"Leitura deliciosa"
Sinopse: Maria de Lourdes, mas não a chamem assim, chamem-na Malu, é uma menina de dezessete anos que toca guitarra, tem uma melhor amiga, sonha estar em uma banda de sucesso, em ser feliz com um garoto lindo e ser popular. Uma adolescente como todas as outras, certo? Nem tanto.
É com a perspectiva de uma viagem a Londres que Malu vê a chance de se livrar da presença opressora da mãe e se reinventar do jeito que ela sempre quis. Mas a liberdade tem seu preço, principalmente quando você está despreparada para os desafios que você mesma chamou para si.
Ambientado nos anos 80, Canções da Minha Vida pode ser dividido em três fases: Na primeira, vemos uma Malu assustada e excitada diante da possibilidade de finalmente ser "uma adolescente normal", pois sua mãe nunca lhe deu espaço para caprichos como esses. Malu vai para Londres em companhia da sua melhor amiga e todos os seus sentidos são assaltados por experiências novas, às quais ela simplesmente deseja sobreviver e se adequar. Na segunda fase, Malu mata a sua "Maria de Lourdes" e acredita, com a sabedoria dos que estão começando a viver mas acham que já sabem tudo da vida, que o mundo é um gigantesco brinquedo e existe para lhe dar prazer. E é na terceira fase que ela vai arcar com as consequências das suas descobertas.
Canções da Minha Vida é, sobretudo, uma história de crescimento, próxima do que tantas adolescentes vivem, e ao mesmo tempo única, pois cada menina tem sua singularidade. É uma história de amizade, desafios, da descoberta do amor, da dor, e de si mesma. É também um retrato de uma época, que tanto serve para quem viveu a década de 80, como para quem passou ou passa pelos riscos e delícias da juventude.
Vocês que viram as leituras de setembro puderam perceber o quanto meu mês foi fraco de quantidade de livros lidos. Isso teve muito das problemáticas aqui da minha vida, mas também houve bastante de um bloqueio de leitura. Um bloqueio que foi sanado com Canções da minha vida, que foi uma indicação maravilhosa da linda Ludmila Públio.
Canções vai falar sobre a vida de Malu, uma adolescente que cresceu à sombra de uma mãe bem controladora, e que vai passar algum tempo morando com a tia em Londres, na intenção de ampliar seus conhecimentos em inglês. Uma amiga a acompanha, e o que para ela é realmente apenas uma viagem de estudo, para a tia e a amiga passa a ser um processo de renovação da própria Malu, que é retraída ao extremo.
Eu digo que Canções é um livro que se divide em três partes. A primeira, onde o livro nos é apresentado, fala de uma Malu mais velha, numa situação tensa e emocionalmente perturbada da sua vida, ou pelo menos deveria ser. A segunda parte é essa viagem dela para Londres e o começo de uma vida liberta para a garota. E a terceira parte é pesada. É tão pesada que fiquei me perguntando como foi feito o processo de criação e crescimento dessa personagem pela autora.
Eu gosto de livros densos. Sempre digo isso por aqui e vocês podem perceber pelo meu amor nas resenhas de alguns deles. E quando peguei Canções, foi a narrativa poética e bela de Mariana que me chamou a atenção. Traz aquele sentimento confuso de leveza e complicação em apenas uma frase. Me encantei de cara pelo modo de escrever da autora.
E então vamos para uma parte mais "teen" da personagem. Apesar da narrativa continuar deliciosa, tive medo de me desapegar da trama por conta dos problemas adolescentes de Malu. Mas ai também tem a genialidade da escrita que nos prende inclusive nessa segunda parte do livro, onde de fato a problemática maior da garota era o medo de visitas da mãe e se ela agradaria alguém em um determinado grupo. E vou ser sincera e dizer que isso não me irritou, gente. Eu estava tão louca para saber o que iria acontecer com Malu, que na verdade passei por essa segunda parte percebendo só a liberdade que ia se encaixando nela aos poucos.
Mas como nem tudo são flores, essa sensação de poder da liberdade não foi aproveitada com eficiência pela personagem. Acredito que por Malu ter crescido numa vida tão cheia de regras severas, ela não tenha sido preparada para uma vida com escolhas, e daí isso acaba gerando um desconforto extremo quando as coisas desandam na vida dela justamente por conta de escolhas.
E mais uma vez eu bato palmas para o tato com o qual Mariana leva a situação pesada da personagem. Não ficou parecendo forçado o que acontece com Malu, muito pelo contrário. É tão ritmado que você na verdade não percebe que a autora está te levando para isso até que ela te joga diretamente na merda. E então já é tarde, você sabe que Malu está ferrada e você, como leitor, come as páginas finais para saber como aquilo vai ser resolvido.
Malu é uma protagonista apática de início. Não dá para se apegar a ela num primeiro momento. Isso meio que muda quando ela vai descobrindo a vida e as coisas que ela deveria ter feito desde o início da adolescência e não conseguiu por causa da mãe. Não vou dizer que terminei apaixonada por ela como me apaixonei pelos coadjuvantes, mas acredito que tem muito da ideia original da autora quanto a isso. Não sei se Malu foi criada para ser amada. Acho que ela está ali para ser entendida e em muitos casos, digerida.
Os personagens secundários são incríveis. O tipo de grupo de amigos que adoro e que me prende com facilidade. São jovens que vivem a coisa louca meio que misturada com a coisa real. Artistas em Londres. Já deu para entender, não é? Tem até um pouco de road trip na história.
Eu curti muito Canções da minha vida. Achei uma narrativa maravilhosa, num contexto pra lá de leve, e que traz seu peso com o tempo. Se tem uma coisa que fico feliz em ter visto nesse livro, é a facilidade com a qual Mariana teve de manipular os momentos tensos e mesclar com a graça de ser jovem. Você não se sente perdido com a linha de evolução, e isso é incrível em se tratando de um livro que tem três momentos distintos. E o final... caraca, de fazer cair o queixo. Algumas pessoas podem achar meio triste, mas eu achei super digno. A realidade nem sempre é bonita e justa.
Infelizmente é mais um livro maravilhoso que ainda não foi notado por editoras nacionais. Se eu fosse responsável por essas escolhas, faria uma cota justa de livros brasileiros publicados pelas editoras brasileiras. A gente sabe que o que vem lá de fora vende mais, contudo acredito que isso é uma questão de costume. Quantas porcarias vem lá de fora e quantos livros bons daqui se perdem por falta de oportunidade? Será que se mais livros nacionais fossem publicados e trabalhados com publicidade, mais pessoas não os leriam? É um assunto complicado e que dá muito pano para manga.
Estou fazendo minha parte vindo indicar esse livro incrível, e que você pode comprar pela Amazon já completo, ou acompanhar os lançamentos dos capítulos pelo Wattpad. Fico muito feliz de ter tido a oportunidade de acesso a essa história. E mais uma vez, parabéns para a autora.