Resenha de "Kate Somente" (Erin Bow)






"Poético e bem escrito"

Sinopse: Uma jovem órfã com poderes mágicos é perseguida pelos moradores do vilarejo onde vive desde que uma misteriosa névoa encobriu os campos, arruinando as colheitas e espalhando medo, fome e doenças. Tendo seu gato como único companheiro, Kate não pensa duas vezes quando recebe uma inusitada proposta: em troca de sua sombra, o misterioso Linay oferece à menina a chance de fugir dali e encontrar um novo lar e uma nova família. Mas será que Kate será capaz de viver sem sua sombra para sempre? Romance de estreia da canadense Erin Bow, Kate somente é uma adorável história de magia e amadurecimento. (SKOOB)




Como comentei na postagem de ontem, achei esse livro uma completa surpresa. Primeiro porque achei que ele fosse se tratar sim do tema bruxaria, mas não com uma abordagem do tipo escolhida pela autora. E digo que não foi uma surpresa ruim, muito pelo contrário. 


O livro conta a história de Kate, que é conhecida pela cidade por ser filha do entalhador oficial, por ter olhos de cores diferentes, nariz pontudo e uma aparência um tanto estranha. Era uma época em que tudo o que não fosse usual, era sinal de bruxaria. Mas ninguém ousava tocar na garota por terem muito respeito pelo pai dela. Acontece que o pai pega uma doença por nome Febre da Bruxa, e acaba morrendo. 

Sozinha e perdida, a garotinha  que aprendeu a profissão do pai, acaba indo morar em uma gaveta num mercado da cidade. Fazia uns bicos entalhando para ir sobrevivendo e acabou adotando uma família de filhotes de gato abandonada. Quando cresceram, apenas um dos gatinhos ficou com ela, sendo a única companhia da garota. 

Quando um homem estranho chega à cidade, Kate sabe que deve teme-lo. E quando o homem oferece tudo o que Kate precisa para sair daquele lugar em troca de sua sombra, ela sabe que ele é um bruxo e o evita por completo. Mas o homem que se chama Linay, faz coisas estranhas acontecerem perto de Kate, e as pessoas começam a acusa-la de bruxaria. Com medo da represália da cidade, Kate acaba aceitando a oferta de Linay. Com suas ferramentas para viagem, e agora com seu gato cinza falante, porque esse era o maior desejo de seu coração e Linay também lhe prometeu dar isso, Kate sai da cidade. 

Entre conviver um tempo com nômades, viajar de barco e tentar salvar uma cidade de um poder muito maior do que ela própria, Kate e Braque (Seu gato falante), enfrentam muitos perigos e uma jornada para descobrir quem realmente eles são no mundo, e porque eles estão nele. 

Em suma o livro é isso, mas não só isso, e graças a Deus que não. 
Não vou mentir pra vocês e dizer que entendi qual era a ideia real da autora com esse livro.Em mais da metade dele fiquei pensando onde ela queria chegar com aquele enrendo, e confesso que nem no final cheguei nessa conclusão. Talvez ela não quisesse chegar a lugar nenhum. Talvez ela só quisesse mostrar como a vida dessa garota tinha mudado, o quanto ela tinha que crescer rapidamente e como os relacionamentos das pessoas são desenvolvidos. 

É uma fantasia, com forte tendência a um tipo de bruxaria mais física do que idealista. Mas acredito que não seja o principal desse livro. A parte humana dele é muito mais forte. As amizades e inimizades que Kate vai conquistando ao longo de sua jornada, é o que vai fazer a garota se reconhecer como alguém pertencente a um mundo, e saber que mesmo que esteja sozinha, há sempre alguém que se importe com ela. 

Linay é um vilão extraordinário, mas não no sentido maldade, e sim no sentido amor. 
Ele faz coisas ruins, lógico, senão não seria chamado de vilão; mas o bruxo tem um forte motivo de ser quem é, e fazer o que faz, o que me faz pensar em lados opostos de uma mesma história. Se a autora tivesse feito uma versão da história do ponto de vista de Linay, provavelmente eu me encantaria por ele da mesma forma. Foi o amor que motivou Linay a fazer coisas ruins, e quem pode culpar os resultados de um amor? Quem poderá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? (Parafraseando Renato Russo). 

Braque é um gato sem igual! Queria ter um companheiro de viagem como ele. Foi paixão a primeira vista e com o tempo, ele te conquista de uma forma indissociável à Kate. Parece que ambos são uma coisa só. Ele vira irmão, pai, filho, amigo... Todas as formas de relacionamento humano colocados em um gato. Por isso o final do livro me destruiu, e me destruiu de uma forma nada clichê e previsível, apenas acabou comigo. 

A magia desse livro não está nos fatos que vão acontecendo, mas na forma poética que a autora escreve, realmente fantástica! Não é uma história complexa, nem de longe algo inusitado, mas é uma história digna de ser lida pela poesia que exala nas ações tanto de Kate, Braque, de Linay e até de Drina, sua amiga nômade. 

É um livro sobre amor nas suas mais variadas versões. Depois de ler esse livro, percebi que amor e magia são duas coisas que se entrelaçam, e que realmente existem. A magia no livro deve ser uma troca de favores, a magia do amor também. 

Parabenizo a autora por esse primoroso trabalho, mesmo que eu tenha tentado entender algumas coisas e não tinha tido sorte. O livro tem um ritmo lento, o que pode deixar muitas pessoas nervosas, mas acreditem, vale a pena cada segundo.