Para pirar o cabeção! Série "Dark"



Sinopse: A história acompanha quatro diferentes famílias que vivem em uma pequena cidade alemã. Suas vidas pacatas são completamente atormentadas quando duas crianças desaparecem misteriosamente e os segredos obscuros das suas famílias começam a ser desvendados.
Sabe aquele tipo de filme que você assiste e quando termina se sente burro por não ter entendido o que ele queria passar? Foi justamente o meu caso com Dark. 

Já passei por situações semelhantes com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Amnésia e um ou outro filme de Lars Von Trier. Filmes que precisei de mais de três ou quatros assistidas, além de discussões em fóruns, para entender o que o diretor queria que eu entendesse. Porque ainda tem isso... O que você interpreta de uma história não é exatamente o que deveria. A arte é sempre subjetiva, mas eu gosto de entender a visão de quem entrega uma proposta ousada, como foi o caso de Dark.



A história de Dark se concentra em alguns desaparecimentos em uma cidade alemã. Aliás, é uma série alemã, então se preparem para nomes esquisitos de lugares e de pessoas. Principalmente de pessoas, e essa foi uma das problemáticas que tive em específico com essa série. Tenho problemas com o que sai do meu cotidiano, e certamente que pessoas com consoantes demais no nome é complicado para mim. E devo alertar que a quantidade de personagens também pode confundir, ainda que eles não se percam na trama. São muitos, e em diferentes momentos "históricos", então sim, anotar esses nomes seria uma boa dica para uma segunda assistida.


Apesar das inúmeras comparações com Stranger Things, inclusive por parte da própria Netflix quando anunciou a série, falando que quem gostava de Stranger iria gostar de Dark e colocando fotos promocionais de grupos de adolescentes como chamariz, Dark segue caminhos diferentes dessa proposta. 
A coisa aqui é bem mais sombria do que em Stranger. Enquanto Stranger foca na nostalgia e amizade entre garotos, em Dark temos, a priori, o individualismo externalizando em ações aterrorizantes. Ainda que o sobrenatural seja um forte "horror" na série, são as ações das pessoas que realmente contam o terror dessa história.


O ritmo inicial é lento. Fato. Inevitável que seja. Você precisa entrar na história como o roteirista pensou nela. Conhecendo as famílias e entendendo como funciona a logística social dessas pessoas envolvidas. Como disse lá em cima, são muitas pessoas e diversas ligações necessárias de serem compreendidas com calma. Então tenham um pouco de paciência. É confuso, mas plausível.

Passou da primeira metade, você vai devorar o restante por pura curiosidade, e até por um pouco de asco com alguns personagens que lá no início você até gostava e que demora a acreditar que eles possam vir a fazer alguma coisa ruim. Acredite quando digo que não dá para sentir 100% nada aqui sem ter certeza de que não vai quebrar a cara lá na frente. Apesar de ter ficado horrorizada com uma ou duas atitudes, eu vi segurança nelas, saca? Tipo, um ser humano normal cometeria certos crimes pensando em um "bem maior" ou um "bem pessoal". É realista, e dou meus vários pontos por isso.


Não é spoiler que Dark vai trabalhar com passagens de tempo ficcionais. Tá logo ali em cima, no cartaz promocional da série. Mas não vou me atentar a isso porque acho que a máxima dessa série é você ir assistindo e pensando realmente como diabos aquilo seria possível e como afetaria outros momentos da linha de trama desses personagens. É a história da Teoria da Relatividade em relação ao destino. Que de alguma forma ele está escrito. Claro que aqui temos a dose máxima de ficção científica, mas uma dose banhada no que penso ser um realismo convincente nesse sentido.

Todo o clima de Dark, sejam as cores escuras em paisagens neutras do interior da Alemanha, ou roupas sem cores vibrantes, ou ainda os personagens quase tão dark quanto o nome da série, levam o expectador a sentir o peso dessa produção de maneira quase sufocante. É uma delícia o modo inteligente com qual criaram isso aqui. Da complexidade dos personagens e suas histórias individuais, ao que eles representam num todo. Porque de uma coisa eu tenho certeza, nada nem ninguém aqui foi jogado ao acaso. Então mesmo que você sinta que esqueceram personagem X ou Y, acredite que lá na frente eles farão uso dessa galera de maneira brilhante.

Se me perguntarem se eu gostei de Dark vou certamente demorar um pouco para responder. Não porque desgostei, mas porque acredito que seja o tipo de série a ser vista sozinho e com atenção, uma coisa que não consegui por causa das crianças, e isso prejudicou o meu entendimento do que acho que o roteirista queria me passar. Os embates filosóficos e científicos são grandes e importantes, e vez ou outra perdia um deles e precisava voltar. Por isso terminei de ver Dark em extrema confusão mental, até porque o final não é realmente fechado. Diversos pontos em aberto e necessários para compreender no que tudo vai findar, e isso é de explodir a cabeça.

Eu gostei da estética, eu amei os personagens e tenho um amor incondicional a "ideia" de Dark. Vou precisar rever com certeza, mas se em um primeiro momento ela me passou uma segurança de trama tão boa, penso que daí para frente a tendência é melhorar. Minha explicação é confusa? Pois veja só, espere ver a série toda para entender o que é confusão.

De qualquer forma, desejo viel glück (boa sorte) para vocês. E venham me procurar depois para contar o que acharam.