Resenha de "Se eu ficar" (Gayle Forman)

"Bem reflexivo"



Sinopse: Depois do acidente, ela ainda consegue ouvir a música. Ela vê o seu corpo sendo tirado dos destroços do carro de seus pais – mas não sente nada. Tudo o que ela pode fazer é assistir ao esforço dos médicos para salvar sua vida, enquanto seus amigos e parentes aguardam na sala de espera... e o seu amor luta para ficar perto dela. Pelas próximas 24 horas, Mia precisa compreender o que aconteceu antes do acidente – e também o que aconteceu depois. Ela sabe que precisa fazer a escolha mais difícil de todas. 


Conheci If I Stay antes de saber da existência de um filme ou que a NC traria para o Brasil. Era só um arquivo traduzido por fãs e que estava fazendo vez no meu Kindle desde que o comprei. Um belo dia estou passeando na internet e a desinformada aqui acha- sem querer - um teaser trailer do filme. E daí pensei em duas coisas ao mesmo tempo: "Porque merda eu não sabia que fariam um filme desse livro?" e "O que estou fazendo que ainda não li?". Logo depois soube da notícia que teríamos uma versão do livro saindo pela NC, então foi só esperar para ler e me encantar. 
Se eu ficar vai contar a história da Mia. De início sabemos pouco sobre a garota além do fato dela tocar muito bem o violoncelo, que tem uma família de uma interação maravilhosa quando estão juntos, que possui um namorado que também é músico e que é uma garota tímida. Desse começo leve passamos para um big acidente de carro, e depois veremos a história através da Mia no presente sendo atendida por paramédicos e levada ao hospital. Claro que aqui temos uma visão extracorpórea da coisa. É como se Mia fosse um fantasma que acompanha todo o desenvolver dessa manobra. Mas também vemos flashback dela em tempos diferentes de antes do acidente, intercalando ambas situações em momentos conflitantes. 

Nem sempre costuma funcionar quando o autor faz algo intercalado em tempos diferentes, da forma que a Gayle fez nesse livro. Mas devo dizer que realmente não me incomodou no caso desse em específico. Sempre tem aquela parte da leitura que você espera uma dessas cenas do passado, como tem aquela que você quer desesperadamente ver o futuro. Não achei ruim nenhuma das vertentes temporais, e isso me ajudou a ler com mais afinco e velocidade, ainda que seja um livro altamente reflexivo. 

Sim, não espere ação em demasia aqui porque não tem. É uma garota traumatizada que tem que escolher entre ficar viva ou não ficar. Em optar pelo caminho mais fácil ou aquele cheio de espinhos. É como se fosse um livro de psicologia disfarçado de romance jovem adulto. Claro que dá para ler numa sentada, já que ele é bem fino, mas com a quantidade de reflexões existentes nele, realmente não consegui fazer isso. Precisei de um tempo absorvendo algo que me fez pensar muito no que faria se estivesse no lugar dela. A autora jogou a protagonista numa situação impensável, mas bem possível de acordo com o acredito sobre coisas extracorpóreas. 

Me encantei com as cenas do passado. Tinha algo de "lição de vida" em cada uma delas numa sutileza de momento que te faz suspirar e pensar que são essas coisas simples - e as que normalmente não damos valor - que são responsáveis por fazer uma vida valer a pena. É como se a autora lançasse uma ideia no presente, e daí ela quer justificar os atos dos personagens com o passado, e casou que foi uma maravilha! São primorosas essas cenas! Tem uma em específico que a família e alguns amigos estão sentados no jardim curtindo um tempo juntos. É boba, mas visualmente belíssima para quem tem uma imaginação como a minha. 

O leque de personagens também são incríveis! Desde Mia e sua simplicidade de vida, a Adam e sua energia. Aliás, Adam é aquele cara que você se apaixona por ele quando está presente, e mesmo quando ele vai, você sente que o corpo vai atrás. Ele é intenso até quando deixa Mia por alguns momentos. 

Os diálogos são bem conduzidos e a construção musical das cenas também me deixou arrepiada, mas nem sei se é porque sou louca varrida por música. Acredito que exista magia sempre que um autor une música com literatura, independente se você é louco por ela, como eu, ou se é só um ouvinte passageiro. Como o negócio aqui é maior com música clássica, e as referências foram postas com vontade, eu li o livro praticamente inteiro ouvindo todas as passagens para violoncelo que a autora cita. Isso ajuda muito na imersão da história, e baixei várias delas para meu telefone depois que acabei. 

Apesar de cinco estrelas, Se eu ficar não foi um dos melhores livros do ano, e simplesmente não sei o motivo de não ter colocado ele lá. Estou dando a nota que de fato a autora merece porque construiu um livro que me tirou da minha zona de conforto, e não pela situação atual de Mia, mas pela forma como ela conduziu a simplicidade do passado da garota. Acho que é uma história curta porque precisava ser curta. Ela vem para atingir um público de jovens, e não dá para usar 600 páginas filosofando sobre a importância da vida com eles. É um livro limpo e sem defeitos agravantes para mim. Não torci pela vida nem pela morte de Mia. Torci para que sua decisão fosse justificável na minha cabeça, e isso ocorreu, então fiquei aliviada e bem feliz de ter lido o livro. 

Agora é esperar pelo filme e torcer para que o diretor tenha conseguido pegar a mesma emoção nas coisas simples que tinha no livro, e transportá-la para a tela do cinema.