Resenha de "Enquanto a chuva caia" (Christine M.)

"Show de citações lindas"

Sinopse: Erik não procura mais a garota dos seus sonhos. Vive em busca de adrenalina e de uma razão para continuar cumprindo tarefas obscuras. Ele sabe que é muito bom no que faz e não vê nada que possa ser melhor do que os seus dias repletos de perigo. O que Erik não esperava é que sua paixão por correr riscos seria a sua ruína. Ameaçado, ele precisa fugir para o exterior e viver disfarçado de cidadão comum, trabalhando como advogado em uma grande empresa. Marina comanda o império da família depois de seu pai ter sucumbido ao mal de Alzheimer. Precisa suportar ver os pais tombarem diante da ação implacável do tempo, enquanto ainda carrega a ferida provocada pela morte do jovem marido. Com o comando das empresas nas mãos, ela percebe que nem todas as atividades da corporação obedecem aos manuais de boa conduta. Quando ambos se encontram, presente e passado se misturam, dando início a um mistério arrebatador que os atrai a uma paixão incontrolável. No entanto, os segredos, cedo ou tarde, virão à tona e os colocarão em lados opostos da balança. Nenhum dos dois é inocente, mas será que eles aceitarão as verdades que tanto se empenham em esconder? É possível construir um futuro mesmo depois de descobrir que nesta história não há mocinha nem herói? 

Não esperava. Definitivamente não esperava que fosse gostar tanto desse livro. E talvez não pela história em si, mas pela construção de escrita da autora, como os personagens pra lá de reais e maravilhosos. Terminei me sentindo extasiada por ter sido um livro que mexeu comigo em alguns aspectos interessantes e que ainda assim não tivesse me deixado chocada, porque raramente eu me choco com alguma coisa em termos literários. 

Ok, temos dois pontos de vista nessa história. Conhecemos as coisas tanto pelos olhos de Erik, como de Marina. Ele é um advogado de formação, mas que trabalha por fora resolvendo alguns "probleminhas" para a polícia aqui no Brasil. Em resumo, ele faz o trabalho sujo que um policial não deveria fazer. E melhor - ou pior - o cara adora o que faz! Já Marina é filha de um casal de poderosos no ramo de negócios nos EUA. Ela herda a empresa quando o pai adoece e a mãe se afasta para cuidar dele. Perdeu o marido há algum tempo, mas jamais se sentiu realmente curada disso. 

Acontece que Erik se envolve em problemas no Brasil e é enviado num emprego de mentira nos EUA até que as coisas se acalmem aqui. E onde o advogado vai trabalhar? Claro que na empresa de Marina! E logicamente que eles se encontram. E não, não estou falando de livros eróticos nem nada assim. Até achei que fosse essa vibe de início, e graças a Deus que comprovei estar errada sobre isso. Redondamente errada. 

O que posso dizer para vocês logo de cara é que a autora é um pequeno gênio nas tiradas dela, na construção dos dois personagens e nas subtramas dentro das tramas principais. Não é o tipo de livro que você vá encontrar ação do começo ao fim, mas certamente não morrerá de tédio com ele, porque quando a gente pensa que as coisas estão caminhando para se acalmar, eis que a autora joga uma novidade bacana que te leva a ficar louco por uma resolução. 

Por ser algo que tem muita reflexão dos protagonistas, as vezes a gente pode achar que as coisas não estão caminhando na história numa velocidade que acompanhe sua vida. Eu penso que não é um livro que deva ser lido se você não está num momento para ele. Comecei uma primeira vez e estava tão preocupada com outras coisas que o livro não funcionou para mim. Já da segunda eu estava  calma, e ele fluiu com naturalidade. É fácil se apegar a ele quando a gente está disposto a entende-lo. 

Pontos positivos? Vários! A começar por Erick, que entrou fácil na minha lista de melhores personagens masculinos de 2014. Ele é incrível até nos aspectos terríveis e perigosos de sua personalidade. Não posso esconder que acho bacana personagens como Erick porque eu realmente acho. Tem algo de biológico em mulheres que gostam de caras que tenham peito para fazer algumas coisas que ele faz. Adorei! Sobre Marina eu gostei bastante de como a autora trabalha o relacionamento dela com os pais, e com um certo túmulo no cemitério. Muito sensível e muito real. Existe até uma reflexão da própria personagem que diz que as coisas boas da vida dela não acontecem em dias ensolarados, mas quando a chuva está caindo. Acho que por isso o livro tem esse título, e que o final é tão absurdamente lindo quanto ele. 

Uma mistura de romance com um tantinho de policial. Essa é a pegada do livro que me deixou muito orgulhosa de ter vindo de uma autora nacional e que eu nem conhecia. A poesia da Christine é leve e chega até você como se fosse um sopro delicado na nuca. Apaixonada pela narrativa da danada!