Resenha de "A Torre acima do véu" (Roberta Spindler)





"Quando uma densa e venenosa névoa surge misteriosamente, pânico e morte tomam conta do planeta. Os poucos sobreviventes se refugiam no topo dos mega edifícios e arranha-céus das megalópoles.
Acuados, vivem uma nova era de privações e sob o ataque constante de seres assustadores, chamados apenas de sombras.
Suas vidas logo passaram a depender da proteção da Torre, aquela que controla os armamentos e a tecnologia que restaram.
Cinquenta anos se passam, na megacidade Rio-Aires, Beca vive do resgate de recursos há muito abandonados nos andares inferiores, junto com seu pai e seu irmão. A profissão, perigosa por natureza, torna-se ainda mais letal quando ela participa de uma negociação traiçoeira e se vê cada vez mais envolvida em perigos e segredos que ameaçam muito mais do que sua vida ou a de sua família.

Não vou mentir, sou totalmente desconfiada com distopias nacionais. Não que deixe de acreditar na literatura nacional, mas é que até hoje não encontrei nada dentro do meu gênero predileto que me agradasse. Mas quando, depois da Bienal, o pessoal começou a falar desse livro da Roberta pela internet, eu fiquei bem curiosa. Vamos combinar, ele tem uma capa linda e uma sinopse bem interessante. Então tratei de comprar o meu volume. 

Em um resumo básico, o mundo foi tomado por essa espécie de névoa do mal. Um tipo de gás que ou te mata, ou te faz passar por um processo de mutação bem estranho. As poucas pessoas que sobreviveram, vivem nessas torres super alta, acima do véu. Existem várias delas, e mesmo que tenha essa miscelânea cultural, ainda existe uma espécie de segregação pelos novos tipos humanitários existentes, como se fossem as organizações por países. Pois é, quando se passa por um momento desses a última coisa que se pensa são nas barreiras territoriais, e logo depois do susto inicial é exatamente em novas barreiras que se pensam. 

O livro começa com um desses ataques de gás, o que achei ótimo porque te insere com facilidade e rapidez naquilo que a autora vai usar como tema - e como nome - em todo momento: o véu. 
E então depois vamos acompanhar Beca, uma saltadora, que trabalha na empresa da família, indo atrás de "tesouros" nos prédios vazios. É como se a empresa fosse de caça-tesouro, usando aqui como tesouro qualquer coisa que possa vir a ser útil em um mundo novo como esse. Tem até uma cena bonita dela pegando uma espécie de urso de pelúcia e recebendo por isso. O valor das coisas também mudam com essa virada de mundo. 

A empresa consiste nela, um irmão e o pai. Nenhum deles são de fato parentes, mas o homem acolheu as duas crianças órfãs, e os cria desde então. O garoto é bom com tecnologia e Beca uma saltadora incrível, por conta de um tipo leve de mutação oriunda da hereditariedade na névoa. Mas ela não é a única diferente. Algumas outras pessoas tem certos tipos de facilidade, para não chamar poderes, em exercer determinadas bizarrices, como se teletransportar e saltar numa altura maior do que o possível - essa é ela. 

A empresa deles recebe como trabalho  resgatar um certo artefato, o que aparentemente era uma coisa fácil, se eles fossem os únicos atrás do tal objeto. E por conta disso, acabam entrando em uma situação complicada para salvar pessoas que amam e descobrir mais sobre algumas novidades interessantes acerca dos mutantes abaixo do véu. 

A Torre acima do Véu foi um livro rápido e que deixou uma sensação gostosa de que a autora está indo por um caminho que ainda não tinha visto por aqui. Ela soube criar um vilão não material - o véu - que funciona perfeitamente bem num mundo distópico. E quando a história vai evoluindo e você percebendo que aquilo é só a ponta do iceberg, então o livro entra num todo em paralelo com muitas ideias boas que já li dentro do gênero lá fora. 

A protagonista, como padrão de livros desse tipo, é muito boa no que faz. Não é cheia de frescura de menina besta, e não tem muito papas na língua para dizer o que pensa. É forte, impulsiva, e tem um certo tipo de bloqueio sentimental, por medo de se magoar. Ama a família, mas qualquer um fora a eles dois é qualquer um. Não estou dizendo isso por ter um romance lógico e chato, porque não tem. A vaga menção a algo amoroso é feito de maneira que me convence de muitas formas. Tal mocinho é meio imprevisível - juro que não esperava vê-lo crescer na trama - e tem uma chatice que raramente vemos em mocinhos nesse gênero. Mas também é muito inteligente e faz burradas movido a algo maior, o que para mim foi altamente compreensível. Mas o final dele nesse livro me deixou meio atordoada. #TemQueTerUmaReviravolta 

Parece-me ser um primeiro volume de série, o que espero mesmo que seja. Acho uma injustiça ao meu coração de leitora acabar um livro daquela maneira. Então estou bem ansiosa para saber o que vem por ai.