Kindred e a raiva que tenho quando o final poderia ser melhor

Título: Kindred
Autor: Octavia Butler
Editora: Morro Branco
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Sinopse: MAIS DE MEIO MILHÃO DE CÓPIAS VENDIDAS NO MUNDO. Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.
Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo.
Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.

Ler Kindred foi quase um parto para mim. Não por ser um livro ruim, longe disso, mas comecei justamente na época que minha avó estava bem doente. E eu estava lendo ele quando me avisaram que ela tinha acabado de falecer. Então imaginam o nível de ranço que peguei pelo livro, não é? Precisei de cinco meses para pegar novamente, e ainda assim li com certa agonia. 

Depois que engrenei na história, não tardei a acabar, mesmo com o nervosismo que ele me causava. Eu queria muito mais do que a autora estava trabalhando, e fui firme até o fim porque achei que ela faria uma certa coisa que passou bem longe de acontecer. Não vou mentir, isso me frustrou. Queria muito ter visto uma certa revolução feminina ali naquele fim, e o que o livro entrega é a linha que achei exatamente que ela iria seguir desde o começo do livro. Não ser surpreendida me deixa meio entediada com uma história.  

Não posso tirar seus méritos, é um livro foda de ficção científica, com um contexto real incrível e levando sempre em consideração o papel da mulher, e nesse caso da mulher negra, na época em que ele se desenvolve. Como a autora trabalha essa questão de passado e presente é simplesmente incrível, e não tenho o que falar sobre isso ou sobre como tudo se constrói nessa história. Com exceção do final, não tenho uma gota de queixa. 

Tive minhas relações de amor e ódio com os personagens, e as vezes até de apatia. Não senti absolutamente nada pelo marido de Dana, e quis enforcar Rufus tantas vezes que me deu agonia. E o incrível é que não o achei um personagem detestável, vi ali na verdade um cara que é fruto de um meio. Foi criado daquela forma, e reproduziu sua criação. Inclusive em relação aos escravos, ele poderia ser bem pior do que foi. Então tinha momentos em que até gostava do cara, mas na cena seguinte fazia umas merdas que, senhor, me davam nos nervos. 

Quanto a Dana sou só elogios. Ainda que eu tivesse feito uma ou outra coisa diferente das dela, de modo geral a personagem é cativante. Na verdade todas as personagens negras desse livro são, até as que nada falam. É um livro onde o papel da mulher tem muita importância, e a autora conduz essa importância com personagens lindamente desenhadas. 

Não foi um livro que me fez sentir a escravidão, porque provavelmente o livro não tinha isso como meta. Ela foi pincelada no nível necessário para causar um incômodo pulsante, mas nada que desse aquela gastura que assistir 12 anos de escravidão dá, por exemplo. Isso não afetou negativamente o que penso sobre a história, mas achei importante citar.

Enfim, achei um ótimo livro, mas que me pegou em um momento ruim e exigente. Ando cada vez mais exigente quanto a tudo. Entendo ter sido o livro predileto de muita gente, entendo mesmo e queria que tivesse funcionado dessa forma para mim também, mas já fico satisfeita por ter achado tão grandioso na medida certa.