Viva som! (O Despertar da Primavera)

Como primeiro dia da postagem seguindo nossa agenda está o Viva som, que inclui qualquer postagem musical. E a de hoje será sobre o musical O Despertar da Primavera (Spring Awakening).
A história foi escrita como peça teatral em 1891 pelo alemão Frank Wedekind.
O texto é sobre adolescentes mas o conteúdo é bem maduro. Fale sobre tabus no meio jovem: incesto, homoxesualismo, aborto, suicídio.
São temas bem polêmicos no mundo dos adolescentes onde são poucas as famílias até hoje em dia, mesmo com todo o esclarecimento, que tratam desses asssuntos com seus jovens de uma maneira clara e concisa. Em 2006, Duncan Sheik e Steven Sater trouxeram o rock para o texto de Wedekind e transformaram a peça original num musical. Muito aclamado pela crítica por todo conteúdo e o adicional do rock (que é um tipo de libertação jovem) Spring Awakening ganhou oito prêmios Tony. Que é um tipo de oscar do teatro.Incluindo o de melhor musical. Apenas dois anos depois, Charles Moeller e Claudio Botelho trouxeram o texto para o Brasil. Fazendo uma versão nossa de O Despertar da Primavera. A versão americana levava inicialmente Jonathan Groff como o protagonista Melchior e Lea Michele como Wendla. A versão brasileira tem Pierre Baitelli e Malu Rodrigues como os protagonistas.

O Despertar Original e seu autor
‘O Despertar da Primavera’ se passa na Alemanha no final do século XIX e conta a história de Melchior Gabor e Wendla. Ele, um jovem brilhante e rebelde que ousa questionar os dogmas vigentes. Ela, integrante de uma família de classe média alta, educada por uma mãe com rígidos princípios morais e religiosos. O encontro dos dois irá provocar a explosão do desejo, da vontade de conhecer o sexo e o amor. A história deles se cruza com a de vários outros jovens, como o oprimido e trágico Moritz ou a bela Ilse, que tem a coragem de usufruir de sua liberdade e se aventurar pelo mundo. Todos têm que enfrentar o peso da repressão e do conservadorismo, nos mais diversos estágios da sociedade. Questões como abuso sexual, violência doméstica, gravidez na adolescência, prostituição e suicídio e homossexualismo, entre outros, vêm à tona na vida desses jovens.
A peça original denunciava os preconceitos e o conservadorismo das três principais instituições que regem a educação do homem: a família, a igreja e a escola. É considerada um dos precursores do expressionismo, movimento artístico que se caracterizou por uma oposição ao naturalismo. O teatro expressionista é anti-realista, utilizando-se, quase sempre, de uma dramaturgia combativa com ênfase nos conflitos sociais e de um estilo de cenografia que optava pela fantasia, com espaços que não são mero fundo para a ação teatral, mas interagem e atuam como um novo personagem.
O original de Wedekind causou imensa polêmica na época de seu lançamento por tocar em tabus e levantar a bandeira da liberdade, questionando a repressão tanto no seio da família quanto no sistema de ensino alemão. Sem encontrar editores que bancassem o projeto, o próprio autor financiou a publicação, em edição limitada. A primeira montagem foi apenas em 1906, tendo o jovem Peter Lorre no papel de Moritz e Lotte Lenya como Ilse, mas logo o espetáculo foi proibido, e em 1908 foi vetada qualquer manifestação sobre ‘O Despertar’, com punições que poderiam levar os infratores para a prisão.
Em 1912, Wedekind conseguiu novamente montar o texto na Inglaterra, mas somente em alemão e com portas fechadas.  Nos Estados Unidos, a autorização para uma versão em inglês foi obtida apenas em 1917, mas um dia antes da estreia, em Nova York, o espetáculo foi novamente vetado. Com a mobilização da classe artística local, foi possível uma única apresentação. No ano seguinte, Wedekind faleceu e não pôde assistir ao renascimento da sua peça, que, com o apogeu do nazismo, ficou esquecida durante anos.
A filha de Wedekind, Kadidja, se exilou na América e conseguiu montar o espetáculo na Universidade de Chicago, em 1958. Logo, ‘O Despertar da Primavera’ se tornou obrigatório nas escolas norte-americanas e virou um hino entre os jovens, com uma série de encenações ao redor do mundo.
A primeira montagem profissional e não adulterada de ‘O Despertar da Primavera’ se deu apenas em 1974 na Inglaterra, 83 anos após o texto ter sido escrito. A produção foi extremamente incensada e reverenciada pela crítica, e muito de sua força vinha da brilhante tradução de Edward Bond, “escrupulosamente fiel à poesia e ironia de Wedekind”, segundo o London Times. Esta versão inglesa foi a base de todo o trabalho de adaptação para o musical.
Wedekind foi, sobretudo, um feroz inimigo da hipocrisia social e combateu dogmas da sociedade, especialmente na sua negação dos instintos sexuais. Escreveu espetáculos polêmicos como ‘O Espírito da Terra’, ‘A Caixa de Pandora’, e ‘A Morte e o Demônio’, que compunham a trilogia ‘Lulu’. “Ele pagou um alto preço por ter coragem de desmistificar os tabus e celebrar a vida. A cultura ocidental reverencia a morte, mas recusa o ponto de partida, que é o sexo. Ele sabia que a informação era uma arma poderosa. A ignorância leva ao extermínio”, finaliza Charles.
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Eu li sobre esse musical, baixei a peça escrita e a versão da Broadway. Assisti muitas vezes sem entender o que eles falavam (meu inglês é bem básico) Mas fiquei muito feliz com o que vi. É muito bom quando temos esse tipo de qualidade de texto numa época tão complicada para coisas como adolescentes X sexo. Era comum eles dizerem que quando não se conhece algo, o diabo não atenta. Acredito que isso é pura questão de ponto de vista; e de cultura, claro!
As coisas hoje em dia estão de um jeito diferente. Não vou dizer que é mais fácil, ou mais difícil. Temos mais gravidez hoje em dia do que na época, temos mais incestos, mais homosexualismo?
Acredito que hoje em dia existam mais meios para praticar algumas coisas, e mais divulgação. É impróprio dizer que era menor a quantidade de homosexuais na época. O que acontecia, era que homosexualismo era um tabu absurdo. E como quase não existia divulgação, ou direito de voz aos jovens, ninguém se pronunciava. Aliás, homosexuais existem comprovadamente na história e na literatura desde a antiguidade. Alguem lembra de Alexandre, o Grande?
Uma coisa garanto.
A liberdade mudou o mundo.
Coisas ruins acontecem toda hora. E não era muito diferente há alguns anos atrás. Ou vocês esqueceram que faziam festas em dia de forca?
A sensibilidade humana rumou para outros lados. E cabe a nós zelar pelos nossos jovens. Instruir é a solução hoje em dia. Não adianta fazer de conta que eles não entendem. Vocês já foram adolescentes. Conheceram seus corpos e gostos, e raivas e vontades e desejos na mesma época. Vocês mais que ninguém sabe pelo que seus filhos passam. O seu dever, o nosso dever é mostrar como passar por tudo com maestria.
Deixo então a dica do musical. Do livro. E porque não, da história.
É uma boa obra. É uma libertação dos jovens numa época que liberdade era apenas nome num livro qualquer.
Leiam com seus filhos; e quem sabe eles te digam coisas como... Sempre quis ouvir isso!

Versão americana (Lea Michele e Jonathan Groff)
Frase do cartaz: No fim, só temos uns aos outros.

                                            Versão brasileira (Pierre Baitelli e Malu Rodrigues)