho sonho, cujas revelações possuem um forte e marcante significado, que ela somente conseguirá compreenderá mais tarde. Quando, no momento certo, a grande verdade lhe é revelada, ela finalmente compreende o que significa o amor de Deus em sua vida.
Não vou mentir. Pedi esse livro com um pé atrás.
Sabia que a autora tinha escrito algo com uma pegada bem voltada para um lado mais espiritual, para não citar religioso porque certamente ela não determina religião. E não que eu seja ateia, acredito que estou mais para agnóstica. Mas de alguma forma tive medo desse meu lado tão racional ser o motivador da minha análise do livro. Minha surpresa foi que mesmo que o livro seja bem em cima dessa coisa do poder de Deus, eu realmente o acabei sentindo que mais alguém estava comigo no quarto ouvindo meus pensamentos barulhentos. Sinistro, não é? Acredito que seja, mas também foi consolador.
Conhecemos a história de Angelina. Uma menina que cresceu em uma cidade do interior e que passa no vestibular para cursar uma faculdade na cidade grande, tendo que deixar sua família para viver numa residência universitária. Os pais a criaram na igreja por toda vida, e acreditaram que a garota estava com princípios suficientes em sua moral para fazer sempre a coisa certa.
O problema foi que Angelina estava curtindo bastante finalmente poder andar com os próprios pés depois de dezoito anos, e foi em desses momentos de epifania moralista que ela conheceu Alderico, ou Rico. Um professor para lá de gato que vai colocar a garota para questionar os valores que os pais tanto insistiram que ela aprendesse uma vida inteira.
Uma das cenas que mais gosto do livro tem uma pitada mais filosófica do que romântica. Angelina está lendo a bíblia - o que ela faz muito no início - e Rico se aproxima, fazendo a garota derrubar a bíblia em um lago em sua frente. Daí o cara brinca dizendo que ela não se preocupasse porque aquele tipo de literatura era fácil de encontrar. Angelina se sente ofendida por ele ter dito que a bíblia era simplesmente mais um livro de literatura. Eu achei isso um máximo! Questão de valores culturais, claro! Para Angelina aquilo era a vida. Para Rico era mais um caderno cheio de coisas que alguém escreveu. Minha opinião? Não levo a bíblia ao pé da letra porque mesmo que tenha a palavra de Deus, também foi escrita por pessoas como eu e você. E NADA que um ser humano faça é 100% neutro. Mas também não vou dizer que não me emociono pra caramba lendo ela, nem que ela não seja um instrumento que conduz a fé para as pessoas, o que é o sentimento mais forte que existe no meu ver.
Tive momento de querer matar a protagonista, principalmente lá pelo meio do livro, quando ela passa a acreditar nas coisas que alguém diz numa intensidade que beira a cegueira. Eu não se porque sempre fui uma mulher racional demais, mas me vi chamando-a de burra e revirando os olhos em muitos momentos. Mas eu sei que várias garotas já passaram pela mesma situação que Angelina, e ela foi bem retratada pela autora, que teve a finesse de construir uma personagem inicialmente limpa, mas rebelde; depois apaixonada e cega e por último forte e determinada. Ela moldou os momentos da protagonista numa claridade crucial para a trama.
Já Rico é desses realmente apaixonantes. A propósito, essa autora tem uma facilidade de fazer você amar um personagem e odiá-lo com a mesma intensidade. Aconteceu isso com Rico, e numa extremidade de sentimentos de minha parte que passou a ser assustadora depois de alguns capítulos. Ele é um conflito da trama, e é por causa dele que a vida de Angelina se desenvolve para um lado mais sombrio antes que ela chegue ao fim do poço, para onde não tem mais saída, e ressurge, por fim renovada.
Tenho que dar o braço a torcer e dizer que os amigos da garota tão pontos importantes desse "retorno das cinzas" de Angelina. Me apaixonei absurdamente por dois deles. Sempre fui a favor de amizades complexas, mas que tenham leveza nos momentos mais densos, e Angelina tem que agradecer de ter os melhores amigos nesse quesito. Se tem uma coisa que acho essencial numa amizade é um pouco de abnegação, e tem uma cena belíssima de doação no final desse livro que me deixou sensível e chorosa. E não podia deixar de pensar... "É isso ai"
Enfim, é um livro com dramas intensos dentro da perspectiva de vida de Angelina, e isso não tirou a majestade da escrita da autora, muito pelo contrário, deu-lhe vida. Para vocês terem uma ideia, peguei ele despretensiosamente em um sábado depois do almoço e só fechei quando acabei. E acabei feliz de ter lido um livro com uma mensagem tão visível e interessante para os jovens nos dias de hoje. Uma coisa é certa... Esse livro cai como uma luva em escolas dominicais. Lycia trabalha a espiritualidade sem ser chata, e cita tantas vezes o nome de Deus que eu o senti ao meu lado durante toda a leitura.
Sou uma mulher espiritualmente complicada. Consigo ir do Alcorão para a Bíblia e depois para Deus e o Estado sem acreditar inteiramente em nada, e tendo fé para tudo aquilo que me deixa em paz. Minha fé é diferente do que achei que um dia fosse acabar sendo, visto a influência que tive do meu pai e minha avó.
Minha mãe me deixou escolher que caminho espiritual eu iria seguir, e não me batizou quando criança. Fiz o mesmo com meu filho. Claro que falo em Deus em casa, mas talvez não tanto quanto deveria. Não o enxergo com as regras que as pessoas enxergam. É mais uma energia extrema que nos deu um presente singular, o livre arbítrio, e nos deixa trabalhar com ele afim de evoluir agora, ou daqui algumas outras eras. Converso com ele como se falasse com um irmão, e dou broncas do mesmo jeito que sei que receberia se pudesse ouvir. Não sou sua filha mais obediente, mas não sou a pior delas. Sou chata, mas é só ele soprar significados nas coisas ao meu redor que eu paro para ouvir até o mais leve farfalhar do vento. É surreal esse trem de fé, e o senti elevado ao ler esse livro.
Portanto, é sim um livro que recomendo. Tentem ler sem focar tanto ou pensar na coisa da espiritualidade. Deixa a história em si te guiar e depois de terminar me diga que se não se sentiu um pouco mais próximo de algo que não consegue entender porque é maior que você.