Resenha de "O Jogo do Anjo" (Carlos Ruiz Zafon)

"Zafón é Zafón. Sem mais"

Sinopse: Aos 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e gravemente doente, o escritor David vive sozinho num casarão em ruínas. É quando surge em sua vida Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem exata é um mistério, mas sua fala é suave e sedutora. Ele promete a David muito dinheiro e sua simples aparição parece devolver a saúde ao escritor. Contudo, o que ele pede em troca não é pouco. E o preço real dessa encomenda é o que David precisará descobrir. Em O Jogo do Anjo, o catalão Carlos Ruiz Zafón explora novamente a Barcelona do início do século XX, cenário de seu grande êxito internacional A Sombra do Vento, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares em todo o mundo. Lançado este ano na Espanha, O Jogo do Anjo já ultrapassou a marca de um milhão de exemplares vendidos.

A primeira coisa que devo dizer é que essa imagem que está exposta ai não é a do livro que tenho. Zafón aqui no Brasil sai pela Suma das Letras, e como não conheço essa editora da foto, acredito que seja portuguesa. Não achei uma foto em resolução boa com a capa da Suma, por isso usei essa. Contudo o desenho é o mesmo, e eu leria Zafón até se a capa fosse lisa e feita de papel manteiga. 
Quem acompanha o Irreparável há algum tempo sabe do meu amor por esse autor. Sabe que nunca dei menos do que cinco estrelas para nenhum dos seus livros, nem mesmo o mais fraco deles. Como o povo brinca nos meios literários, eu leria até a lista de compras do cara porque tenho certeza de que viria com algum ser macabro e sobrenatural nas entrelinhas de extrato de tomate e arroz. Ele é gênio, e por isso o simples "Zafón" deveria ser considerado um elogio. Como em... "Você está tão Zafón hoje". rsrs

Falando de O Jogo do Anjo, é necessário entender que os livros adultos do autor seguem uma espécie de ordem de leitura. E não que você não entenderá os acontecimentos se ler na ordem diferente ou se não ler algum. Mas é recomendado a leitura a partir da publicação dos livros, mesmo que a ordem cronológica seja diferente dentro deles. 

Nesse em específico acompanhamos a história de David Martin, que é como meu pai diria, um personagem puramente fudido da literatura. Sério, gente, nunca mais tinha tido tanta pena de um personagem como tive de David. Zafón botou pocando em cima do coitado. 

Um cara novo que trabalha em um jornal pequeno e que tem um talento incrível para escrever. Sabendo disso, um grande amigo o ajuda a seguir a carreira, e David se joga nessa de ser autor independente. E como todos os autores nessa situação sabem, a vida de quem tenta publicar e ganhar espaço no mercado editorial é simplesmente sufocante. Mas David é de uma abnegação formidável. Eu já teria batido em alguém. 

Eis que aparece um homem misterioso no destino do escritor. Ele propõe um acordo muito generoso, mas também bastante estranho. O misterioso cavalheiro precisa de uma história. Só uma história e David ficará livre de alguns males que são irremediáveis e com uma bolada no banco invejável. No meu ponto de vista David embarca nessa mais por curiosidade enquanto escritor - e necessidade biológica de melhorar-  do que necessariamente financeira. E não que a situação do cara seja fácil. Ele é fudido, já disse e isso basta. 

E gente, não acreditem que um livro de Zafón  possa ser tão simples como uma das sinopses dos livros dele. Em cada um eu percebo uma singularidade de personagens e enredos. E tudo bem que sempre haverá uma figura macabra entre seus livros - podendo ser macabro real ou não tão real - mas cada um é diferente, e não existe essa de se manter distante da leitura porque ela te traga por inteiro. 

Virei fã de Zafón em A Sombra do Vento, e ainda hoje Daniel Sampere protagoniza a minha lista de personagens masculinos prediletos no mundo. David não chegou a entrar nessa lista, por mais pena que eu tenha dito do cara em todas as páginas do livro. Existe algo em David que me incomoda, e não no sentido negativo. É algo da realidade dele que me toca de modo a me deixar fraca. Em resumo, foi um livro que tirou minhas forças por conta da realidade da vida de David e da completa falta de sorte do cara. 

Outro ponto bacana para quem gosta do autor, é saber que alguns personagens do passado de Daniel aparecem por aqui. É aquilo que escrevi lá em cima. Não é preciso ler a A Sombra do Vento para entender O Jogo do Anjo, mas certamente você vai se sentir intimamente ligado a ele depois da primeira experiência adulta com Zafón. 

E agora só me falta ler O Prisioneiro do céu, que já está na minha lista de leituras desse ano ainda. Com ele fecho todos os livros que já foram publicados do autor aqui. Estou orgulhosa de mim por ter me mantido fã do cara, e orgulhosa dele por ser sempre mestre em me dar medo e lágrimas de emoção. 

Ainda está para ser escrito um livro de Zafón que irá me decepcionar.