Resenha de "Mate-me quando quiser" (Anita Deak)




Sinopse: Decidindo que sua vida deveria chegar ao fim, mas sem coragem de cometer suicídio, uma mulher contrata Soares, um matador de aluguel. Resolve que sua morte acontecerá na bela cidade de Barcelona, e para isso envia ao seu futuro algoz a passagem de avião e o endereço de onde ficará na Espanha. Ele deverá matá-la no prazo de quatro meses, quando for mais conveniente. Junto com o pagamento, manda também uma foto sua, para que ele saiba quem ela é. Mas ela não quer saber como é a aparência de seu matador. O destino, porém, nem sempre cumpre à risca os planos que costumamos traçar para ele.





Um livro que me chamou atenção a princípio por conta da sinopse. Gostei muito de como ele se apresentou quanto a diagramação, e de como a autora vem com a proposta bacana dela, de uma forma singular e curiosa. 

Não tenho como falar um resumo dele que seja maior do que tem escrito ai em cima. Realmente é a história de uma mulher que quer se matar e não tem coragem para fazer isso sozinha, e então contrata um matador de aluguel para fazer o serviço enquanto ela está de férias em Barcelona. Ela não sabe nada dele além do nome, email e do número da conta bancária. O suficiente para enviar o dinheiro do serviço, uma foto dela e tudo o que ele precisa saber para matá-la. 

Apesar de parecer ter esse clima sombrio por conta da morte, o livro tem uma pegada super leve. Começa com ela sentada em um café, observando um certo homem à distância. E esse minúsculo fato vai mudar não só sua vida, como a vida do homem, sua família e a do matador, que sabemos se chamar Soares. Aliás, essa é uma das particularidades do livro... apenas Soares tem um nome próprio. Todos os outros personagens são chamados de "O homem"; "A mulher"; "A loira"; "A morena". São sempre adjetivados, e provavelmente como um recurso narrativo da autora para nos referenciar bem quem eles são dentro da história, e para generalizar os esteriótipos sociais. 

O livro não foca a vida dessa mulher em específico, mas de toda a teia maluca de outros personagens que são ligados a ela direta ou indiretamente. É como se o negócio começasse com linhas retas e paralelas e daí se voltassem umas contra as outras, provocando uma inundação de informação ao ponto de nos fazer rir. Sim, esse livro me fez rir um bocado, exatamente por causa da bagunça que se instala nas relações sociais ai dentro, e até quando não há relação social alguma quando deveria ter. 

Pode ser um livro que incomode alguns leitores, e de fato entendo. O final dele é meio duvidoso, e é possível que cause raiva em muita gente. Até eu, que sou super otimista, fiquei meio chateada com ele. Mas eu entendi a proposta da autora. Na verdade ela não escreveu para agradar e acho que não queria um final bonitinho e quadrado. Desde o início ela tinha uma ideia corajosa e colocou gás no enredo maluco durante o livro, e finalizou da forma como achava que condizia com tudo até então. E como eu me senti meio perdida em muitos momentos, principalmente perto do fim, me peguei pensando numa forma dela finalizar aquilo com algo plausível de acordo com a linha da literatura padrão. Mas ela não o fez, e mesmo que eu tenha ficado meio chateada com algumas coisas, vi lógica no contexto geral de tudo. 

Os protagonistas são peculiares. A definição deles vem de acordo com quem eles são dentro da teia maluca que Deak criou. Isso é interessante porque causa um distanciamento na história, que vezes segue O Homem, vezes A Mulher, vezes Soares... Eu gostei de ter visto tudo por cima. Outro ponto para a desenvoltura da autora. 

Também achei a escrita dela uma delícia. Carregada de tiradas inteligentes, e com um texto conciso, foi bem fácil me sentir ligada a narrativa. Veja bem, não me liguei nos personagens, mas a narrativa é ótima. 

Então assim, é um livro perigoso no sentido de que você pode odiá-lo, mas eu curti muito. Bem mais pela ideia e por tudo o que ela constrói desde o início, do que pelo final. Acho que deixei o final de lado depois de tudo, mesmo que desde o princípio esperássemos por ele.