Resenha de "O Sobrevivente" (Gregg Hurwitz)

"I-N-C-R-Í-V-E-L"

Sinopse: No parapeito de uma janela de banheiro no 11º andar do First Union Bank, Nate só tem mais um objetivo na vida: reunir a coragem necessária para saltar e acabar com os seus problemas. De repente, ele ouve tiros dentro do banco e, ao espiar o que está acontecendo, vê uma cena terrível: criminosos mascarados disparando cruelmente em qualquer um que se coloque em seu caminho. Enquanto sustenta o olhar de uma mulher agonizante, Nate toma uma decisão. Lançando mão de seu treinamento militar, ele consegue render e matar todo o grupo, exceto o seu líder. Antes de escapar, o homem deixa claro que ele se arrependerá de seu ato heroico. Ele está certo. Em poucos dias, Nate é sequestrado pela máfia ucraniana e recebe uma ameaça: precisa voltar ao banco e concluir a tarefa que os bandidos não puderam cumprir. Do contrário, sua ex-mulher – pela qual ainda é apaixonado – e a filha adolescente, que não o reconhece mais como pai, serão brutalmente assassinadas. Enquanto o tempo corre de maneira implacável e o prazo de Nate se aproxima do fim, ele luta não só para salvar as duas da morte, mas também para recuperar sua confiança e seu amor.
  
Se alguém me dissesse algum tempo atrás que um dos meus livros prediletos do ano seria um policial, certamente que eu riria dessa informação. Apesar de gostar dos policiais, eles costumam não se aproximar nunca da minha lista de "best of the year". Isso foi até conhecer a escrita de Gregg Hurwitz e me apaixonar completamente por ela. 

O Sobrevivente vai contar a história de um homem que descobre que tem uma doença terminal, e decide optar por tirar a própria vida antes de ter que sofrer aos poucos com a doença. Ele resolve que pular de um prédio alto será a melhor solução, e escolhe um banco para resolver sua situação. Acontece que é nesse banco, e no mesmo horário do seu suicídio, que assaltantes resolvem atacar. E ele poderia se manter quieto, se não achasse aquilo tudo tão errado. Nate é o típico cara que estava na hora errada e no lugar errado, ou não.

É assim que ele interfere no assalto e descobre, a duras penas, que aquele gesto impulsivo colocou sua família em perigo. Ele precisará usar toda a sua força de vontade para salvar aqueles que amam das garras crueis de pessoas que ele não deveria ter atrapalhado. 

Premissa bacana, não é? Contudo eu poderia discorrer dias aqui sobre tudo que esse livro é não chegar aos pés de explicar a vocês o que realmente ele significou para mim. Da grandeza narrativa do autor e do tanto que um livro frenético desses pode ser tão emocionante e nem precisar de muitas páginas para isso. 

Certamente essa é a grandeza de O Sobrevivente... O tanto de realidade e leveza que o autor consegue impor em frases simples e inteligentes e nas ações bem cuidadas dos personagens. É sempre uma subtrama dentro de outra e isso é um dos brilhantismos desse livro. Me apaixonei por cada pedaço dos traços psicológicos de Nate, nosso grande herói suicida. Do relacionamento complicado com a ex mulher e a filha, até o relacionamento com o ex melhor amigo que foi morto em guerra, Charles. 

Tem um momento, no início do livro, que o autor nos reporta ao passado de Nate e nos faz entender algumas coisas importantes sobre ele. Você constrói em sua cabeça uma base de dados forte acerca do personagem e dos principais coadjuvantes. Isso dilacera seu coração quando tem que lidar com a doença dele, os horrores da guerra que ele teve que viver e como tudo isso afeta o convívio difícil que ele tem com a família. 

Sabe aquele tipo de livro que as vezes você está lendo, passa por uma grande parte dele e fecha para poder xingar o autor exatamente porque aquilo é grande demais e merece um xingamento? É exato o que acontece com O Sobrevivente, e nem é em apenas um momento ou dois. Cada grande cena aqui eu queria beijar o rosto do Hurwitz e declarar todo o meu amor eterno a esse cara que surgiu do nada na minha vida e me deu um dos melhores personagens do ano.E um dos melhores livros também.

Com um humor negro acerca de quase tudo, Nate é inesquecível. Sua vontade de viver é tanta, que você se compadece com sua certeza da morte. É surreal acompanhar a evolução de força dele ao decorrer do livro, e o brilhantismo com o qual o autor encerra tudo. 

Sem contar que é um livro realmente cinematográfico. Como se Hurwitz tivesse escrito para ser de fato um roteiro de cinema. Tem cenas tão "tela grande", que eu consegui visualizar até a velocidade da câmera e das situações que se desenrolavam. Para mim a última cena é um primor. Sem um único diálogo e com tanta emoção contida nela... Suspirei de verdade com essa em específico, e com tantas outras maravilhosas dentro de um livro que só deveria ter sido frenético e bom, mas que foi fantástico!

Com personagens secundários pra lá de incríveis, um enredo concreto e bem conduzido e o protagonista que vai te deixar feliz, O Sobrevivente entrou fácil na lista de melhores livros do ano. Forte, sarcástico em relação a vida e a morte, e com um texto pra lá de apaixonante, o autor me conquistou por inteira. Ele pode levar meus braços, pernas, consciência e tudo o que sobrar depois daqui. Lerei qualquer coisa que Hurwitz escrever de agora em diante, e tenho certeza que suspirarei com isso em todos os momentos.