Resenha de "O Palácio da Meia-Noite" (Carlos Ruiz Zafón)

"Sempre morrendo de amores por Zafón"

Sinopse: Ben e Sheere são irmãos gêmeos cujos caminhos se separaram logo após o nascimento: ele passou a infância num orfanato, enquanto ela seguiu uma vida errante junto à avó, Aryami Bosé. Os dois se reencontram quando estão prestes a completar 16 anos. Junto com o grupo Chowbar Society, formado por Ben e outros seis órfãos e que se reúnem no Palácio da Meia-Noite, Ben e Sheere embarcam numa arriscada investigação para solucionar o mistério de sua trágica história. Uma idosa lhes fala do passado: um terrível acidente numa estação ferroviária, um pássaro de fogo e a maldição que ameaça destruí-los. Os meninos acabam chegando até as ruínas da velha estação ferroviária de Jheeter’s Gate, onde enfrentam o temível pássaro. Cada um deles será marcado pela maior aventura de sua vida. Publicado originalmente em 1994, O Palácio da Meia-Noite – segundo romance do fenômeno espanhol Carlos Ruiz Zafón – traz uma narrativa repleta de fantasia e mistério sobre coragem e amizade. (SKOOB)


Não consigo deixar de ser apaixonada por esse autor. Nem mesmo quando eu fico impaciente com um início lento de livro. Ele tem sempre aquela magia que te prende do começo ao fim num frenesi apaixonante. 

O Palácio da Meia-Noite, ou PMN, como chamarei, foi o segundo livro do autor e faz parte daquela trilogia de livros independentes que tem adolescentes como protagonistas. Na verdade ainda tem Marina completando essa coleção, mas como Marina veio com uma diagramação diferenciada, eu a coloco longe dessa trilogia. 

Já li o primeiro, O Príncipe da Névoa, que vocês podem conferir resenha aqui, e agora venho com a segundo, mesmo que já se tenham passado vários meses do livro lido. Tive uma relação de amor e ódio pela história, e esse foi o motivo de só ter coragem de trazer a resenha agora, quando eu estou conseguindo analisa-lo de forma equilibrada. 

O livro conta a história de Ben e Sheere, irmãos gêmeos que foram separados quando eram bebês pois estavam sendo ameaçados de morte pelo vilão ( maravilhoso) dessa história. A avó julgou ser a única forma de manter os dois seguros e longe das garras malévolas daquele que os procurava. 

Sem saber que tinha um irmã, Ben cresceu em um orfanato de Calcutá. Junto com mais alguns outros jovens do mesmo lugar, eles criaram a Chowbar Society, que era um clube de adolescentes maravilhosos e que se completavam, que tinham seus encontros em um prédio antigo e abandonado chamado de Palácio da Meia-Noite. 

Quando Ben começa a entrar na maioridade e tem que deixar o orfanato, o vilão volta para Calcutá para procurar por ele e por Sheere. E é ai que uma cadeia de eventos começam a acontecer, deixando os dois cada vez mais próximos. Uma maré de preocupação com todos que amam e os rodeiam, vem de maneira rápida e dolorida. 

Foi um livro que começou difícil para mim. Logo nas primeiras páginas você era apresentado a esse vilão que segue a linha do vilão do livro anterior, ou seja, ele tem essa coisa sobrenatural. Só que dai a gente entra na vida de Ben e Sheere, e começa uma coisa que Zafón costuma fazer mais no final dos livros, e que no caso desse, tem em excesso no meio: Explicações. 

Eu entendo que eram vários adolescentes trabalhando isoladamente para conseguir entender mais sobre esse vilão que estava procurando seus amigos, e como detê-lo; mas dai a gente acompanha vários pontos de vista dentro da história, e isso pode ser um pouco confuso e difícil de unir o leitor aos protagonistas. Isso me irritou bastante inicialmente, mas depois acabei pegando gosto e ficava curiosa pela volta dos personagens anteriores. 

Então é uma história do Ben e de Sheere, mas onde os amigos são muito importantes também. Zafon criou cada um deles de forma única e maravilhosa. E quando a história termina e o autor faz questão de explicar o que acontece a cada um depois que a Chowbar acaba, a gente fica um tanto nostálgica e satisfeita. 

Uma coisa que acho maravilhoso nos livros do Zafón é a ambientação, e AMEI a desse livro em específico! As cenas finais foram feitas em uma estação de trem esquecida, e ela tinha tudo haver com o cenário por inteiro do livro, como com os personagens. Se em Príncipe da Névoa eu me apavorei com o vilão, em PMN eu me encantei pelo cenário onde as coisas acontecem. Zafón  é um mecanista, e como um, coloca artefatos e elementos mecânicos que beiram ao steampunk, se os livros não fossem tão modernos. Ambientação é uma coisa que o cara sabe fazer. 

Não tenho do que me queixar do terror, já que ele é mestre em conduzir a história de uma forma que ela fique fantástica historicamente e cheia de suspense e dramas tensos. No final das contas, você para e pensa... FDP genial! É sempre o que penso quando leio os livros dele, e esse foi o motivo que me fez dar cinco estrelas a esse livro, mesmo que não seja o meu predileto e que tenha sido bem lento de início. 

Gosto da proposta de Zafón trabalhar a morte para livros voltados ao público mais jovem. Odeio autores que mascaram a verdade, e isso é uma coisa que Zafón  não faz, nem quando cria vilões surreais e impossíveis de existir. 

Outro ponto positivo desse livro: A cidade de Calcutá. 
Uma coisa é ler Zafón tendo como pano de fundo a Barcelona, que é um lugar que ele bem conhece e que tem facilidade de escrever. Em PMN ele vem com a magnífica Índia, e do jeito que sou fanática pelos indianos, me joguei com vontade nas ruas da cidade. 

Então se você não leu Zafón ainda, recomendo começar por A Sombra do Vento, mas se você conhece e quer se aventurar em mais um livro dele, tenta esse. Ele é bem bacana!