Resenha de "Vinte Garotos no Verão" (Sarah Ockler)

"Sem palavras para ele"

Sinopse: Quando alguém que você ama morre, as pessoas perguntam como você está, mas não querem saber de verdade. Elas buscam a afirmação de que você está bem, de que você aprecia a preocupação delas, de que a vida continua. Em segredo, elas se perguntam quando a obrigação de perguntar terminará (depois de três meses, por sinal. Escrito ou não escrito, é esse o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que você jamais esquecerá). As pessoas não querem saber que você jamais comerá bolo de aniversário de novo porque não quer apagar o sabor mágico de cobertura nos lábios beijados por ele. Que você acorda todos os dias se perguntando por que você está viva e ele não. Que na primeira tarde de suas férias de verdade você se senta diante do mar, o rosto quente sob o sol, desejando que ele lhe dê um sinal de que está tudo bem.

Recentemente falei que andava feliz com minhas leituras. Na verdade, depois de ter lido esse livro comecei a achar que maio era "O mês" da Carol para livros. Sim, Vinte Garotos no Verão é bom o suficiente para ter me feito enlouquecer, e rir e chorar e achar que tudo estava no lugar certo e era a coisa certa. E não estou falando da vida dos personagens, mas da minha própria vida. 

Já começamos o livro com o passado da história. Algum tempo atrás onde Anna, Frankie e Matt eram melhores amigos. Tipo, daqueles que entram na casa do outro e o Wi-fi conecta automaticamente, sabe? Pois é! Frankie e Matt são irmãos, e Anna é aquela vizinha que simplesmente não vive sem eles. Mas claro que tem uma pequena problemática... Anna é completamente apaixonada por Matt desde que se entende por gente. E o que ela ganha de aniversário quando faz quinze anos? Um beijo do seu príncipe encantado! E as semanas seguintes passam a ser de encontros escondidos e romance adolescente. Eles não querem contar logo para Frankie que estão juntos, para não chatear a garota. Matt promete para Anna que vai contar durante a viagem de férias da família. O problema é que o garoto não chega a ir para essa viagem. Eles sofrem um acidente de carro, e Matt morre nele (Não é spoiler, gente! Está escrito logo na sinopse do livro)

Algum tempo depois, a família de Frankie resolve reconstruir suas vidas, e vai passar as férias na praia, levando Anna junto para animar Frankie. A família ainda permanece em um luto pesado, e acha que precisa disso para continuar, já que a praia era o lugar favorito de Matt. Tudo certo, então. Alugam uma casa, pegam a estrada e tem um mês de novidades pela frente. É quando - a tão mudada Frankie - resolve fazer um trato com Anna: Elas tem que conhecer vinte garotos no verão. E ai temos a nossa história!

Bem, eu poderia ficar aqui o resto da vida citando as coisas que gostei desse livro. Sou muito chegada em um drama adolescente, e quando ele vem carregado de sombras e brilho ao mesmo tempo, é que eu fico virada de felicidade. 

Anna é uma personagem introspectiva e que guarda esse segredo da melhor amiga desde que Matt morreu. E pior, ela não sabe como entrar no seu próprio luto porque todos desconhecem o que ela e Matt tiveram. Então além da dor de ter perdido o grande amor da juventude, ela tem que lidar com o fato de que boa parte do seu sofrimento tem que ser sofrido sem ajuda. 

Frankie é aquela menina que mudou totalmente de personalidade depois que o irmão morreu. Eles eram muito apegados e tudo o que passou modificou ao extremo sua forma de se relacionar com o mundo. Então Frankie começou a ser uma dessas garotas fúteis que só se preocupam com maquiagem, roupas e garotos. Claro que a amiga estranha essa nova Frankie! Mas até Anna sabe que isso tudo é a forma de Frankie se proteger da dor. 

Essa viagem da praia deveria ser um momento de unir a família de Frankie, já que desde o acidente os pais dela andam distantes e não sabem nem se relacionar entre si, nem estão sabendo lidar com a mudança da filha. E eis um ponto no qual a história pecou para mim. 

A autora deixa claro os problemas que a família de Frankie tem. E pelo o que ela deixa a entender, esse livro também deveria ser um pouco deles. De como eles se ajudaram a superar essa dor e se uniram num momento assim. Mas não é o que ela faz! Ela joga que está tudo errado com eles, mas não ajeita isso. E tudo bem que não dá pra consertar uma dor de perder um filho em um ano - eu bem sei disso - mas que a viagem ao lugar predileto do filho seja uma forma deles enxergarem o errado da coisa. Se a autora não tivesse citado essa problemática, eu não teria achado nada demais ela não ter resolvido. Mas ela citou, e putz, eu terminei o livro sentindo que precisa saber como eles ficaram, entende? Mas tudo bem. Acho que ela quis colocar o foco do livro totalmente em Anna e deixar essas outras coisas só como sub enredos suspensos para nos ambientar.

Outro ponto é a amizade de Frankie e Anna. Você lê sabendo que o livro está te preparando para um momento em específico: Quando Anna vai revelar para Frankie sobre Matt. E ele acontece maravilhosamente bem! Meu problema foi o que veio depois. A reação que Frankie teve não foi das melhores, e eu senti falta de um pouco mais da revolta de Frankie depois da explosão da coisa. Mas foi uma espera meio que em vão porque depois disso ela se preocupou com Anna, e Frankie ficou um pouco no chinelo, sabe? Porém devo dizer que a autora colocou um final porreta de legal para as duas. Simples e bonito. 

Mas Carol, se o livro tinha esses pontos negativos fortes, porque você o achou tão bom? Simples: A reconstrução da protagonista. 

A evolução de Anna é tão fantástica, que você até esquece as coisas que lhe incomodaram. Ela começa o livro sendo uma adolescente feliz e apaixonada. No meio ela está quebrada e escondida dela mesmo. E no final temos uma Anna renascida das cinzas. Você sente as etapas passarem lentamente e cresce junto com a Anna. O amadurecimento em relação ao choque de realidade de ter perdido Matt é uma coisa latente nela, e isso me deixou extremamente feliz! Eu envelheci com a Anna. 

E claro que como todo bom livro de adolescente, esse também tem um romance legal. Mas não se engane porque o forte dele não é esse romance. Acho até que esse romance foi só um condutor para essa jornada de Anna acontecer mais rapidamente. É uma consciência de algo que não vai ter futuro, mas que mesmo assim acontece, e ela deixa porque ela precisa disso. E não que ela vai se apoiar em alguém para sofrer, mas vai se apoiar em alguém para ajuda-la a encontrar um outro sentido na vida e dar algumas risadas. É triste, mas também é muito libertador e bonito. Eu amei!

 Vinte Garotos no verão é um livro sobre perdas. Sobre como as pessoas são capazes de extremos para enfrentar seus lutos, e como tudo é justificado por uma dor. Quem passa por ela realmente acha que está fazendo a coisa certa ao explodir ou implodir. E quem está de fora tem que respeitar e esperar, já que tem coisas que são animais e passam por cima de qualquer relação social e cultural para nos dar paz. 

Leia! Agora leia já sabendo que você certamente vai acabar o livro numa agonia enorme pelas coisas não resolvidas, e totalmente apaixonada pela própria vida, justamente porque ela não precisa necessariamente ser resolvida o tempo inteiro. As vezes os nós ficam soltos e pronto.