Resenha de "O Desafio de Ferro" (Cassandra Clare e Holly Black)


"Rápido e divertido"


Sinopse: AMIGOS E INIMIGOS. PERIGO E MAGIA. MORTE E VIDA. A maioria dos garotos faria qualquer coisa para passar no Desafio de Ferro. Callum Hunt não é um deles. Ele quer falhar. Se for aprovado no Desafio de Ferro e admitido no Magisterium, ele tem certeza de que isso só irá lhe trazer coisas ruins. Assim, ele se esforça ao máximo para fazer o seu pior... mas falha em seu plano de falhar. Agora, o Magisterium espera por ele, um lugar ao mesmo tempo incrível e sinistro, com laços sombrios que unem o passado de Call e um caminho tortuoso até o seu futuro. Magisterium - O Desafio de Ferro nasceu da extraordinária imaginação das autoras best-seller Holly Black e Cassandra Clare. Um mergulho alucinante em um universo mágico e inexplorado.

O Desafio de Ferro foi a super aposta da Novo Conceito esse mês. E se levarmos em consideração que ele está vindo pelo selo infantil, então eu bato palmas para eles. A propaganda em cima do livro é intensa, principalmente por conta das autoras. Em várias cidades do país aconteceram eventos de promoção desse livro, e eu que pude participar da organização em Maceió, digo que eles realmente estão investindo nessa nova série. Sim, é uma série. 

O começo da história é no passado. Um cara voltando para uma espécie de aldeia e encontrando tudo destruido, inclusive boa parte da sua família, que foram mortos. O único sobrevivente era só um bebê, que por força divina, também era seu filho, Call. 

Desse momento tenso a história pula para o presente, com Call se preparando para ir fazer uma prova chamada O Desafio de Ferro. Não é apenas por ele ser filho de um mago que foi convocado para esse teste. Na verdade outras tantas crianças que não tem parentescos nenhum com a magia também são chamadas para fazer. 

O problema é que o pai de Call não quer que ele passe nessa prova. De algum modo, acha que o que aconteceu com toda a aldeia tantos anos atrás, pode voltar a acontecer com o filho lá, ou por causa do filho lá, já que desde o início sabemos que existe algo grande em Call, e que o pai tenta a todo custo camuflar. 

E então eles vão e mesmo sem querer - porque Call realmente é um desastre - o garoto passa nesse desafio e é selecionado pelo maior mestre do lugar para ser seu aprendiz, junto com outros dois jovens: Aaron e Tamara. 

A partir daí é uma miscelânea de acontecimentos tensos dentro dessa escola de magia. Garotos que se odeiam, paixonites agudas, amizades que surgem com rapidez, monstros e muita, muita magia. 

Se eu for separar de fato todos os pontos negativos que encontrei nessa história, ela perderia um bocado de notas no meu ver. Mas daí seria a Carol adulta e leitora de dramas e livros fantásticos complexos julgando, não a menina que começou a ler Harry Potter tantos anos atrás, porque acredito de fato que se fosse pegar A Pedra Filosofal para ler hoje em dia, não acharia essas maravilhas todas. Então me foquei em pensar que estava lendo um livro para crianças, e daí a coisa teve que ser mais leve, e meus pontos negativos foram um pouco mais camuflados.

Então essa é a primeira dica desse livro: Ele se assemelha estupidamente a estrutura fantasiosa de HP. Três amigos, mago mestre, menino prodígio e ferrado no meio, escola de magos, um garoto atrapalhado, um malvado sem causa, heroísmo juvenil, voz de discurso narrativo... Ou seja, se você leu Harry Potter vai se pegar pensando em muitos momentos na semelhança estrutural de ambas as obras. Não estou comparando os livros, heim!  não quero apanhar - Só a estrutura de enredo delas. 

Eu curto os acontecimentos desse livro. Eles são lógicos e não me peguei sentindo dificuldade com a coesão e coerência da narrativa. Ela de fato funciona para garotos. O livro é rápido de ler e os momentos de ação são deliciosos. Era fácil imaginar as coisas acontecendo com os personagens, ainda que elas parecessem surreais, e que vez ou outra você sinta vontade de socar a maioria deles. 

Uma narrativa em terceira pessoa que sempre vai seguir Call, o garoto que não queria estar na escola de tanto medo que seu pai colocou na sua cabeça, e que carrega uma característica física que me deixou apaixonada. Ele tem um problema sério na perna. Passou por várias cirurgias e tem dificuldade de fazer qualquer coisa em que precise usá-la. Acho isso incrível em um herói! Torna ele humano e real, e Call realmente é assim. Além de que se imagina que ele vá ser o grande "tcham" do livro, e nem é. É mais um menino à sombra de outros maiores, e quando falo maiores me refiro a grandeza de poder. 

Apesar de ter amado essas características diferenciadas em Call, nenhum personagem dessa história me envolveu por completo. Os achei um tanto rasos, e forçados em alguns momentos. Principalmente quando o lance era a construção de amizade entre Call, Aaron e Tamara. Ela foi ligeira e pouco convincente para mim. Não senti a amizade correr entre eles, mesmo que as autoras tentem forçar isso.  Contudo acredito que isso é um traço que será melhorado nos próximos volumes. 

E ai vem mais um problema, ou não. A série tem cinco livros ao todo, e serão publicados pela NC anualmente. A estrutura me indica que cada livro será um ano de escola dos meninos. Com isso em mente, me pergunto se a densidade da história não vai aumentar com o crescimento dos garotos, e se isso não seria um fator forte para a série Magisterium não ser lançada pelo selo #irado. 

Se levarmos em conta outros livros com essa linha de enredo, como o próprio HP, veremos que a partir do quarto livro a história deixa de ser infantil e entra num mundo mais jovem, terminando em algo tão emocionalmente cheio de nuances que não vejo como crianças entenderiam a profundidade do que Rowling quis passar ali. E acredito que é isso o que acontecerá com Magisterium também. O primeiro livro já termina com uma deixa perigosa e que promete mortes futuras. Foi uma das características que mais gostei nele. O final não é nada previsível, e era algo que eu vinha me questionando o livro inteiro, e realmente fui pega de surpresa. Achei muito bacana e estou bem ansiosa para ver como as autoras vão seguir com a problemática que elas jogaram, mas acredito que as escolhas dos personagens é que farão diferença no final das contas. 

Outra coisa que me incomodou foi não saber onde começava Cassandra e terminava Holly. Na verdade eu procurei Cassandra a todo momento, já que só conheço os livros dela. Não a enxerguei além da ideia, e não sei como esse livro foi escrito por quatro mãos. Quando é um livro que tem personagens diferenciados, pensamos que cada um pode ser narrado por um autor, e daí fica um pouco mais fácil. Contudo no caso desse livro não existe um limite racional de divisão, e eu não sei dizer onde enxergar as autoras separadamente. E isso pode ser um ponto positivo para algumas pessoas, mas a mim incomodou. 

Fechando a ideia, acredito que crianças e até adolescentes curtirão muito a história. Eu de fato gostei dela. Terminei de ler em quatro dias, e ele é bem grossinho. A narrativa é envolvente e os mistérios parecem não ter fim. Dou pontos pelas aulas de magia, que são ótimas, mas pouco exploradas, e tiro pontos pela falta de entrosamento dos personagens, ainda que eles separados pareçam tão densos e cheios de outros tantos mistérios. 

Se vocês curtem esse tipo de livro e estão dispostos a enfrentar uma série, então comecem sim. Eu gostei e estou ansiosa pelo próximo volume.