Resenha de Sra. Poe (Lynn Cullen)

Título: Sra. Poe
Autor: Lynn Cullen
Editora: Bertrand Brasil (Cedido em Parceria)
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Sinopse: Um escritor e seus demônios, uma mulher e seus desejos, uma esposa e sua vingança. 1845: O Corvo, de Edgar Allan Poe, alcança os padrões de perfeição literária e está no auge da moda – sucesso com o qual uma poetisa esforçada como Frances Osgood só pode sonhar. Apesar de não ser grande fã dos escritos de Poe, ela vê com entusiasmo a chance de conhecê-lo e, em um sarau literário, fica atraída por sua magnética presença – e pela surpreendente revelação de que ele admira o seu trabalho. Flerte e sedução culminam em um romance proibido. Mas quando a frágil mulher de Edgar insiste em se tornar amiga de Frances, o relacionamento se torna tão ambíguo e tortuoso quanto um dos contos de Poe. Inspirado na vida e na escrita de Poe e Osgood, e baseado em autênticos detalhes históricos, Sra. Poe é uma história de tragédia e perda envolta em uma aura de paixão e vitalidade.

Esse livro é a prova documentada de que um autor tem que ter muito cuidado ao falar de uma história que mistura realidade e ficção. Principalmente quando se trata de grandes nomes, como no caso de Edgar Allan Poe. Pois ainda que um leitor esteja vindo de peito aberto para receber a ficção - ou não - ele também se questionará a todo momento até onde começa um, e até onde termina outro. E se isso não ficar bem claro, vai incomodar muito o leitor. 

Nesse livro acompanhamos a história de Frances, uma mulher com duas filhas, vivendo na casa de um amiga, que tenta conseguir viver e sustentar as meninas com seu trabalho de escritora infantil e de poemas.  O marido já deu trabalho o suficiente, e Frances agora está por sua própria conta. 

Ao tentar vender seus novos escritos, é recusada pelo editor pelo simples fato de seus leitores estarem mais interessados em histórias como O Corvo, do escritor Allan Poe. Um sucesso entre as pessoas naquela época. E se Frances não produz conteúdo semelhante, então não é interessante para ele. 

É dessa forma que Frances acaba conhecendo Poe. Se de início por algum tipo de fascínio profissional, depois vira uma paixão imoral, já que a época não permitia em aberto esse tipo de relacionamento, principalmente por Poe ser casado com outra mulher, que também é sua prima e muito semelhante a ele. 

A história que nos é contada nesse livro é cheia de fatos e nomes reais, e é nesse sentido que me peguei pensando até que ponto das partes sobre aquelas pessoas eram verossímeis. Claro que é um livro ficcional, mas também tem seus personagens célebres, e logicamente que o leitor vai tentar fazer ligações.

Ainda que a escritora tenha sido uma historiadora interessante em Sra. Poe, faz medo confiar em todas as informações contidas no livro. Qualquer escritor pode dar forma a uma situação ou pessoa para tornar a história mais interessante. 

Sempre tive uma visão de Poe como alguém taciturno e fechado. Uma visão semelhante ao que tenho dos poetas ultra românticos, como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. E existe de fato um romantismo sombrio em seus escritos, o que decerto é bastante revelador acerca do próprio Poe. Nunca li nenhuma biografia publicada sobre ele, e o que sei é apenas o que sinto ao ler suas histórias. Mas em nenhum momento consigo ver o Poe de Cullen na minha visão surrealista do autor. Isso é bom porque entrega uma nova visão, mas também é ruim porque beira a decepção do que se esperava dele. 

Não quero vê-lo como desejo sexual de uma mulher, ainda que essa seja a Frances e que Frances se confirme uma personagem interessante, depois que passa esse dilema moral que ela vive por estar se apaixonando por um homem casado, em pleno século XIX. 

E isso foi uma coisa interessante no livro... a visão da autora sobre o "ser mulher independente" nessa época. Frances é a real imagem disso, e talvez tenha gostado mais desse fato do que do conjunto que ela forma com Poe e o que eles representam para o leitor. Sério, o Poe desse livro me incomodou bastante, mas tudo por conta da expectativa que tinha sobre ele. 

O desenrolar da história é esse vai-não-vai dos dois personagens, e a repercussão moral que isso gera na sociedade fofoqueira da época. De algum modo me lembrou o Anna Karienina, e o quanto ela sofreu por estar apaixonada por um homem fora de seu casamento. Se ser mulher hoje em dia é difícil, imagina nessa época!

Foi um livro que gostei, de maneira geral. Tem um romance legal, uma narrativa gostosa e personagens críveis. O que foi chato para mim foi essa bagunça de "real ou não real" com os fatos ocorridos e pessoas importantes citadas. Não incomodou o suficiente para fechar o livro, mas ainda assim deu um trabalhinho para digerir.