Resenha de "Fúria Vermelha" (Pierce Brown)





Sinopse: Fúria Vermelha é o primeiro volume da trilogia Fúria Vermelha, e revive o romance de ficção científica que critica com inteligência a sociedade atual. Em um futuro não tão distante, o homem já colonizou Marte e vive no planeta em uma sociedade definida por castas. Darrow é um dos jovens que vivem na base dessa pirâmide social, escavando túneis subterrâneos a mando do governo, sem ver a luz do sol. Até o dia que percebe que o mundo em que vive é uma mentira, e decide desvendar o que há por trás daquele sistema opressor. Tomado pela vingança e com a ajuda de rebeldes, Darrow vai para a superfície e se infiltra para descobrir a verdade. 'Fúria Vermelha' será adaptado para o cinema por Marc Forster, diretor de Guerra mundial Z.

Para quem não me conhece, sou o tipo de fanática que sai procurando distopias pelos lançamentos das editoras para poder ler. Não é sempre que me empolgo com uma sinopse, a maioria acho comum e não chama minha atenção. Mas na primeira vez em que bati os olhos em Fúria Vermelha, eu soube. Era ele! 

Daí comecei uma busca cansativa para achar o livro num preço que coubesse no meu bolso, mas dei azar em relação a isso. Beirando o cinquentinha o físico, e mais de trinta o digital. Final de ano, mãe solteira e livros de cinquenta reais? Não cabem na mesma frase. Então o Papai Noel chegou mais cedo aqui em casa, e abençoou a cabeça da editora e da Amazon quando disponibilizou o e-book por 19 reais. Ainda era caro, mas minha vontade de ler era demais. Comprei e não me arrependi nem por um milésimo de segundo, ainda que agora eu necessite do livro físico na estante. 

A trama gira em torno de Darrow, um menino de dezesseis anos que mora em uma espécie de colônia em Marte. De acordo com o que ele sabe da sociedade, esse lugar vai garantir o futuro da humanidade. Eles trabalham retirando hélio do subsolo do planeta para fazer dele o novo lar para os ex habitantes da Terra. Vivem em cavernas com um sistema bem ordenado de trabalho. Nesse sistema Darrow já é considerado um adulto, e percebemos nisso que a expectativa de vida de um extrator é curta. Ele tem uma esposa, e é o melhor Mergulhador do Inferno do lugar, que é como chamam o cara que opera as máquinas que extraem o hélio. 

Uma coisa importante aqui é que a sociedade é dividida em cores, sendo cada uma voltada para um determinado tipo de trabalho. Mas o ideal é saber que os Vermelhos são a classe mais baixa, e os Ouros as altas. É um sistema que parece muito com as castas indianas. Tipo, se você nasce Vermelho, você morre Vermelho. Sem ascensão ou nada assim. Mas para eles isso estava tudo certo, contato que houvesse música para dançar e comida em suas barrigas. Darrow é feliz da maneira Vermelha dele, mesmo que algumas pessoas ao seu redor digam o quanto é linear demais esse tipo de vida

Acontece uma determinada situação dentro da história que faz com que Darrow se alie aos rebeldes, numa tentativa de se infiltrar na classe dos Ouros. De acordo com os rebeldes, se destrói o inimigo de dentro para fora primeiro. E a incumbência disso cabe a Darrow. 

Gente, talvez isso seja o máximo que posso dizer a vocês sem estragar a maravilha que é esse livro. O início é puramente de ambientação na sociedade dos Vermelhos. Como vivem, como comem, como se comportam e como amam uns aos outros. Também é nesse início que vemos que mesmo nas classes mais baixas, há uma predileção por um determinado grupo, ou pessoa. É nesse começo que a simples vida de Darrow começa a incomodar o leitor. Ele não é curioso, uma característica marcante em quase todos os personagens distópicos, mas ele é incrivelmente fiel a uma ideia, e determinado até a alma. 

Numa segunda parte da história, vamos acompanhar como é mudança de Darrow de Vermelho para Ouro. É uma parte cansativa do livro, mas muito importante porque é nela que aprendemos os detalhes dessa nova fase do garoto, e como os Ouros se comportam na civilização. 

A bagaceira fica grande quando chega a terceira parte, e quando Darrow passa na prova para entrar no Instituto. Uma espécie de escola preparatória para os grandes cargos do governo, que é função de Ouros. Outra coisa primordial? Os Ouros podem tudo

É nessa última fase que a selvageria da história começa, e que Darrow cresce absurdamente como personagem. Não me lembro da última vez em que vi alguém crescer tanto em poucas páginas, como aconteceu com esse menino. Menino não, que isso Darrow nunca foi. Mas daí ele se torna um adulto que enxerga o que pode fazer pelos outros, e como isso reflete nele mesmo. 

Lendo Fúria Vermelha eu tive vários espasmos de felicidade. Dava gritinhos alegres e uivava como se eu mesma fizesse parte do "exército" de Darrow. Sério, gente, abria a boca e ria feito louca quando o autor colocava algo que me deixava de queixo caído. As surpresas eram muitas, e o desenvolvimento era fantástico e bem planejado. Sabe do que lembrei? Dessas cenas de filme que sempre nos fazem gritar no cinema e nos deixam arrepiados. Só que com Fúria Vermelha não era apenas uma cena. Eram quase todas. 

A força desses meninos e meninas era algo invejável. Nunca vi um grupo de batalha tão brutal e ao mesmo tempo leal como esse que acompanhava Darrow. Claro que temos as verduras podres no meio, mas mesmo elas eram sensacionais em cena e nas batalhas. O realismo com o qual uma orelha era cortada, ou uma curviLâmina era usada, chegava a me da náuseas. Ainda assim eu não conseguia parar de ler porque o pervertido do autor sempre me prendia com mais. Juro que terminei esse livro me sentindo ousada, forte... invencível. E acima disso, querendo beijar Pierce por me presentear com uma dádiva dessas. 

Um jogo, como Age of Empires, virou uma guerra sangrante e estratégica de jovens se sobrepondo pelo poder. Sim, porque isso não era só uma questão de sobrevivência. Os Ouros não lutam por coisas simples como comida. Eles são demônios galopando em busca de status, e Darrow não fica diferente quando lhe dão a força, a estatura, os cabelos e olhos dourados e faiscantes da classe dominante. 

Não posso dizer que ele esquece sua origem e seu trabalho com aquilo tudo, mas certamente se envolve com a lealdade das pessoas em seu grupo, e passa a analisar que existem fracos e fortes, mesmo entre os mais fortes. Aliás, meu personagem predileto desse livro depois de Darrow é Servos, um baixinho super inteligente que me banhava com sua astúcia o tempo inteiro. Ele era feio, pequeno, mas provavelmente o mais esperto de todos eles. Na verdade esse livro tem o melhor grupo de personagens reunidos numa mesma história, superando até mesmo o elenco fantástico de Maze Runner. Conheceu Thomas e se apaixonou pela impulsividade dele? Conheça Darrow e ame sua elegância com lutas coreografadas e brutais. Eu sentia o cheiro de suor, sangue e terra que emanava de cada cena de batalha, e esse detalhe sensorial é um feito e tanto em se tratando de um livro que mescla elementos inicialmente tão inocentes, e que nos banha com um jogo de poder perigoso e cruel, e ainda assim, altamente idealista. 

Comecei odiando os Ouros, terminei pensando neles como pessoas fortes e incríveis, mesmo os que cometiam maldade apenas por maldade. Penso que o mal dessa sociedade seja uma cegueira imposta para os de classe mais baixa, e esquecida pelas classes altas. O que a gente não vê, não sente. Não vi falta de humanidade nos Ouros, vi prepotência. Mas se eles cresceram aprendendo a ser assim, como diabos eles seriam diferentes? Até Darrow na sua jornada comenta que os Ouros de fato nasceram para governar, mas ele é o maior exemplo de que soberanos vem de qualquer lugar. 

Esse livro mexeu absurdamente comigo. Estou radiante, feliz, exausta e muito orgulhosa de Darrow em Fúria Vermelha. Ele cresce por conta da dor, e se mostra um perfeito filha da p%&* maravilhoso como general por causa dela. Eu xinguei o cara do começo ao fim do livro, de tanto que o amei. Se você terminou de ler Fúria Vermelha e não está se sentindo um lobo incendiário, então esse estilo de livro certamente não é para você. 

Não prometo cenas bonitas, mas prometo verdade, disciplina e uma coragem voraz de meninos que eram apenas meninos, mas que se tornaram homens nas mãos uns dos outros. Não é um livro lindo, mas é o livro que vai te colocar no chão de desespero, e depois de alegria. Que vai te fazer - de fato - uivar, e rir como um louco. 

Quer mais? O melhor personagem do ano, a melhor ideia do ano, o melhor livro do ano.