Feliz Aniversário!
Não imaginei que
chegaria aos vinte e oito. Provavelmente não me imaginei nem chegando aos vinte.
Tenho essa pouca perspectiva de futuro, e vou vivendo um dia de cada vez,
tentando encaixar meus sonhos no buraco simplório e curto que é a vida. É fácil
fazer isso quando se tem imaginação, e isso eu tenho de monte.
Já viajei o mundo
montada no Falcon. Sim, aquele de A
História sem Fim, e posso jurar que em algum momento também joguei
Quadribol. Acho que eu era batedora – tenho essa mania de querer quebrar as
coisas.
Tive meses de acordar
todos os dias em uma terra diferente, principalmente a Terra Média, com suas
construções élficas antigas e árvores que falam. Até hoje eu acho que escuto
algumas ávores, mas agora o som é trazido pelo vento, e não de um tronco
seco.
Tenho medo de escuro
total, não vou mentir. A falta de luz me sufoca em camadas de desespero e
agonia. Deveria ter me acostumado, depois de tanto tempo de escassez de velas
em minha vida, mas não me acostumei, e acho que nunca acontecerá.
Sabe aquelas pessoas
quem tem problemas sérios de passar embaixo de escadas? Essa sou eu. E nem acho
que é porque vai me dar alguma espécie de azar, mas simplesmente não consigo
passar. Tudo bem ver um gato preto, mas escadas são o meu terror. Não sou
superticiosa, quer dizer... Acredito em horóscopo, por mais irracional que isso
seja. Não é possível que várias pessoas do mundo tenha características tão
parecidas só porque nasceram com a lua na perpendicular e com marte na oitava
casa de sei lá de onde. Mas alguma coisa no fato de um pedaço de papel saber
quem eu sou, é mais do que eu mesma consigo sobre mim.
Não sei ficar uma
maldita semana da minha vida sem comer chocolate. Pode ser um bombom, uma bala
ou até um pirulito. Mas meu organismo pede chocolate com a mesma necessidade
que pede água. Tirei minha vesícula uns anos atrás, e deveria mesmo fazer uma
dieta rigorosa com alimentos saudáveis e essas coisas legais. E eu me empolgo,
sério! Ando com maça e barras de cereal na bolsa. Como e ainda fico com fome.
Como diabos alguém passa o dia com uma maça e fica de bom humor? Meu humor é
regulado pela quantidade de comida no meu estômago e pelas horas de sono que
tive.
Tenho um trabalho que
paga mal, com um horário bacana, mas super desgastante fisicamemnte. As vezes
quando chego em casa, só quero cair na cama e não levantar nunca mais. Mas dai
o motivo de achar que o que recebo é tão pouco, chega em casa e pede comida,
pede banho, pede um sorriso e leva todos os dias o pedaço de racionalidade que
existe em mim. Se ainda levanto pelas manhãs achando que posso mudar o mundo, a
culpa é dele. É por ele que ainda visto uma bata e enfrento o sol, ou já tinha
chutado o pau da barraca e caido no mundo com uma mochila nas costas e um
caderno nas mãos.
Alguém que amo me disse uma vez
que sou uma pessoa equilibrada. Sabe que nunca pensei isso de mim mesmo? Tudo
bem que não sou explosiva, mesmo quando minha mãe me acusa de algo que não fiz
ou se chateia com algum coisa que fiz. Percebi que o fato de ficar quieta e
esperar a raiva dela passar, não é fraqueza, é alto controle. Claro que fico um
lixo depois e entro em ume estado depressivo por algumas horas, que dura só o
suficiente para me sentir babaca por estar choramingando por coisas que não dá
para mudar. Sou cercada dessas coisas que não se mudam, e completamemente
acomodada com as que mudam. Eu sei, isso é péssimo!
Não tenho muitos amigos,
mas beijaria eternamente a testa dos que tenho. Fiquei mal várias vezes porque
algumas pessoas foram embora e me deixaram. Percebi que quando não temos mais
utilidade na vida de alguém, é normal a partida. Isso não é maldade ou egoísmo,
é só o mundo te dizendo que você precisa abrir espaço para que outra pessoa
mude e traga alguma mudança para você.
Sou uma líder nata, e aqui
voltamos a uma característica que seria comum nos arianos. Não é que eu goste
de mandar nem nada assim, é que as pessoas me ouvem e eu gosto de ser escutada.
Gosto de ouvir também, mesmo que as vezes eu não concorde. Vou admitir que
tenho facilidade de convencer as pessoas do que quero, mas também sou facilmente convencida por elas. Talvez meu pai fosse um profeta quando me
disse aos doze anos que eu ganharia o mundo com isso. Na hora me vi vestida em
uma armadura de couro com uma espada nos braços enfrentando dragões. Nunca quis
ser a princesa das histórias. Elas perdem toda a aventura e ainda precisam usar
sapatos altos. Odeio! Serei sempre aquela que vai para as baladas com roupas de
rock e óculos nerd. Sou meio nerd, ou como muitos diriam, totalmemte nerd! Só
me falta um sabre de luz que realmente brilhe no escuro para ser rejeitada no
círculo social dos bacanas e me sentir uma personagem de filme High School
americano. Nunca gostei de teen liders mesmo!
Sou extrovertida e
dramática. Aliás, ser dramática talvez seja meu adjetivo de vida. De tudo faço
drama, mesmo que seja um drama interno. Analiso a vida como um expectador
ausente, quando na verdade sou a protagonista daquele corte de realidade. Acho
que essa coisa do real me assusta, e daí me tranco. Apareço as vezes, quando
estou em grupo e alguém me faz rir, ou quando faço alguém rir. Gosto de
sorrisos e abraços.
Também tenho que admitir
que sou impulsiva e já quebrei muito a cara com isso. Não tenho paciência de
pensar nas minhas atitudes milhões de vezes antes, e por isso já fiz merda.
Mas o que posso fazer se meu descontrole é o que me mantem controlada?
Antagônico, eu sei, mas essa sou eu em carne, osso e verdade.
Sempre aviso que não sou
boa para manter um relacionamento de qualquer forma que seja. Vou farrapar
muitas vezes quando marcar de sair. Vou me chatear se passar muito tempo perto
de você porque uma das coisas que mais adoro é estar sozinha. Vou ficar
pensando no filme de ontem enquanto você estiver empolgado falando de algo que
parece ser interessante, mas sempre vou te dar atenção quando o assunto for
sério ou quando apenas quiser ficar calado junto de mim. Fique sabendo desde já
que odeio hospitais e cemitérios. Passei nove dos piores dias da minha vida em
um, e pensando como seria enfrentar o outro depois de lutar por nove dias.
Então caso alguém que você goste morra, eu vou estar longe fisicamente porque
tem coisas que não aguento, nem mesmo por meu amor por você. Ainda não.
Não sou quem esperava
ser aos vinte e oito anos, mas realizei coisas que nunca imaginei conseguir
nesse curto período de tempo. Não tenho problema algum de dizer minha idade,
mas fico feliz quando alguém abre a boca numa exclamação engraçada por não
acreditar nem um pouco que eu sou tão “velha”.
Já plantei uma árvore,
escrevi um livro e tive um filho. Diz o filósofo que toda pessoa deveria deixar
o nome gravado em vida nessas três coisas, e tenho assinatura em todas elas com
orgulho. Mesmo que minha árvore não tenha conseguido se manter, que meu filho
passe mais tempo sozinho do que comigo, e que o livro não tenha conseguido uma
editora para ser publicado. Mas daí eu lembro que vivo do agora, e não me
preocupo com o amanhã em relação aos meus sonhos grandes. Posso visitar Londres
pelos meus livros e até sentir o aroma de café da Starbucks usando a imaginação. Só para constar, eu não gosto de café, mas o cheiro dele é simplesmente
delicioso.
Nunca andei de montanha
russa, apesar de simplesmente babar quando vejo as pessoas em uma. Nunca joguei
um buquê de flores para uma futura noiva, mesmo que eu tenha sido casada duas
vezes. Nunca aprendi a dirigir de verdade, porque meu pai morreu antes de
cumprir esa promessa que seria, no mínimo, divertida e traumatizante para ele.
Acho que já sei porque ele morreu antes. Rsrs
Não confio nas pessoas.
Não confio nada nas pessoas. Esse é um fato importante sobre mim, e que me
machuca muito quando não correspondo a confiança de alguém.
Tenho amigos que nunca
vi, mas que falam mais comigo e conhecem mais da minha vida do que minha
família. Aliás, quando era criança pensava que eu tinha nascido de um ovo, já
que minha irmã e minha mãe parecem ter uma química e uma interação que sempre
invejei, e que jamais consegui ter. Mas tudo bem, porque as amo assim mesmo,
loucas e sorridentes. Daí eu descobri que pertencia a essa família quando meu irmão
nasceu. Ele é como eu, só que muito mais idiota e ainda cheio de birras
adolescente. É a segunda pessoa que mais amo no mundo, e sinceramente? Não sei
o que faria sem ele parar gritar pelo som alto, ou porque não lavou os pratos.
Olho para o céu pensando
em quantos seres em outros mundos estão fazendo o mesmo. Penso se as estrelas
deles são tão apagadas quanto as minhas da cidade, e lembro de Lagoa Azeda, uma
praia afastada e perigosa que meu avô me levava para simplesmente pescar. Hoje
sei que era mais uma meditação do que um esporte. Ele tinha muita coisa para
pensar, talvez ainda tenha, mas eu nunca saberei porque mesmo que nos tornemos
adultos, pais e avôs sempre acham que não suportamos algumas coisas.
Vivi longe do meu pai
biológico a vida inteira. Ele tinha uma mania de aparecer quando precisava de
mim, e quando eu precisava dele, ele fazia parecer que era uma punição estar
por perto. Minha mãe nunca me deixou odia-lo. Dizia que o mal do cara era
fraqueza, mas que ele era humano e que nem sempre as pessoas nascem para ser
bons pais. Sinto falta de pensar no que seria da minha vida se ele também
tivesse permanecido nela, ainda que eu tivesse tido o melhor homem do mundo
para chamar de pai. Pior do que não ter um pai ou uma mãe, é saber que eles existem,
sabem de você, mas fingem que não, ou são orgulhosos demais para admitir que
erraram, já que eles são os pais e deveriam nos ajudar a consertar os nosso
passos errados.
E olha só, depois de
tantos parágrafos percebi que sei muito sobre mim mesma. Sei tanto, que agora
vou colocar um Twist and Shout e
dançar até ficar suada e liberada da tensão de envelhecer um pouco mais a cada
minuto do meu dia. Adoro música e adoro dançar! E isso é um fato comprovado
sobre mim.
Não tenho medo da morte,
mas tenho medo do longo percurso que farei até chegar lá. Tenho medo de acordar
e pensar que não fiz nada de realmente significativo, quando sinto que preciso
fazer. É isso que o mundo está esperando de mim, e é isso que darei em troca
para ele, assim que descobrir como executar esse plano.
Apagarei mais uma vela
na esperança que esse ano a fumaça da novidade perdure até o ano seguinte.
Sinto que esse possa ser o meu ano, mas
também pensei o mesmo do ano passado.
Carol Teles