Resenha de "Mundo Novo" (Chris Weitz)



"Delicioso"


Sinopse: Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado… e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.

 Eis a melhor distopia que li no ano, e vocês bem sabem que isso não é pouco para mim, que sou uma maluca por livros distópicos. Algumas particularidades de Mundo Novo fizeram com que ele subisse todos os pontos possíveis no meu ver, e ainda que não tenha muito da filosofia empregada nos melhores distópicos que li na vida, existe uma frenesi pela busca de sobrevivência, mesclando o real com coisas bizarras, e que me deixou completamente apaixonada pelo livro. 

A história aqui gira em torno de um vírus que matou todas as pessoas acima de dezoito anos, e abaixo de doze. Num país onde só os adolescentes sobreviveram, eles tiveram que aprender a continuar sozinhos, e pegar responsabilidades que talvez não quisessem. É desse forma que conhecemos Jeff e Wash. Irmãos que criaram uma espécie de tribo em um espaço reservado de New York. Wash está prestes a fazer dezoito anos, a idade limite de sobrevivência, e por isso ensina Jeff como continuar comandando a tribo sem ele. 

O inevitável acontece, Wash se vai, e Jeff fica sozinho para dar conta da alimentação para sua tribo, que a cada dia é mais escassa, e os possíveis predadores - naturais e não naturais - que agora passeiam livremente pela cidade. Quando Gênio, o garoto responsável pela parte tecnológica da tribo, aparece com uma ideia para uma possível cura da Doença, Jeff acaba dando atenção a ele. Afinal, uma hora ou outra todos iriam crescer e morrer, e pensar no futuro vira crucial dentro da comunidade. 

A ideia se concentra em ir até os laboratórios onde a Doença era estudada, e colher informações. Para isso Jeff leva além de Gênio, Donna - sua amiga de infância e paixão adolescente; Peter, o melhor amigo de Donna, que também é gay; e Minifu, uma baixinha invocada que é especialista em artes marciais. 

Parecia algo simples, cruzar a cidade até chegar no laboratório. Mas acredite quando eu digo que não existe absolutamente NADA de simples nessa história. A não ser, talvez, o jeito fantástico e perfeito que os protagonistas narram até as histórias mais bobas. Sim, o autor teve uma familiaridade impressionante com o linguajar jovem. Como vemos os pontos de vista de Donna e Jeff, temos versões de garotos e garotas, o que torna mais incrível ainda, mesmo que Donna não seja o exemplo de delicadeza. 

Então o primeiro ponto positivo é de fato a narrativa do autor. Ele te insere com facilidade no cotidiano desses jovens num mundo destruído e com regras novas e nem sempre melhores do que as que existiam antes do fim do mundo, Aquilo não é fácil para nenhum deles, e cada um tem seu motivo para odiar a vida, mas continuam lutando, no sentido literal da palavra porque eles são guerreiros incríveis. Desses que não tem problema algum em fazer o que é necessário quando a situação pede. 

O pessoal diz que pelo estilo de narrativa, e até pelo enredo, esse livro se assemelha muito ao Cidade da Meia-Noite. Não concordo quanto a narrativa. Acho o escritor de Cidade da Meia-Noite muito mais evasivo e impessoal do que o Chris. As distopias escritas por homens tendem a ter esse diferencial quanto ao emocional, por exemplo, mas não acontece com Mundo Novo de um jeito que te distancie o suficiente para que não sofra por cada morte, ou cada escolha. Na verdade, Chris tem um potencial sensacional de te inserir na vida de seus personagens com frases leves, adolescentes, e ainda assim muito maduras. 

E sobre o enredo, talvez se assemelhe um pouco sim, mas em Cidade o negócio tem muito do irreal, como aliens e tal. Além de que a explicação para a morte das pessoas lá não existe, por enquanto. Aqui temos essa explicação e ela pareceu muito plausível para mim. 

O que mais gostei no livro, além da escrita do autor, foi ele ter subdividido New York em partes, e cada parte dessas é comandada por uma espécie de tribo, ou como eu costumo chamar, de gangue. 
Saca esses filmes americanos quando vemos uma divisão racial nas escolas com brancos, negros, porto riquenhos e ricos? É basicamente isso, só que com adolescentes. Meio que deixa a ideia de que ainda que não tenham adultos, os jovens absorveram demais deles para conseguir fazer um mundo novo completamente diferente. Na verdade o nome do livro é uma ironia, porque o mundo aqui não mudou. Ainda existem pessoas querendo mandar em outras e divisões de classes que são brutais. A diferença é que não existe quem controle a situação, e então vira uma barbárie com adolescentes de armas na mão. E olha, eles são muito bons nisso! 

Apesar de não ter curtido a capa nacional, eu gostei de poder procurar os personagens nela. Alguns são visíveis, como Jeff, Donna e Minifu. E outros eu ainda estou procurando para entender. De fato o desenhista fez um trabalho poderoso em retratar cada um deles com as características usadas pelo autor. 

Querem mais um forte motivo para ler Mundo Novo? É uma distopia escrita por um homem, logo não tem o "mimimi" que algumas costumam ter. A situação aqui não é voltada para um romance, como a sinopse faz parecer, E quando acontece algumas situações desse tipo, elas são muito mais animais do que românticas. Entendem do que estou falando? Pois é

Comentei em vídeo que Mundo Novo tem um final de arrancar cabelos. Parece muito com o final de um dos Resident Evil, que não sei qual é porque existem muitos e eu não sou exatamente fã. E não, não estou falando de zumbis e coisas do tipo. Só uma sensação de os personagens ali estavam cegos diante de uma coisa maior. Como se tivessem sido cobaias, entende? 

Eu AMEI, gente! É uma distopia cheia de ação e bem despretensiosa. Vem com uma proposta e levanta questões importantes, como o fato do Jeff acreditar que existe um lado bom nesse "fim do mundo". Que essa pode ser uma oportunidade de recomeçar e fazer dar certo, quando até ele sabe que as divisões que fizeram para sobreviver já é a velha coisa se repetindo, só que muito mais cruel. 

Se recomendo? Fala sério! Vai ler!!!!

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