"Zafón continua sendo Zafón"
Sinopse: Durante o verão de 1937, Simone Sauvelle fica de repente viúva e abandona Paris junto com os filhos, Irene e Dorian. Eles se mudam para uma cidadezinha no litoral da Normandia, e Simone começa a trabalhar como governanta para Lazarus Jann, um fabricante de brinquedos que mora na mansão Cravenmoore com a esposa doente. Tudo parece caminhar bem. Lazarus demonstra ser um homem agradável, trata com consideração Simone e os filhos, a quem mostra os estranhos seres mecânicos que criou: objetos tão bem-feitos que parecem poder se mover por conta própria. Irene fica encantada com a beleza do lugar – os despenhadeiros imensos, o mar e os portos – e por Ismael, o pescador primo de Hannah, cozinheira da casa. Ismael tem um barco, entende tudo sobre navegação e gosta de velejar sozinho, até conhecer Irene e vê-la de maiô... Os dois logo se apaixonam. Entre Simone e Lazarus parece nascer uma amizade. Dorian gosta de ler e, muito curioso, quer entender como os bonecos de Lazarus funcionam. Todos estão animados com a nova vida quando acontecimentos macabros e estranhas aparições perturbam a harmonia de Cravenmoore: Hannah é encontrada morta, e uma sombra misteriosa toma conta da propriedade. Irene e Ismael desvendam o segredo da espetacular mansão repleta de seres mecânicos e sombras do passado. Juntos enfrentam o medo e investigam estranhas luzes que brilham através da névoa em torno do farol de uma ilha. Os moradores do lugar falam sobre uma criatura de pesadelo que se esconde nas profundezas da floresta. Em As luzes de setembro, aquele mágico verão na Baía Azul será para sempre a aventura mais emocionante de suas vidas, num labirinto de amor, luzes e sombras.
Não consigo dar uma nota menor para um livro do Zafón e fim de papo. O cara é mestre em construir enredos deliciosos e apavorantes em vários graus de intensidade. E isso junto com personagens nostálgicos, faz com que o leitor fique preso em seus histórias do início ao fim, tentando entender como ele pode terminar de modo apaziguador algo que parece macabro demais. Uma coisa é certa, até os finais que parecem mais felizes, são na verdade uma visão melancólica desse quadro manchado que é qualquer escrito desse cara que eu tenha lido.
Nessa história conhecemos a família de Simone, que desesperada para conseguir uma vida melhor depois de ter perdido o marido, vai para a Normandia com os dois filhos, Irene e Dorian, e acaba trabalhando na casa de um fabricante de brinquedos que lhes parece muito simpático, mas que mantem seres estranhos e bem feitos em sua casa em forma de objetos inanimados. Inanimados? Ok, nem tão inocentes assim.
Logo a vida nova deles entra nos eixos, com Simone no seu trabalho novo, Dorian e sua busca psicótica para descobrir como Lazarus, o fabricante, faz seus brinquedos, e Irene encantada com todo o cenário incrível da Normandia, e com um certo rapaz que parece querer ser mais do que seu amigo, Ismael.
Só que as coisas nas histórias de Zafón nunca ficam felizes por muito tempo, e quando as situações estranhas começam a acontecer ao redor dessa família, eles meio que se sentem obrigados a fazer algo para desvendar esses mistérios. E, claro, não preciso dizer o quanto isso tudo pode ser perigoso.
As Luzes de Setembro é, como muitos dizem, o último livro da série Névoa, do Zafón. Não considero esses livros como uma série porque não existe uma ligação entre eles além de ter sido destinado a um público um pouco mais jovem. Mas se fosse o caso, diria que era um quarteto, visto que Marina faz parte dos livros do autor destinado ao mesmo público.
Como teimo sempre em dizer a vocês, Zafón é um autor altamente sensitivo. Juro que consigo sentir cada partícula de coisa estranha que ele insere em suas histórias. Seja em um cenário bizarro, como estações de trem assombradas, cemitérios inquietos e brinquedos assustadores; como no personagens tenebrosos. Até dá para captar o cheiro que certas coisas costumam ter por ali: Litorais com o leve odor de algas marinhas e sal, ou o abafado suor do mofo que desprende das paredes em suas casas abandonadas. É, se você leu Zafón e não sentiu, ao menos um pouco, dessas coisas que citei, então Zafón não é para você.
Esses livros para jovens não tem a densidade que Sombra de Vento e Jogo do Anjo tem, mas devo dizer que os elementos suspense e horror aparecem em cada página aqui também. A diferença é que os personagens são jovens curiosos, não adultos massacrados pela vida. E tudo bem que existem adultos assim aqui também, e eles tendem a acabar mal.
Gosto da forma tenebrosa com a qual ele insere uma ideia nova em seus enredos, e como tantas outras surgem a partir daí. Gosto também dos seus vilões de carne e osso e que tem sempre uma ligação com magia do mal, seja lá em que nível for. É como se existisse o sobrenatural, mas apenas como instrumento usado por alguém muito real, entende?
Dos livros mais jovens que li de Zafón, acho que gosto mais de Marina, seguido pelo Príncipe da Névoa, e então esse. Mas devo lembrar que cada cenário é único, e que você não tem como se entediar com as coisas que ele conta.
Termino os livros do autor com uma sensação de tristeza profunda. Pelas coisas que acontecem e pela saudade que terei daquelas pessoas. Eu sou completamente apaixonada por tudo o que ele faz com suas histórias, e não poderia me sentir mais feliz com o que acompanhei dele até aqui. Já estou entrando em desespero porque não tem mais livros publicados de Zafón que eu não possua, e isso é aterrorizante para mim, que babo em tudo o que ele faz.
Se quiserem começar os livros dele para se apaixonarem, vão de A Sombra do Vento, daí então podem ler qualquer outra coisa que vocês irão sentir o clima sombrio no resto. Se quiserem algo leve e com gosto de infância, tentem O Príncipe da Névoa. Contudo vou repetir, Zafón não é para ser lido esperando finais bonitinhos e felizes. De acordo com os livros do autor, até a felicidade tem um preço, e nem sempre estamos dispostos a pagar por ela.