E ai, pessoal!
Bem, vocês sabem que sou uma completa apaixonada por cinema. E o fato de ter crescido em um teatro e feito alguma coisa para cinema depois de velha, me jogou em um mundo de aprendizados infinitos. Sou uma pessoa que se liga muito na parte técnica da coisa, principalmente quando o lance é câmera. Adoro assistir ao Oscar e entender o prêmio que está sendo entregue. Por isso pesquiso muito antes de dar meu voto para algum deles.
Se tivesse que escolher um papel técnico dentro de um filme, seria direção de fotografia. Não tem coisa que ache mais linda do que a composição de uma cena. É tanto que essa é a categoria que mais demoro a selecionar quando estou vendo os indicados do ano.
Dentro desse lance da fotografia de cena, eu acabei conhecendo o termo "Plano Sequência", que tem uma definição técnica:
Plano-sequência, em cinema e audiovisual, é um plano que registra a ação de uma sequência inteira, sem cortes.Segundo o teórico Jacques Aumont, o que caracteriza o plano-sequência não é apenas a sua duração, mas o fato de ele ser articulado para representar o equivalente de uma sequência. Conviria, portanto, distingui-lo do plano longo "onde nenhuma sucessão de acontecimentos é representada", tais como planos fixos de duração acima da média envolvendo diálogos ou simples localizações de personagens e cenários.
Colocando em termos mais fáceis, eu diria que é uma cena sem cortes. E como ele diferencia ai em cima, não é apenas uma cena estática sem cortes. É uma cena onde há uma movimentação de câmera e não existem os cortes no meio dela.
O Plano sequência não é tão antigo quanto o cinema, mas alguns especialistas dizem que existem planos desse tipo muito antes do termo ser inventado. Só que como quero focar a técnica sabendo-se que é uma técnica, não vou me estender nesses.
Uma curiosidade é que em 1948 Hitchcock fez um filme chamado Festim Diabólico, onde a ideia era o filme INTEIRO ser filmado em plano sequência, totalmente livre de cortes. Mas claro que na época as câmeras não suportavam esse tamanho de gravação, e então o filme foi dividido em planos menores, e que quando unidos ficaram com cortes quase imperceptíveis. Esse filme se tornou um marco dentro da técnica. Você pode assistir inteiro no Youtube.
Uma outra coisa bacana de se saber é sobre a Steadicam.
A steadicam é um equipamento criado por Garrett Brown em 1975 . Consiste de um sistema em que a câmara é acoplada ao corpo do operador por meio de um colete no qual é instalado um braço dotado de molas, e serve para estabilizar as imagens produzidas, dando a impressão de que a câmara flutua. Os principais acessórios que garantem a estabilidade suave são o braço isoelástico, que liga o colete ao poste, onde ficam a câmara, bateria e monitor; e o Gimbal, um sistema de rolamentos que gira livremente e suavemente tanto para os lados, como para cima e para baixo. Sistema esse conhecido por eixos X, Y e Z. O Gimbal por si só já garante a estabilização da câmara, mas juntamente com o braço isoelástico, garante a perfeição do sistema de estabilização. A Steadicam tem como função básica isolar os movimentos do operador, de modo que esse movimento não seja transferido para a câmara, causando as inconvenientes tremidas. Em equipamentos de baixo custo, apenas o Steadicam com Gimbal é usado, sem braço e colete.
O primeiro filme na história a usar a Steadicam foi Rocky, um Lutador, de 1976. O filme O Iluminado de Stanley Kubrick (1980) foi o filme a usar a Steadicam da maneira mais impressionante já feita.
Claro que me apaixonei pela ideia depois que conheci o termo! Estudei um bocado sobre ele na época que descobri, e agora resolvi colocar aqui para os cinéfilos de plantão, e para os curiosos nesse nosso TOP 10.
Gravidade é um filme de Alfonso Cuarón, um dos diretores que mais gosto no cinema. E quando se fixa em certos diretores, percebe-se que eles tem um certo padrão de dirigir. No caso de Cuarón, uma marca registrada dele é o plano sequência. Quando assisti Gravidade já comecei esperando esse plano, e daí ele acontece de uma forma incrível e me deixa mais apaixonada pelo trabalho do diretor com esse tipo de cena. Claro que no caso de Gravidade o plano é montado quase que inteiro por computador, afinal se passa no espaço, mas não perde o visual maravilhoso.
Como citado lá em cima, O Iluminado foi um dos primeiros filmes a usar a Steadicam de forma mais brilhante. Essa cena é meio tensa, e deve ter sido super complicada de se gravar, mas isso é só mais um ponto positivo acerca da grandiosidade dela no filme. O diretor quis gerar a tensão e a expectativa, e fez um ótimo plano sequência com Danny no seu carrinho (esqueci o nome desse diacho!).
ALERTA DE SPOILER NA CENA PARA QUEM AINDA NÃO VIU O FILME
E novamente, meu amado Cuarón, e dessa vez com uma cena que, para mim, deve ter tido uma puta de dificuldade para ser executada. Tanto pelo feedback dos personagens em cena, mesmo naquele espaço minúsculo, como todo o contexto que se desenvolvia do lado de fora do carro. É uma cena incrível! Eu me arrepio todas as vezes que vejo, e a falta de cortes faz você ficar descabelado. Um plano simplesmente primoroso.
Não consegui o vídeo que queria desse filme no Youtube, mas se vocês clicarem AQUI serão direcionados para o vídeo em questão.
Orgulho e Preconceito tem umas duas ou três cenas em plano sequência. A primeira é exatamente a abertura, quando Elizabeth está chegando em casa com um livro na mão. Mas a minha predileta é durante o baile, quando os costumes de cada classe social e poder dentro da família ficam visíveis. Todas as tramas do enredo ficam evidenciadas nessa cena em específico, apenas com alguns segundos passeando com cada personagem. Incrível!
O Protetor é um filme tailandês, portanto não é nada do meu repertório como fanática por cinema. O encontrei quando comecei a estudar plano sequência, e confesso que achei um filme bem fraco, mas essa cena ficou muito bacana!
É um plano de luta, e tudo bem que tem muita coisa tosca, mas a coreografia é bem feita, e quando pensamos que foi inteiro gravado sem um único corte, dá para entender certas tosquices.
Não sou muito chegada em Kill Bill, e olhe que sou completamente apaixonada pelo trabalho sanguinário de Tarantino. Mas dou o braço a torcer para o plano sequência dessa cena. A câmera é meio malabarista aqui, e vemos umas subidas e descidas que não é comum do plano, mas que ficou incrível para se avaliar todo o ambiente onde a sequência se passa. Eu achei muito bom.
Quem me conhece sabe que eu não me contentaria com apenas um filme que se passasse no espaço. E depois de quebrar muito a cabeça pensando em algum para entrar nessa lista, lembrei da abertura ascendente - e espetacular - de Contato.
Tudo bem que é outra abertura de uso computacional, mas não deixa de ser incrível por isso. Ela começa com muito barulho e mostrando a Terra, e daí vemos um distanciamento, e ao mesmo tempo a visão da grandiosidade do universo. Junte a isso o sumiço total do som, como o vácuo do espaço, e terminamos no olhar da protagonista. Como se todo o universo estivesse dentro dela. Muito bom, gente! Muito bom!
Cenas de dança, para mim, deveriam vir sempre em plano sequência. E o diretor de Cisne Negro pareceu entender isso quando colocou um cara com uma câmera e uma bailarina disposta a comandar essa câmera com o corpo.
Então temos o primeiro trecho, quando os pés da bailarina são o ponto principal. E daí temos quando está o casal, e a câmera sobe, num movimento de vai e vem para gerar essa angústia em que quem assiste. Juntamente com a música, ficou uma cena linda.
Não sei se vocês notaram, mas a imagem do filme que está na montagem lá em cima é a de Clube da Luta, e não me pergunte porque cargas d'água eu coloquei o de Clube da Luta quando o filme era Old Boy. Acho que associei a cena com o nome do outro filme. rsrs
Enfim, gosto desse filme. Gosto muito dele. E depois que vi o diretor usar um plano sequência nessa cena em questão, acho que gostei mais ainda. Ficou muito bom! Tem muito de O Protetor, que mostrei lá em cima, mas com uma pitada dramática maior, e um distanciamento interessante de câmera. Para quem curte filmes de luta, está ai uma boa pedida de observação do plano.
E deixei por último a cereja do meu bolo quando o assunto é plano sequência. Foi por causa dessa cena em específico, que me apaixonei pela técnica.
Não é porque é meu filme predileto de todos os dez aqui apresentados, mas se vocês olharem com carinho para todas as cenas, verão que essa é o primor das emoções.
Existe a agonia do personagem, a dor da guerra, a alegria quando não se tem muito o que fazer além de esperar. É uma câmera poética, que nos joga em todos os sentimentos ali presente. Uma cena espetacular para um filme de igual proporção.
Imagino o trabalho que deu para montar isso tudo. É uma cena que envolve muita gente, e que exige que todo mundo saiba exatamente quando entrar e quando sai do quadro na câmera. Muito bem ensaiada e conduzida. E a música? (suspiros) Nem vou comentar.
Se vocês não concordarem comigo quanto a beleza desse tipo de cena depois dessa, então eu falhei nesse TOP 10.
E ai, deu para vocês entenderam o lance do plano sequência?
Lembram de algum filme que assistiram com cenas desse tipo?
Qual a sua predileta dentre as que mostrei?