Juntem todas as vozes silenciosas de "Vox" e façam uma revolução! Ou não.

Título: Vox
Autor: Christina Dalcher
Editora: Arqueiro (Cedido em Parceria)
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Sinopse: Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina.O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100PALAVRAS
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.


Saca aquele livro que você lê e que tinha tudo para ser incrível, mas acabou em um completo fiasco? Esse foi Vox. 

Não, o conjunto do livro não de todo detestável, tanto que ainda dei três estrelas e meia para ele, mas fiquei tão puta com a resolução preguiçosa da autora que não fui capaz de avaliar melhor do que isso. E olhe que deixei a minha cabeça se acostumar com a história antes de começar a descascar ela. Vai que mudasse de ideia ou encontrasse uma lógica na resolução dela! Já vou avisando que isso não aconteceu. 

Em Vox a gente tem um Estados Unidos diferente. Talvez um pouco mais religioso? E aqui levo a religião para o lado da obsessão, ok? Não simplesmente religioso. Estou falando dos fanáticos

Nesse novo país as mulheres não tem voz alguma. Ou melhor, tem voz, só que existe um limite diário para usá-la. 100 palavras por dia, é tudo o que elas possuem. Depois disso elas começam a ser eletrocutadas, caso usem novamente as palavras. Se fosse eu morreria antes de chegar as oito da manhã. Viraria um churrasquinho carbonizado. 

Como o país chegou a isso? Começou com um discurso pequeno e que parecia até banal, de alguém dizendo em algum lugar que mulheres e homens não poderiam ser tratadas igualmente. Alguém mais ouviu um certo presidente falando assim ultimamente? Pois é, o discurso era bem semelhante. Desse discurso até chegar no silêncio delas foi um caminho curto. Curto demais para todas as mulheres, pequenas, idosas, homossexuais, independentes... 

Jean, a protagonista, é uma cientista brilhante e mãe de quatro crianças que, de acordo com as regras novas do país, teve que sair do emprego e virar dona de casa, deixando o marido Patrick ser o único responsável pela família. 

Tem um certo acontecimento na trama que vai deixar Jean próximo demais em mudar o curso dessa história das mulheres, e ela é colocada na berlinda para decidir o que faria para mudar tudo. Do que seria capaz, e o que poderia abandonar. 

É um livro de uma ideia fantástica, e que combinou loucamente com o período atual do nosso país. Com os discursos machistas na internet que lemos durante o período político e o que até seus vizinhos foram capazes de dizer nesses mesmos dias. Isso fez com que a história fluísse para mim. A curiosidade de saber até onde ela seria capaz de chegar. 

Quando passou da metade e eu comecei a ver uma revolução tomando formas, em proporções pequenas porque tudo o que vemos é pelos olhos de Jean, eu passei a ficar ansiosa por um super clímax no final, que passou longe de acontecer. O final é simplesmente banal. 

Sabe o que autora faz? Simplesmente pega um livro que deveria ser inteiro guiado por essa mulher, ou outras mulheres, e entrega o ponto chave da ruptura da revolução nas mãos de um homem. Sério? Tipo, sério isso? Fica parecendo que tudo só foi possível porque um cara fez, e que as mulheres não poderiam fazer aquilo mudar. Fiquei deveras muito puta com esse final. 

De um modo geral é um livro que incita a filosofia. O pensar sobre a vida e o significado das coisas. Nos questionamos sobre situações que parecem simples, mas que só são simples porque as temos. Coloquei-me por diversas vezes no lugar de Jean como mãe, como mulher, como pessoa que ama ser independente e trabalhar, e como morreria rapidamente de desgosto se me tirassem a capacidade de produzir com meu cérebro. Gente, até os livros tiram delas! Isso seria uma tortura emocional para mim. Isso é o mesmo que tirar minha voz. 

É um bom livro, só que poderia ter sido excelente se não fossem as conclusões que tiramos pelos olhos de outros, e não os da protagonista. Vemos o final da história através de bastidores, e não é o que se espera de um livro distópico. Claro que isso pode ter sido completamente proposital, afinal nem sempre dá para ver a revolução de algo estando dentro dela, mas ainda assim a história pedia mais, e achei um jeito muito preguiçoso de concluir.