Parcerias e um benefício que pode te deixar depressivo


Todo começo de ano é a mesma coisa. 
Aquele furdunço pelas inscrições de parcerias e isso é o único assunto nos grupos de blogueiros. Gente se matando para ter conteúdo atualizado, bem visualizado e com muitos comentários para que as editoras nos vejam como potenciais parceiros. Aquela esperança tensa que nos deixa tristes porque, normalmente, no final das contas é sempre a mesma patota de gente que passa nessas parcerias com editoras. 
Sei disso porque já estive nesse lugar, cometendo os mesmos erros e me despedaçando por não me achar suficiente para editora A ou B. Hoje em dia? Vivo tocando foda-se para essa pressão. 

Não estou dizendo que não me inscrevo mais em nenhuma. Isso seria hipócrita da minha parte. Quero sempre estar por perto da Arqueiro, Cia de Letras e hoje em dia correndo atrás de Morro Branco. A diferença da Carol de quatro anos atrás para agora é que aquela mulher se inscrevia em parcerias com editoras que nem curtia muito o catálogo,  só para dizer que tinha parceiros (alerta da sinceridade ligado). Só para receber livros que acabariam passando na frente de outros muitos que queria tanto ler e que se acumularam na estante ao logo dos anos. Hoje tenho em média 900 livros, e com tristeza digo que possivelmente não li 300 deles. A quem culpo isso? A quantidade excessiva de parcerias que tinha, e minha burrice por tentar mantê-las por tanto tempo. 

Há um ou dois anos isso gerou uma treta danada com os grandes produtores de conteúdo da internet, quando uma delas deu um basta e resolveu que só leria livros de editoras que pagassem a ela por esse serviço. Seguindo nessa linha, muitos outros foram atrás e hoje vivem de publieditoriais, que são essas ações pagas para que aquele produtor de conteúdo fale do seus livros em suas redes sociais. 

Isso causou uma demanda enorme dos veículos grandes de comunicação que as editoras tinham. Hoje em dia ou elas pagam  para terem essa publicidade maior ou se contentam com vários outros veículos menores, que é o que acontece na maioria das vezes. Hoje quem faz essa publicidade são os produtores de conteúdo de nível médio, que é como chamo aqueles intermediários entre os grandes e os pequenos. 

Hoje em dia tudo conta. Quantidades de seguidores e inscritos, comentários, curtidas em postagens, engajamento de maneira geral. Então não ache que só ter uma foto incrível no Instagram vai ser suficiente. Vejo grandes produtores por lá fazendo trabalhos divinos e que no máximo recebem um repost da editora. Não se enganem, ok? Se seu perfil não for daqueles que tem cem comentários em uma foto, possivelmente não vão querer ter  você na equipe deles, até porque muitas editoras estão diminuindo o número de parceiros, por conta da crise do mercado literário. Então o funil está ficando cada vez mais apertado e difícil. Quase uma prova de vestibular. 

Por conta disso ando vendo muita gente desmotivada pelas redes sociais. Canais incríveis acabando, contas de Instagram ficando esquecidas, e blogs morrendo porque as pessoas tem cada vez menos vontade de lê-los. Isso é triste porque começamos isso por amor aos livros, e quem ama livros um dia não deixa de amar nos outros. Essa espera por um retorno é complicada porque, digo por experiência própria trabalhando com isso há sete anos, ele pode não vir ou vir numa velocidade muito inferior ao que você espera, e frustração não é todo mundo que sabe conviver. 

No final de 2017 eu já estava reavaliando o tempo que me dedicava para livros de editoras quando os que eu queria tanto ler, que comprava em pré-venda e torcia pelo lançamento, ficavam acumulando e eu não tinha tempo para eles Cheguei a conclusão de que isso era tão idiota, que não fazia sentido algum manter. Ficava mal por não ler o que queria, e me sentia constantemente pressionada por editoras e livros que as vezes acabava odiando. Isso era muito frustrante e depressivo. E quando entendi que qualidade era demasiadamente mais importante do que o tempo que me dedicava a esses livros, resolvi não me inscrever mais em parcerias. Fiquei com Arqueiro e recebendo alguns de ação com Cia de Letras e pronto. Foi meu grito de liberdade. 

2018 foi o ano que mais li livros da estante. Que tirei plásticos e comecei leituras que queria há anos. Foi o ano que não me senti pressionada por nada além de mim mesma. Eu realmente li coisas que gostaria, e fiquei extremamente feliz com a retrospectiva do meu final de ano. Eu estava curada daquela ridícula obsessão por mais livros na minha estante. Nem espaço tenho mais, para falar a verdade. 

Do mesmo jeito que fiz ano passado, vou repetir esse ano. Queria manter Arqueiro, queria receber ações da Cia e queria a Morro Branco só porque leio muito do catálogo e acho os livros caros, mas se não rolar, eu compro. Posso fazer isso e a liberdade de bater no peito e dizer que posso comprar o que quero vai além da alegria passageira de receber e sentir o peso nas costas para ler algo mais rápido porque tenho prazos. Entendem isso? Tirei quilos dos meus ombros quando me livrei de ter que prestar contas do que leio. 

Manter parcerias não é fácil. Sempre uma cobrança, sempre uma agonia e leituras velozes para dar tempo de ler outras coisas que gostaria e estavam acumuladas. Não estou dizendo que tudo é ruim nesse processo, mas só quando a gente começa a se sentir triste e depressivo que percebe que não compensa aquela loucura, a não ser que você tenha muitos colunistas que possam ajudar. Uma equipe para ler tudo o que chega. Do contrário, não recomendo. 

Então minha dica é: Inscreva-se apenas nas editoras que vocês leem mais do catálogo. Se uma vez ao ano que tem vontade de ler um livro da Record, então não se inscreva em Record. Vai receber dois ou três no mês, que totalizam 24 ou 36 livros ao ano, e gostaria de verdade de ler apenas cinco. Estão vendo como essa matemática é opressiva? 

Pensem direito se é isso o que vocês querem, muitos livros chegando e nenhum tempo para ler outras coisas. Sério, pode parecer que estou sendo condescendente falando assim, mas só falo porque vivi isso por anos e sei que é terrível essa pressão. 

Sei que vocês vão acabar se inscrevendo em várias, porque a curiosidade e o desejo de "ter" é maior. Como meu pai dizia, se conselho fosse bom a gente vendia, não dava. Mas achei válido vir e conversar com vocês seriamente sobre isso hoje, depois que vi o assunto parcerias parecer quase psicótico do jeito que algumas pessoas o estavam tratando em um grupo de blogueiros que participo. 

Lembrem sempre que parcerias tem haver com reciprocidade. Você acha que seu tempo vale a grana que a editora gastou para fazer e te enviar aquele livro? Pense bem sobre isso. Foi esse pensamento que fez os grandes blogueiros começarem a cobrar para ler coisas que eles não estavam muito afim. Existem livros bons demais no mundo para você perder tempo com algo que não está curtindo.