Resenha de "Dark House" (Karina Halle)

"O que houve com a ideia?"

Sinopse: Há sempre algo fora do normal em Perry Palomina. Embora ela esteja vivendo uma crise ao passar pela síndrome pós-faculdade, assim como qualquer garota de vinte e poucos anos, ela não é o que chamaríamos de comum.Perry possui um passado que prefere ignorar, e há também o fato de que ela consegue ver fantasmas. Tudo isso vem a calhar quando se depara com Dex Foray, um excêntrico produtor que está trabalhando em um webcast sobre caçadores de fantasmas. Dex, que se revela um enigma enlouquecedor, arrasta Perry para um mundo que a seduz e ameaça sua vida. O farol de seu tio é pano de fundo de um mistério terrível, que ameaça a sanidade da moça e faz com que ela se apaixone por um homem que, como o mais perigoso dos fantasmas, pode não ser o que parece.


O que acontece quando você vai ler um livro cheio de expectativa e leva um banho de água fria pelos aspectos estranhos que a autora insere? E quando falo estranho, não estou dizendo no bom sentido. Em algum momento de Dark House, a autora sofreu um ataque de "perda de memória recente" e tirou o enredo de um caminho bacana e seguro e o jogou num vazio inquietante. 

A premissa básica do enredo é essa: Perry tem pesadelos. Muitos pesadelos que custa a acreditar que possam ser mais do que isso. Ela sente que algo está faltando em sua vida, mas não tem a mínima de ideia do que seja. A família resolve passar um final de semana na casa do tio, numa propriedade próximo ao mar onde tem um farol antigo e fechado. Movida pela curiosidade, já que o farol faz parte da maioria dos seus pesadelos, Perry vai investigar o lugar. É ai que ela conhece Dex, o produtor de programas de Webcast que tem interesse de fazer um novo show sobre caçadores de fantasmas. A aproximação dos dois parece ser bem maior do que apenas acaso, e quando Dex chama Perry para embarcar nessa nova aventura junto a ele, a garota não consegue dizer não. 

Sabe o que penso? Que a sinopse vende mais o livro do que ele em si. Como se tivessem puxado para que ele fosse muito mais romântico e dark do que realmente é. Sim, existe um mistério acerca do farol e toda essa ligação entre Perry e Dex, mas de fato isso me pareceu muito vago. Senti que a autora não soube explicar nem uma coisa nem outra, e ficou vagando entre situações que não achei necessárias para poder ter mais folhas antes de chegar ao fim. 

O farol era o ponto máximo para mim. Realmente teve cenas que precisei fechar o livro de noite porque me dava medo. Mas levando em consideração que tenho medo até da minha própria sombra, isso não deve ser levado em questão. Ela insere uma estrutura diferente na narrativa que te joga ora para os pesadelos de Perry, ora para a realidade e você não sabe onde acaba um e começa o outro. De início pareceu confuso, mas com o tempo você pega jeito na coisa. Gosto de não saber se estou lidando com o real ou não ali dentro. Esse negócio de farol e fantasmas super combinam! 

O problema é que li esse livro durante as manhãs justamente por medo, e acabou que me senti ofendida e ridícula quando a autora não deu o final necessário para essa parte em específico. Na verdade ela deixou um rombo na minha cabeça e mais perguntas do que achei que pudesse formular. Sério, quando vi as páginas chegando ao fim e nada de resolução, fiquei frustrada. E tudo bem que a autora quisesse deixar isso para o próximo volume - sim, é uma série - mas senti necessidade de ter ao menos um gancho entre essa problemática e a próxima. Porque o que deu para entender, é que no próximo já teremos uma outra história dos caça-fantasmas, e fico inquieta com a possibilidade deprimente de que "aquilo" seja o final da história do farol. 

E nem vou me estender para o final de Dex e Perry porque fico mais deprimida ainda. Ah vá, por favor! Queria deixar para o próximo também? Sem problemas. Mas ela poderia ter colocado muito mais do que colocou ai. Pelo menos é o que a sinopse do livro vende, mas o que aparece é uma jovem mulher se apaixonando por um cara que a ignora totalmente como mulher. Tá, totalmente é exagero meu, mas como vemos o POV apenas de Perry, você de fato não sabe o que se passa na cabeça de Dex. Na verdade, Dex para mim tinha mais mistério do que o maldito farol. 

Com tantas coisas negativas, porque então eu não diminui o número de estrelas? 
Bem, devo confessar que o casal em si é pra lá de bom! Não como um casal propriamente e tal, a graça está na vida deles independente. 

Perry não é uma mocinha que você vai chamar de rainha da beleza. Ela é gordinha, não sabe o que quer da vida, não tem a beleza austera da sua família. Veste jeans e tênis quando a mãe e a irmã usam Prada. É formada em publicidade mas trabalha como recepcionista numa empresa grande, o que ela odeia. Fez um monte de cursos estranhos no decorrer da sua vida. Já quis ser dublê, e por isso sabe cair como ninguém. Fez curso de tiro e todas essas coisas que ninguém costuma dar valor. É como se internamente Perry viesse se preparando para o momento que fosse precisar se comportar como uma caçadora de fantasmas - como se pudéssemos matar fantasmas com uma pistola semi automática. Aliás, fantasmas já estão mortos. 

Dex não é muito diferente na excentricidade. Ele não é gostosão - como a maioria desses personagens são. É magro, bem mais velho do que Perry e nem tem um rosto diferente do comum. Mas a personalidade dele é um primor. Na verdade ambos, Perry e Dex, parecem ser muito bons juntos. Ele é discreto e tem um sorriso encantador, ela é engraçada e impulsiva. Achei que o casal combinou, ainda que não tinha sido de fato um casal. Eles são responsáveis pelas minhas quatro estrelas, como também a ideia central da trama que, não posso negar, é bastante interessante. 

Achei que faltou mais da história. Penso que a autora demorou muito abordando coisas desnecessárias e esqueceu do primordial - como o relacionamento dos dois e o mistério do farol. Acredito que a intenção dela tenha sido ambientar o leitor nos personagens, na ideia do Webcast e na ligação diferenciada que Perry e Dex tem juntos. Não vou dizer a vocês que abandonarei a série depois desse livro, porque realmente preciso saber se a resolução do mistério do farol era aquela, mas o próximo será minha última chance para ela. Se a autora apresentar um mistério novo e ainda sem solução, então eu desisto. Não vou ficar batendo com a cabeça em ponta de faca tentando entender porque ela  não consegue amarrar os fios soltos.